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Sete filmes dirigidos por mulheres para ver na Itaú Cultural Play

A colunista Luísa Pécora destaca obras de diferentes estados e temáticas disponíveis na plataforma de streaming do IC

Publicado em 30/06/2021

Atualizado às 18:35 de 17/08/2022

Por Luísa Pécora

Ser uma plataforma de streaming gratuita e inteiramente dedicada ao audiovisual nacional é a proposta da Itaú Cultural Play, lançada pelo Itaú Cultural (IC) neste mês de junho – mais precisamente em 19 de junho, quando se comemora o Dia do Cinema Brasileiro.

>> Acesse itauculturalplay.com.br ou o aplicativo para mobile, faça seu cadastro gratuito e aproveite!

Quis aproveitar a coluna deste mês para falar sobre a Itaú Cultural Play porque a plataforma dialoga com o que este espaço pretende ser. Por um lado, os mais de cem títulos que compõem o catálogo sugerem que a curadoria está atenta ao debate sobre gênero e raça no audiovisual, que se fortaleceu muito nos últimos anos. Por outro, há o claro entendimento de que inclusão e diversidade também passam pela descentralização territorial. Se não há dúvida de que a cinematografia brasileira se beneficiou imensamente das políticas públicas que fomentaram a produção fora do eixo Rio-São Paulo, talvez a melhor qualidade da Itaú Cultural Play seja contemplar títulos de todas as regiões do país.

Pessoalmente, também comemorei a presença de curtas e médias-metragens, formatos ao qual o acesso é mais restrito fora dos festivais; e também a inclusão, logo na página inicial, da aba “Panorama de diretoras”, que reúne apenas filmes dirigidos por mulheres e facilita o caminho do espectador a estas produções.

Àqueles que buscam mais dicas, destaco sete filmes dirigidos por mulheres – cada um representando um estado brasileiro e uma das várias seleções temáticas criadas pela Itaú Cultural Play. Confira abaixo:

Caixa d'água: qui-lombo é esse?
Dirigido por Everlane Moraes – Sergipe, 2013

Nascida na Bahia e criada no Sergipe, Everlane Moraes é uma das vozes mais potentes do novo cinema nacional. A diretora estudou na Escola Internacional de Cinema e Televisão de Cuba (a prestigiada EICTV) e se especializou em documentários, rodando por festivais com filmes que exploram a força das imagens e as possibilidades da linguagem cinematográfica. Em Caixa d'água: qui-lombo é esse?, ela combina cultura oral e acervo fotográfico para contar a história do bairro Getúlio Vargas, que mantém elementos da vida nos quilombos mesmo estando localizado numa área urbana de Aracaju. Na Itaú Cultural Play, o curta é parte da seleção “Reexistências audiovisuais nordestinas”, com filmes de todos os estados do Nordeste.

Imagem do filme Caixa D'Agua Quilombo, de Everlane Moraes, mostra fotografias antigas e impressas de crianças.
Caixa d'água: qui-lombo é esse? (imagem: divulgação)

A classe roceira
Dirigido por Berenice Mendes – Paraná, 1985

Cineastas mulheres têm forte presença na seleção “Essa terra é a nossa terra”, dedicada a filmes que retratam a luta dos movimentos sociais brasileiros por terra e moradia. Um dos mais interessantes é o curta-metragem A classe roceira, rodado e lançado em 1985, no qual a realizadora paranaense Berenice Mendes documenta o início da mobilização de agricultores sem terra no Paraná. Embora a cópia não esteja em condições perfeitas, preservou-se a capacidade do filme de convidar à reflexão sobre a reforma agrária, bem como o senso de urgência de uma diretora que se propôs a registrar um momento histórico em andamento.

Imagem preto e branco do filme A Classe Roceira. A foto mostra um grupo de pessoas aglomerado. No centro estão algumas crianças. É possível ver duas pessoas de mão dadas criando uma corrente.
A classe roceira (imagem: divulgação)

O dia de Jerusa
Dirigido por Viviane Ferreira – São Paulo, 2013

A mostra “Cinema negro brasileiro” reúne obras que desempenharam papel-chave em um movimento de realizadores que tem impactado profundamente o audiovisual nacional. Uma destas obras é O dia de Jerusa, da cineasta baiana Viviane Ferreira, que foi presidente da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e é atual diretora-presidente da Spcine, a empresa de cinema e audiovisual de São Paulo. O curta – que depois deu origem a um longa – narra o encontro afetivo de duas gerações de mulheres negras: de um lado está Jerusa (Léa Garcia), uma senhora que vive em um sobrado no bairro paulistano do Bixiga; de outro, Silvia (Débora Marçal), jovem que busca moradores dispostos a responder uma pesquisa sobre sabão em pó.

