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“Sob o olhar delas: novas perspectivas do cinema indígena” estreia na IC Play

Mostra evidencia obras feitas por cineastas mulheres indígenas para além do estereótipo documental

Publicado em 24/05/2024

Atualizado às 11:24 de 24/05/2024

Por Icaro Mello

A partir de hoje, 24 de maio de 2024, a Itaú Cultural Play recebe a mostra Sob o olhar delas: novas perspectivas do cinema indígena. Com curadoria da rede Katahirine, o conjunto de cinco filmes busca evidenciar obras feitas por cineastas mulheres indígenas para além do estereótipo documental. Acesse a IC Play em sua TV, celular ou computador e aproveite!

Fazem parte da mostra Horizonte colorido (2024), de Graciela Guarani; Aguyjevete avaxi’i (2023), de Kerexu Martim; Ibirapema (2022), de Olinda Tupinambá; Rami Rami Kirani (2023), de Lira Mawapai Huni Kuin e Luciana Txirá Huni Kuin; e Sigyjat – pescaria do timbó (2023), produzido coletivamente por Aruti Kaiabi, Ewa Kaiabi, Juirua Kaiabi, Mairiwata Kaiabi, Reai'i Kaiabi, Reiria Kaiabi, Rywa Kaiabi, Ukaraiup Kaiabi, Urukari Kaiabi e Wyiry Kaiabi.

A curadoria propõe evidenciar, por meio da multiplicidade das obras, o olhar dessas cineastas, o que se passa nos territórios e como são suas vidas na cidade e suas relações com a natureza. “A gente tem diferentes trabalhos, alguns até experimentais, diferentes, porque às vezes as pessoas acham que a produção indígena é muito ligada ao documentário, ou à questão da violência. Mas tem muita coisa diferente que está sendo produzida. Então tentamos buscar, sobre o olhar delas, diferentes situações, diferentes tipos de produções, e que a gente pudesse ter essa dimensão da diversidade que existe no nosso país”, compartilha Helena Corezomaé, assessora de comunicação do Instituto Catitu e uma das coordenadoras da rede Katahirine.

A Katahirine – Rede Audiovisual das Mulheres Indígenas é um espaço coletivo que luta pelo fortalecimento e pela visibilidade da produção audiovisual de mulheres indígenas do Brasil e da América Latina, buscando a recuperação de memórias históricas, a reafirmação das identidades étnicas indígenas e a valorização dos conhecimentos dos povos originários. A rede nasceu em fins de 2020, a partir de oficinas do Instituto Catitu – organização que busca contribuir para o fortalecimento das culturas indígenas e a defesa dos seus direitos por meio do uso de novas tecnologias como ferramentas para expressar, transmitir e compartilhar conhecimentos a partir de suas próprias visões de mundo.

Fotografia colorida da diretora Urukari Kaiabi segurando uma câmera em um tripé,  enquanto observa a cena pelo visor da câmera. Ela usa um vestido verde escuro.
A diretora Urukari Kaiabi em um dos exercícios da oficina de audiovisual que gerou o filme Sigyjat. (imagem: Julia Bernstein)

“O Instituto Catitu estava desenvolvendo um projeto para fazer o mapeamento das cineastas indígenas, isso no final de 2022. Em uma reunião, numa oficina local para trabalhar com ferramentas do audiovisual, criou-se a rede Katahirine, palavra que significa constelação”, explica Helena. “O Catitu sempre foi uma aliança. Quando vamos trabalhar ferramentas e técnicas do audiovisual – uso de tecnologia, manuseio de câmera –, também são levados temas para se trabalhar a questão dos direitos das mulheres, do histórico de lutas. Às vezes, as pessoas acham que todo mundo tem conhecimento e acesso a isso, mas, dentro dos territórios, isso é muito diferente”, completa.

