Acessibilidade
Agenda

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

Campina Grande faz jus ao título de “o maior São João do mundo”

Festa junina, que quebra recordes a cada edição, completa 40 anos em 2023

Publicado em 03/07/2023

Atualizado às 03:00 de 11/05/2025

Por André Felipe de Medeiros

A cidade de Campina Grande, no agreste da Paraíba, se orgulha do título de “o maior São João do mundo” e, ano após ano, parece dar um jeito de fazer uma festa de valor imensurável, do ponto de vista cultural, ganhar ainda maiores proporções. Em 2023, o evento celebra seus 40 anos de vida com uma série de novos recordes quebrados e uma programação que o insere no mapa dos principais destinos musicais do país, para muito além dos ritmos regionais nordestinos.

Veja também:

>>Conheça outras festas populares brasileiras

Criado em 1983, o São João de Campina Grande surgiu ao redor de uma pequena palhoça improvisada no Parque do Povo para receber os campinenses que voltavam à cidade para os festejos juninos. Há poucas informações oficiais sobre a primeira edição, mas sabe-se que, em 1984, a festa já durava 30 dias, como hoje. E que, dentro de cinco anos, o evento cresceu rapidamente a ponto de ser destaque no calendário turístico do país.

As dimensões da festa já eram outras quando a campinense Katarina Brito Castro era criança nos anos 1990. Seus pais tinham uma barraca que vendia comes e bebes durante a festa. “Naquela época, montavam um parque de diversões dentro do Parque do Povo [para o São João]”, relembra ela, “meu irmão e eu brincávamos o dia todo e depois dormíamos na barraca, em um colchão embaixo do balcão, enquanto nossos pais trabalhavam”. Anos depois, com os pais divorciados, Katarina ajudava duas vezes por semana na Labutando no Forró, uma barraca que sua mãe montou sozinha para complementar sua renda como professora. Nos dias em que não estava trabalhando, a então adolescente aproveitava a festa com amigos e primos.

Fotografia da barraca Labutano no Forró, no São João de Campina Grande. Na imagem, várias pessoas estão sentadas ao redor de mesas plásticas e ao fundo é possível ver a barraca com decorações vermelhas.
Barraca Labutano no Forró (imagem: Katarina Brito Castro)

Hoje, aos 33 anos, a gestora de conteúdo conta que a empolgação com a temporada festiva não mudou. “Para meus amigos e eu, é maior do que o Carnaval”, explica ela, “quem é nordestino sabe o que é o São João, mas, para o campinense, é uma coisa que está no sangue. Arrepia quando o primeiro dia de festa está chegando e a gente já começa a sentir o cheiro do Parque do Povo: a caninha com mel, misturada com aquela fumacinha do churrasquinho, do milho cozido... o cheiro é diferente pelo clima. Em Campina Grande, faz frio, tem névoa e neblina. Tudo isso cria um cenário que, quando a gente vê, o coração acelera”.

 “Apesar da garoa intermitente, nada espantou o público”, comenta Carolina Vianna, aeroviária de São Paulo que foi ao São João de Campina Grande pela primeira vez em 2023. “Fiquei impressionada com a estrutura enorme com vários palcos de forró, cenografia linda, a cidade inteira decorada com bandeirinhas e balões”, relembra, “percebi que ainda fico encantada como uma menina vendo as bandeirinhas coloridas da festa. Trouxe dessa experiência a minha criança interior ainda viva e vibrante dentro de mim”. 

Carolina resume seu tempo na cidade como “uma aventura de fim de semana com poucas horas de sono e com muita comida boa”, e revela ter ficado impressionada com a organização do evento, que, embora tenha os principais shows concentrados no Parque do Povo, se espalha por diversos pontos da cidade, principalmente na programação diurna.

Fotografia da barraca Labutano no Forró, no São João de Campina Grande. Na imagem, várias pessoas estão sentadas em volta de uma mesa enquanto uma mulher, vestindo roxo e chapéu de couro aponta para o letreiro da barraca.
Barraca Labutano no Forró (imagem: Katarina Brito Castro)

Dos recordes à lotação

Os 42 mil metros quadrados do Parque do Povo têm sido pequenos para a multidão que lota o São João da segunda maior cidade do interior nordestino – Campina Grande tem hoje cerca de 403 mil habitantes. A capacidade total do local escolhido para os shows, de 57 mil pessoas, foi atingida logo no primeiro fim de semana do evento em 2023 – mais precisamente no sábado, dia 3 de junho, noite na qual Wesley Safadão era a principal atração. Ao saber da lotação máxima, o cantor declarou: “Eu espero o ano inteiro para chegar o dia de fazer o show no São João de Campina Grande, e eu acho que isso acontece com o público também”.