Mulher negra está bem perto de um bolo confeitado, assoprando as velinhas. As velas indicam que ela está completando 77 anos de idade.
O dia de Jerusa (imagem: divulgação)

Filhas de lavadeiras
Dirigido por Edileuza Penha de Souza – Distrito Federal, 2019

A contribuição de Edileuza Penha de Souza ao cinema brasileiro vai além da realização: a diretora capixaba que vive em Brasília também é professora e pesquisadora, com importante atuação na formação de estudantes e de outros educadores. Neste curta-metragem documental, ela conta a história de mulheres negras que são filhas de lavadeiras e que, graças ao trabalho duro de suas mães, puderam estudar e traçar outros caminhos. O filme é inspirado na obra de Maria Helena Vargas e ganhou o prêmio de melhor curta brasileiro na edição de 2020 do festival É Tudo Verdade. Na Itaú Cultural Play, integra a seleção “Um olhar do centro”, dedicada à produção audiovisual do Centro-Oeste.

Imagem do filme Filhas de lavadeiras. A foto mostra a escritora Conceição Evaristo, uma mulher negra, de cabelos branco e com um laço rosa na cabeça. Conceição está olhando para o lado.
Filhas de lavadeiras (imagem: divulgação)

Para ter onde ir
Dirigido por Jorane Castro – Pará, 2016

Primeiro longa-metragem de Jorane Castro, Para ter onde ir integra a seleção “O ser amazônico”, que reúne produções realizadas na região Norte. Cerca de 90% da equipe do filme, incluindo a diretora, é paraense e as paisagens vistas na tela incluem a cidade de Belém e parte da Amazônia Atlântica em Salinópolis. Não menos importante é a trilha sonora, permeada por canções locais e marcada, principalmente, pelo tecnobrega. No filme, Eva (Lorena Lobato), Melina (Ane Oliveira) e Keithylennye (Keila Gentil) são três mulheres de personalidade e trajetórias diferentes que partem em uma viagem de carro e, também, em uma jornada para dentro de si mesmas.

Imagem do filme Para Ter Onde Ir. A foto é colorida e mostra uma mulher cantando. Ela está com o microfone na mão direita e com a mão esquerda na cabeça. O restante da imagem é desfocada.
Para ter onde ir (imagem: divulgação)

A rainha Nzinga chegou
Dirigido por Júnia Torres e Isabel Casimira – Minas Gerais, 2019

A documentarista e antropóloga mineira Júnia Torres é a única mulher entre os cinco cineastas que ganharam mostras especiais na estreia da Itaú Cultural Play. É possível ver quatro filmes dela: Aqui favela, o rap representa (2003), codirigido por Rodrigo Siqueira; Nos olhos de Mariquinha (2008), codirigido por Cláudia Mesquita; O Jucá da volta (2014), codirigido por Antônio Bispo dos Santos; e A rainha Nzinga chegou (2019), codirigido por Isabel Casimira. Este documentário transita entre Brasil e Angola para registrar a origem e tradição da festa do congado, focando em três gerações de rainhas que estiveram à frente da Guarda de Moçambique e Congo Treze de Maio – uma delas, a própria Isabel Casimira.

Imagem do filme A rainha Nzinga chegou. A foto mostra uma mulher negra, com uma coroa na cabeça e os braços erguidos para o alto, durante um rito de passagem de uma nova rainha.
A rainha Nzinga chegou (imagem: divulgação)

Teko Haxy – ser imperfeita
Dirigido por Patrícia Ferreira Pará Yxapy e Sophia Pinheiro – Goiás, 2018

A produção cinematográfica indígena tem recebido maior atenção dos festivais e do público, e também ganha sua própria mostra na Itaú Cultural Play, intitulada “Um outro olhar: cineastas indígenas”. Um dos filmes selecionados é Teko Haxy – ser imperfeita, média-metragem que se constrói como um diário conjunto ou uma troca de vídeo-cartas entre duas mulheres. Uma delas é Patrícia Ferreira Pará Yxapy, realizadora audiovisual da etnia Mbyá-Guarani; a outra é Sophia Pinheiro, artista visual e antropóloga não indígena. Em registros fílmicos rodados durante três anos, elas descobrem suas semelhanças e diferenças.

Imagem do filme Teko Haxy – ser imperfeita. A foto mostra um campo com três mulheres andando ao fundo da imagem. O céu está encoberto por neblina.
Teko Haxy – ser imperfeita (imagem: divulgação)
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