Acessibilidade
Agenda

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

Aline Bispo pinta a potência dos orixás nas forças da natureza

A obra integra o projeto "Arte urbana", que convida artistas para intervirem na fachada do Itaú Cultural

Publicado em 06/06/2023

Atualizado às 03:00 de 11/05/2025

Por Importador de dados

Em ruas, galerias, livrarias e mesmo roupas, a arte de Aline Bispo se espalha e se enraíza no nosso imaginário, evocando as memórias e a cultura da população afro-brasileira. Com um estilo marcante, a artista, ilustradora e curadora integra o acervo de diversos museus e galerias brasileiras. Ela ilustrou o livro Serena finitude (2022), de Anelis Assumpção, e as capas dos livros Torto arado (2019), Salvar o fogo (2023) e Doramar ou a odisseia (2021), de Itamar Vieira Junior, além de ter lançado uma coleção de roupas com a Hering e criado grandes murais em empenas de São Paulo. Sua obra Logun: a água que acha a mata (2023) está exposta no banco da fachada aqui do prédio do Itaú Cultural (IC), na Avenida Paulista, 149, em São Paulo. Inspirando-se no encontro de Oxum e Oxóssi, a artista apresenta na obra a união que permite que a força das águas se encontre com a potência de onde toda a fartura é oriunda. As duas forças, que circulam nas histórias dos povos de terreiro, também estão presentes na história da cidade de São Paulo, que tanto insiste em esconder e cobrir seus rios.

Fotografia da artista Aline Bispo assinando seu nome no banco da fachada do Itaú Cultural. A artista tem cabelo curto, usa óculos de sol, chapéu azul e macacão preto.
Aline Bispo (imagem: André Seiti/Itaú Cultural)

Em entrevista ao site do IC, Aline fala de sua história, suas inspirações e seu processo criativo. Confira abaixo.

Como começou sua relação com a arte?

Eu achava que tinha sido na escola, mas hoje acho que tem um momento anterior, na relação de observar a minha mãe costurar. Na minha primeira infância, a minha mãe trabalhava em casa, costurando para fora, e eu ficava ao lado dela, pegando retalhos, fazendo roupa para bonecas. Eu adorava brincar de boneca, então gostava dessa coisa de mexer com tecido, de pensar em paleta.

Minha mãe tinha umas revistas da década de 1970, umas revistas grandonas, tamanho A3, mas que para mim pareciam muito maiores. Eram revistas de moda, mas que também tinham referências de design, decoração, inclusive receita de bolo. Como tinham esse referencial estético, elas me pegavam muito. Eu pensava: “Quando tiver uma casa, quero ter isto aqui”.

Sempre gostei de desenhar, de olhar minha mãe fazendo modelagem para costurar – e eu desenhando do lado. Minha mãe, às vezes, me fala que encontrou um desenho antigo meu, de vestidos. Eu queria ser estilista, estava muito inclinada para esse lugar.

Depois disso, quando tinha uns 10 ou 11 anos, lembro que vi uma revista Bravo! que chegou lá em casa não sei como. A gente morava numa casa de aluguel, nos fundos da casa dos donos, e eles tinham um quartinho em que guardavam um monte de coisas, não sei se foi lá que peguei essa revista. Eu me lembro de ver fotos de umas esculturas com figuras bem gordas do Fernando Botero e fiquei muito impressionada com o tamanho das esculturas, em posições de dança. Foi a primeira vez que vi que existia uma revista de arte.

Já na escola o ensino de artes era muito precário. Tive umas referências de Salvador Dalí, mas era tudo muito solto. Aos 13 anos, morei em uma rua em que uma vizinha me levou para fazer um passeio na Avenida Paulista, e no Itaú Cultural, em uma época em que tinha uma exposição de moedas. Hoje, tem muito mais esforço das escolas para visitar museus, ter roteiros educativos, mas eu não tive isso durante a escola. O que tinha era visita ao Sesc, Playcenter, Hopi Hari e zoológico, mais nada.

A partir daí, fui me interessando, conhecendo, fazendo amizade com outras pessoas que também se interessavam, e a gente começou a compartilhar – cada um tinha a sua sementinha. É legal que, hoje, vejo algumas coisas, principalmente da primeira Bienal que fui, em 2010 mais ou menos; quando fui estudar depois, percebi que tinha referências dos artistas que eu vi lá, e que me puxaram.

Também teve muita MTV – eu só queria ver MTV –, adoro videoclipe até hoje. Tenho muita referência imagética de lá.

Fotografia de Aline Bispo pintando o banco da fachada do Itaú Cultural. A artista está de cócoras equanto pinta uma planta na parede do banco.
Aline Bispo (imagem: Letícia Vieira/Itaú Cultural)

Antes dos convites para pintar empenas, você já tinha pintado na rua?