Capilé, que compôs a música tema do evento, e Elba Ramalho ostentam o título de artistas que se apresentaram em todas as edições da festa. “Campina [Grande] me deu régua e compasso, eu digo todos os anos”, conta Elba, “sempre foi essa cidade efervescente culturalmente, sempre esteve à frente de todas as cidades desta área”. A cantora Juliette, talvez a campinense mais famosa hoje no Brasil, foi atração da noite de abertura do evento, em 1º de junho, que contou ainda com nomes como Geraldo Azevedo e Chico César.

Fotografia da cantora Elba Ramalho se apresentando em um palco. A cantora é uma mulher branca e veste um vestido vermelho.
Elba Ramalho (imagem: Leydson Jackson)

Para além dos muitos shows, a edição de 40 anos do São João de Campina Grande viu dois recordes serem quebrados. Um deles é o de “maior bolo de milho do mundo" – título que a cidade já possuía –, com uma receita que resultou em 45 metros de extensão e 653,6 quilos, contra os 39,5 metros e 544 quilos do recorde anterior, de 2019. O outro marco é o de “maior quadrilhão do mundo”, com uma quadrilha junina que contou com 1.071 pares – 22 a mais do que no ano passado.

É esperado que até 2 de julho, o último dia de festa, 2,3 milhões de pessoas tenham passado pelo Parque do Povo, e que 500 milhões de reais sejam movimentados, de acordo com projeções da Secretaria de Desenvolvimento Econômico da cidade. O período gera também 4 mil postos de empregos diretos e indiretos para a população.

Quando “o maior do mundo” cresce ainda mais

Desde a reabertura na pandemia, o São João de Campina Grande ganhou ainda mais destaque como destino de viagem para muitos brasileiros, de dentro ou fora do Nordeste. As novas dimensões da festa, que visam atender maiores possibilidades comerciais, nem sempre são recebidas com bons olhos pelo público campineiro, que frequenta o evento há quatro décadas.

Fotografia do cantor Wesley Safadão se apresentado em um palco. O cantor é um homem bracno e veste camisa zadrez preta e vermelha.
Wesley Safadão (imagem: Kaio Cads)

“Há uma inegável elitização da festa nos últimos anos”, conta Katarina Castro, “apesar de estar muito bonita, com muitas atrações interessantes, vimos muitos problemas, como os muitos camarotes e uma área vip, que estava maior que todas as outras, e ocupava uma grande área de onde acontece o show, no palco principal”. Os pequenos comerciantes e suas barracas também têm precisado ceder espaço para empresas maiores que montam seus negócios durante os festejos. 

Mais próximo da experiência do São João de outrora, há palcos menores para trios de pé de serra e bandas menos conhecidas de forró, piseiro e forró universitário espalhados pelo espaço. Eles ainda são chamados de “palhoças”, embora tenham hoje estruturas de metal. Katarina diz que “a festa continua muito bonita, mas o espaço já não a comporta mais”.

Há iniciativas da Prefeitura que visam descentralizar a festa e criar outros polos para além do Parque do Povo, ou mesmo migrar para um outro espaço que comporte uma quantidade maior de pessoas. Esses diálogos são necessários para que se criem maneiras de o São João de Campina Grande continuar sendo “o maior do mundo” sem perder sua essência, mas ainda atendendo as necessidades de suas novas proporções.

Diante de um Parque do Povo em lotação máxima, o cantor pernambucano João Gomes – referência entre a nova geração do forró e do piseiro – resumiu bem essa realidade ao discursar do palco: “De Campina Grande a Caruaru, a gente mostra o que é o Nordeste, com aquelas músicas que, desde que nos entendemos por gente, a gente conhece. Nordeste, invista em sua cultura, o sertão me mostrou que a vida é dura, mas o São João nos abençoou de alegria. Esta é a festa da mais pura magia e eu sou muito feliz por estar aqui neste grande dia”.

Fotografia do cantor João Gomes se apresentando em um palco. O cantor é um homem branco, veste calça preta, camisa xadrez azul e chapéu de couro
João Gomes (imagem: Kaio Cads)
Compartilhe