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Interiores | Detalhes que definem o todo: os símbolos de Rodrigo Cunha

Em "Porta com brinquedo de João", Rodrigo Cunha sugere toda a história de uma casa apenas por carrinhos e bonecos largados no chão

Publicado em 18/06/2020

Atualizado às 17:49 de 16/08/2022

A partir de imersões no nosso acervo de obras de arte, propomos, aqui no site e no Instagram, pequenos encontros com artistas por suas obras. A série Interiores faz parte dessas publicações e é dedicada a obras que retratem os espaços internos de suas casas, ateliês etc.

Rodrigo Cunha
Porta com brinquedo de João, 2003
acrílica sobre tela
280 x 180 cm
Acervo Banco Itaú
Imagem: Sérgio Guerini/Itaú Cultural

por Duanne Ribeiro

Mesmo se olhássemos a imagem acima sem ler o seu título, poderíamos pensar de cara: essa casa tem criança. Os bonecos, carrinhos, peças de montar, dispersos, aproveitados, deixados por aí, até a próxima vez. Lendo o nome, sabemos que são de João, menino ausente, porém capaz de configurar toda a percepção que temos do que é viver e conviver nessa residência; podemos supor que esse vazio, esse silêncio, nessa casa tão comprida, é só uma pausa.

Um elemento só – os brinquedos do João – e podemos explorar a história de um lugar. Toda casa tem os seus contadores de história – quais são os da sua?

Porta com brinquedo de João não é o único interior produzido por Rodrigo Cunha, artista que atua em Florianópolis (SC). Diversas pinturas suas são composições com uma figura humana em salas, quartos etc. Nessa compilação de imagens da Zipper Galeria exemplos – com com toques, talvez, de simbolismo e surrealismo que não há na imagem que trouxemos aqui, mas ainda com esse recurso de um componente ser como que a chave de sentido do todo.

Nesse sentido, podem estar: Interior com plantas brotando, em que toda a normalidade está perturbada pelo verde que estoura o estofado do sofá; Interior com viandas, na qual o estranho vem das peças de carne no canto da tela; ou Interior com plantas invadindo, em que o vegetal mesmo só ocupa um pequeno espaço, mas o objeto que não combina é a balança ao lado do velho. Essas composições, o espanto que causam, proliferam os sentidos possíveis.

Os vestígios da brincadeira do menino João, em comparação, são comuns, dados da rotina? Podemos pensar que Rodrigo foi nesse caso para uma figuração mais intimista. Ou podemos pensar se esses brinquedos não são símbolos e se não criam realidades também.

A crítica destaca ainda outras características na obra de Rodrigo. É uma pintura mais centrada na representação humana (vê-se isso em muitas das imagens publicadas pela Zipper; no caso de Porta com brinquedo de João, o humano não é visível, mas está presente...) e, no sentido da técnica, ressalta a historiadora da arte Paula Braga, é uma produção faz dialogar diversos momentos da história da arte, seja pelo uso do antigo recurso do óleo sobre tela – “uma das curvas que o pintor de Florianópolis faz no tempo” – seja nas figuras, que pelas suas roupas e posturas “equilibram-se entre a modernidade e a paródia pós-moderna”.

Rodrigo Cunha é graduado em pintura e em gravura pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Realizou mostras individuais e participou de exposições coletivas no Brasil e no exterior, incluindo Rumos Itaú Cultural Artes Visuais 2005-2006: Paradoxos Brasil.

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