Sim. Em 2008, descobri uma ONG na Vila Mariana que tinha um curso de grafite. Meus amigos do bairro, Campo Limpo, Capão, todo mundo ia para a rua pintar, e eu não ia, primeiro porque eram todos meninos, e também porque eu me perguntava o que iria fazer. O pessoal falava “vem com a gente para a rua”, e eu respondia: “Fazer o quê? Como é isso? Como transfere a ideia do papel? Como isso é feito?”. Eu ficava mais na minha, desenhando em casa, tendo ideias.

Desde que comecei esse curso de grafite, em 2008, passei a ir um pouco mais para a rua pintar, ainda com alguns receios, não conseguia ir sempre sozinha. Mas foi um momento de entrada nesse contexto do grafite, vivendo de fato. Tem algo muito importante no meu caminho, na minha vida, que é uma relação da arte, que passa pela música, pela estética da roupa. Tudo que eu ouvia e consumia esteticamente até esse momento de 2008 era muito dentro da cultura pop, mas também do rock, do metal, do hardcore, do punk, que são cenas muito embranquecidas.

De 2009 até 2011, eu começo também a me entender dentro do mundo. Minha mãe é negra, meu pai é moreno, e minha família tem um dégradé muito grande (o que não é nenhuma novidade em se tratando de Brasil), mas eu não me entendia no mundo, tinha várias dúvidas. Esse lugar da transformação eu comecei a viver no grafite. E viver o grafite é viver conectada ao hip-hop. Passei a ouvir muito mais rap, que para mim, até então, era Racionais, Planet Hemp e Sabotage – porque, se você está no Capão, tem que ouvir Racionais, não tem como. Foi um momento muito intenso e conflituoso.

Ainda em 2009, comecei um curso de design de interiores da Escola Técnica Estadual (Etec). Apesar de a escola ser pública, tinha toda uma questão para eu chegar: estudava no Ipiranga e morava no Capão, e não tinha a linha amarela do metrô, era caótico. Também tinha várias questões relacionadas com o que se esperava do aluno, por eu vir de escola pública...

Em 2011, concluí esse curso da Etec e continuei a trabalhar, produzir, criar minhas coisas. Em 2012 entrei em outro curso, de comunicação visual, na Etec Maria Augusta Saraiva. Nele, tive acesso a programas mais específicos e, para pagar as contas e comprar material, decidi focar na ilustração.

Foi aí que criei a minha primeira página no Facebook e comecei a vender ilustrações.

Algo que chama muito a atenção na sua obra é o trabalho que você tem com as cores. Como se dá essa escolha no seu processo criativo?

Ela se dá naturalmente, mas sempre vem primeiro. Em um instituto em que trabalho – onde faço a curadoria –, recebo muitos rascunhos de projetos, e tem muita gente que manda o rascunho no lápis, que só trabalha com grafite, ou mesmo num trabalho digital, e não coloca cor. Eu não consigo trabalhar sem a cor, preciso visualizar aquela paleta, e ela vem do lugar mais intuitivo da minha cabeça. A partir daí, vou pesquisando e criando os desdobramentos dessa paleta. Muitas vezes é a cor do fundo, às vezes é alguém que me dá um indicativo. Nesta obra, foi a partir da palavra “jardim” – essa ideia da natureza – que pensei: “O que entra em conflito com esse cinza de São Paulo? Como me conecto com os rios e a mata?”.

Fotografia dos artistas Aline Bispo e André Hullk pintando o banco da fachada do Itaú Cultural. Os dois estão sentado no chão enquanto pintam o banco.
Aline Bispo e seu assistente, Andre Hulk (imagem: Letícia Vieira/Itaú Cultural)

Quais artistas são suas principais referências?

As referências mudam, é uma coisa que fui entendendo: elas vão se transformando. Há algumas muito importantes para mim, nas artes visuais, que são as minhas referências fixas. As outras, a gente vai transitando. Tem artista que é referência no posicionamento, outros na maneira como trabalham, ou na dinâmica de trabalho – eu tenho um catálogo na minha cabeça.

Hoje, minhas referências fixas, no campo das artes visuais, são: a Rosana Paulino, que é primordial, não tem como não falar; Dalton Paula, também uma referência superimportante para mim; Sidney Amaral, que me recebeu no ateliê dele quando eu estava nos primeiros semestres da graduação – a graduação foi, inclusive, o primeiro momento em que soube que o meu trabalho podia ir para um museu, por exemplo. Visitar o Sidney foi quando me vi como artista, porque ele me colocou nesse lugar, de me apresentar para as pessoas como tal.

Fotografia de André Hullk visto de cima. O artista está de cócoras, usando um chapéu e pintado um peixe amarelo no chão.
Andre Hulk (imagem: Letícia Vieira/Itaú Cultural)

Você não está só nos museus e nas ruas, mas também nas capas de livros de Lélia Gonzalez, Itamar Vieira Junior e Anelis Assumpção, além de ter lançado uma coleção de roupas com a Hering, ocupando espaços a que o museu e a rua não chegam. Como você lida com sua obra estando em tantos lugares?

Às vezes é exaustivo. Este é o primeiro ano que estou com assistente, por exemplo. Tenho uma galeria que me representa, e tem também a La Baraque, que é a agência que cuida dos meus trabalhos com marcas, e uma outra agência que cuida dos meus trabalhos com o mercado editorial, porque é muita coisa acontecendo.

Eu trabalho muito com hiperfoco, e não dá para fazer tudo ao mesmo tempo. É exaustivo, mas é muito prazeroso. Eu gosto muito da possibilidade de poder desdobrar. Cada vez menos tenho acreditado nessa coisa de originalidade. A gente sempre vai ter referências, sempre vai buscar, pegar uma fonte, misturar. O que tenho buscado é trazer estes elementos que estão permeando o meu imaginário, a minha poética, e desdobrar.

Às vezes, uma pessoa não pode comprar uma obra de arte numa galeria, mas pode comprar uma roupa, pode ir à Pinacoteca – onde tem uma coleção de souvenirs com uma pasta minha, caderno, agenda, camiseta, caneca –, então, ela consegue ter acesso à obra e, de repente, comprar. No ano que vem, minha galeria vai ter prints, inclusive um que seja mais acessível, mas num papel legal, que a pessoa pode ter na casa dela.

O que eu puder desdobrar, faço. Inclusive, algo que quero muito fazer é uma capa de disco, não sei como vai ser, com qual artista, mas quero muito.

Fotografia de Aline Bispo pintando o banco da fachada do Itaú Cultural. A artista está agachada enquanto pinta o chão. Ela tem cabelos curtos, usa óculos e macacão preto.
Aline Bispo (imagem: Letícia Vieira/Itaú Cultural)

Como foram os processos de criação das capas dos livros do Itamar e das ilustrações do livro da Anelis?

Foram diferentes. No caso de Torto arado, eu já tinha feito a arte. Vi uma fotografia do Giovanni Marrozzini que são duas mulheres com facão, e achei interessante. Tinha muitas pessoas compartilhando, mas sem créditos. Fui pesquisar e descobri o site do Giovanni, vi que ele tinha feito uma visita a Camarões e fotografado várias pessoas, mulheres da área rural (e, no caso das mulheres da foto, irmãs); fiquei bem encantada e decidi fazer uma ilustração, e compartilhei nas redes sociais. Quando compartilhei, a Elisa, designer responsável pelo projeto da editora Todavia, me contatou e disse que a ilustração tinha tudo a ver com o livro do Itamar Viera Junior que iriam lançar – mas eu estava correndo, tinha TCC para entregar, estava escrevendo artigo, resolvendo a performance... e só aceitei, nem li o livro, não tinha como. Geralmente, eu leio os livros antes, mas esse não consegui. Acabou rolando e virou tudo isso que a gente está vendo, que até agora está reverberando. Fico muito feliz, pois esse trabalho foi para a Alemanha, onde usaram a mesma ilustração, só mudaram o fundo. Depois disso, sempre recebo a sinopse e leio o livro antes – correndo, mas leio –, para pensar na história.

Já no livro da Anelis, todas as ilustrações foram feitas à mão, então foi um outro processo, um grande desafio – mesmo porque é um livro infantil, que eu ainda não tinha feito. Eu e a Anelis nos reunimos, conversamos, ela contou sobre a relação com a irmã, que é quem inspira toda a história. Eu já conhecia o trabalho dela e conhecia o trabalho da Serena, então foi muito interessante pensar, entender a relação com a partida, como foi o luto para a família.

Para esse projeto, eu fiz um processo de não levar cor, mas sugeri texturas. Mandei o rascunho à mão, porque se colocasse a cor não teria como desfazer; mandei a paleta, as texturas e sugestões de colagens.

E, quando isso foi resolvido, aprovado por todo mundo, comecei a trabalhar com as cores, trazer as texturas nos desenhos. É um livro todo “poemado”, outro desafio, porque não é algo literal. Tem uma parte do livro em que ela diz “morrer é dançar para sempre”, e tive que pensar como iria traduzir isso. Apesar de um desafio, foi muito interessante essa troca com a Anelis, fundamental para a gente poder desenvolver. Foi bem gostoso.

Fotografia de Aline Bispo vista de cima pintando o banco da fachada do Itaú Cultural. A artista está agachada enquanto pinta o chão. Ela tem cabelos curtos, usa óculos, macacão preto e chapéu.
Aline Bispo (imagem: Letícia Vieira/Itaú Cultural)

Sua obra tem uma evocação muito forte da negritude. Tanto da negritude pensada em relação ao negro como também em relação ao mestiço. As lutas e as tradições, as religiões de matriz africana e seus sincretismos. Como esses temas se constroem no seu processo criativo?

Teve um momento, quando comecei um processo de me entender, em 2009-2011, em que vi que várias questões, que inclusive pessoas negras retintas trazem, como a frase “eu sempre soube que era negra”, não tocam necessariamente algumas pessoas de pele mais clara, mestiças. O que me pega, e que tenho compartilhado com outras pessoas que estão nesse mesmo lugar do mestiço, é que na verdade há um limbo, um não lugar, que também tem suas dores, que também passa por situações que estão dentro de processos de opressão.

Então, para mim, tem um primeiro momento: entender o que é este corpo e o território – saio do Campo Limpo, Capão Redondo, e vou para o Centro –, e, dentro disso, por que eu demoro para chegar nos lugares, dependendo da região. E por que as entregas consideram esses lugares como áreas de risco. São coisas que permeiam o meu corpo-território, mas também o lugar territorial no qual o meu corpo está.

Também tem o momento de olhar para a minha família. E olhar para a minha família é pensar na relação do meu avô, que é um homem negro retinto – filho de um negro com uma indígena –, com a minha avó, que tem um tom de pele parecido com o meu. Fui entender essa gama de cores da família, e como isso se desdobra em mim. Quando entendo isso, algumas coisas começam a fazer sentido nesse processo de me comunicar com o mundo.

Na graduação, começo a entender como essas relações se dão dentro das artes, como se apresentam – inclusive como outros artistas, principalmente os modernistas, vão abordar o lugar do corpo desse povo, com suas problemáticas, e como tudo isso passa por mim.

Depois, esse processo passa pelas religiões de matriz africana, conectado com a minha vivência dentro do terreiro, dentro do meu ilê, trazendo outros processos de pesquisa. Inclusive, tenho uma exposição em novembro no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul que vai ser um processo muito diferente. Estou pesquisando, entendendo essa relação dos povos de terreiro, a questão do povo de axé no Sul.

Todo esse processo passa por dentro da minha história. Tudo que produzo vai passar por mim, por um fio condutor da minha vida.

Fotografia da artista Aline Bispo pintando o banco da fachada do Itaú Cultural. A artista tem cabelo curto, usa óculos de sol e macacão preto.
Aline Bispo (imagem: André Seiti/Itaú Cultural)

Fale um pouco da obra que você criou para o banco do IC.

A partir das palavras-chave “jardim” e “natureza”, que recebi ao ser convidada pelo IC, fui criando a paleta na minha cabeça. Fui pensando no conflito com todos esses prédios, o que eu podia criar com essa temática no meio da Avenida Paulista.

Como estou trabalhando na identidade visual de um filme, um documentário chamado Rio verdadeiro, sobre o Rio Tietê – junto com a minha vivência em terreiro –, entrei num processo de estudar a natureza, as folhagens, ervas medicinais, de pesquisar seus usos, de estudar a história dos rios em São Paulo. E me toca como essa cidade, mesmo com suas raízes indígenas, canaliza seus rios. Como uma pessoa de axé, também penso na relação com Oxum, sendo essa força da água, da água doce, a força do rio. Como é que você prende essa força? É uma ofensa muito grande em relação à natureza essa tentativa de aprisionar uma força que é muito maior que você, mais potente. Isso resulta nos alagamentos, nas enchentes, pois ela não tem para onde escoar.

Como também penso nessa relação indígena, da mata, tem outro orixá, que é Oxóssi, que traz a força da fartura, da caça, do foco. Quando se atira uma flecha, para onde se quer direcioná-la? Quando ela vai e não pode voltar, o que tem que acertar? O que você quer caçar?

Em vez de trazer esses dois pontos separados, trago um ponto de conexão: Logunedé, o orixá filho dos dois, que tem a força da mãe – a água, a beleza, a doçura, o mel, a sabedoria, o ouro –, mas também a força do pai, da caça, da fartura, do foco. Dentro do terreiro, tem a frase “Logunedé é um menino que velho respeita”, porque ele tem a sabedoria e a inteligência para direcionar as coisas.

Para mim, tudo isso se conecta na busca por uma sabedoria que a gente perdeu. É quase uma provocação trazendo esses dois elementos: do lado direito, a fauna e a mata; do lado esquerdo, o rio, um rio clarinho e seus peixes.

Fotografia da artista Aline Bispo e Andre Hullk em frente ao banco da fachada do Itaú Cultural. Aline está em pé, tem cabelo curto, usa óculos de sol e macacão preto. André está sentado, tem cabelos longos, cavanhaque, usa óculos de sol, camiseta amarela e bermuda preta.
Aline Bispo e Andre Hulk (imagem: André Seiti/Itaú Cultural)
Compartilhe