Em abril de 2023, a Katahirine lançou seu site, que apresenta os dados do mapeamento realizado pela rede. Sobre a plataforma, Helena afirma: “A gente sabia que existiam muitas cineastas. Mas quem são elas? O que estão fazendo? Quais são as suas demandas? Então a primeira coisa é dar esse significado e mostrar a existência e a quantidade”. Esse mapeamento é um passo importante para a geração de dados que podem dar suporte à luta por políticas públicas. No momento da publicação desta matéria são 65 cineastas mapeadas em diversas regiões do país, organizadas por biomas. “A rede realmente procura mostrar os trabalhos dessas mulheres, ser um ponto de fortalecimento, de encontro. Clicando no mapa, em cada bioma, você vê quem é essa cineasta, as suas produções, as suas redes sociais. Ali as pessoas podem ter acesso a esse perfil, chamá-las para fazer trabalhos”, conclui Helena.

A rede mantém uma multiplicidade de atuações, sempre visando à capacitação, à visibilidade e ao diálogo com as artistas. “Ano passado, a gente fez vários debates por biomas, para saber delas quais eram suas necessidades, pelo que ansiavam. Nós também buscamos parceiros, fazemos curadoria de festivais. Tem um cineclube, todo mês, para discutir os filmes dessas cineastas. Estamos fazendo de tudo um pouquinho, e está sendo superimportante para dar visibilidade a esses trabalhos incríveis que são realizados por essas cineastas indígenas”, compartilha Helena, que conclui: “Lembro quando eu estava em contato com as cineastas, quando eu falei ‘olha, eu estou selecionando, estou assistindo ao material para fazer a curadoria para a mostra da Itaú Cultural Play’, a felicidade delas mostrou o quanto isso é importante, o quanto isso é significativo para nós. As mulheres indígenas se sentem valorizadas, veem o seu trabalho em uma plataforma superimportante. E tudo isso num período que está fora do mês de abril [no qual é comemorado o Dia dos Povos Indígenas], mostrando mais ainda que todos os dias a gente pode falar sobre a questão indígena. Todos os dias a gente pode colocar isso em evidência”.

Saiba mais sobre cada um dos filmes da mostra a seguir.

Frame do filme Horizonte colorido. Na imagem, há uma ilustração de uma mulher segurando um cartaz onde se lê
Horizonte colorido (2024) (imagem: divulgação)

Horizonte colorido (2024), de Graciela Guarani
Pernambuco | 70 min | classificação indicativa: livre, segundo autodefinição

Tiniá é uma jovem artista indígena, filha de pais Guarani e Pankararu. Admiradora das cores, ela costuma pintar paisagens da natureza e mitos e personagens de sua cultura. A partir de seus quadros e de seu cotidiano numa aldeia de Mato Grosso do Sul, o filme captura a riqueza de seu universo artístico, pleno de imagens ancestrais.

 

Frame do filme Aguyjevete avaxi’i. Na imagem, uma mulher está de cócoras, em frente a cestos de palha com alguns milhos crioulos, e tem um cachimbo na boca.
Aguyjevete avaxi’i (2023) (imagem: divulgação)

Aguyjevete avaxi’i (2023), de Kerexu Martim
São Paulo | 21 min | classificação indicativa: livre, segundo autodefinição

Para o povo indígena Guarani M’bya, o milho é um alimento sagrado e admirado pelos espíritos, que o guardam em suas moradas. Inspirada na íntima relação entre o sagrado e o mundo terreno, a cineasta Kerexu Martim retrata o plantio e a colheita do milho na Aldeia Kalipety, território indígena localizado na maior cidade do país.

 

Frame do filme Ibirapema, de Olinda Tupinambá. Na imagem há uma mulher com pinturas corporais e um adorno de cabeça feito com penas. Ela segura um remo em sua mão direita.
Ibirapema (2022) (imagem: divulgação)

Ibirapema (2022), de Olinda Tupinambá
Bahia | 50 min | classificação indicativa: 16 anos, segundo autodefinição

Viajando livremente entre o mundo mítico e a realidade cotidiana, Ibirapema, uma indígena Tupinambá, percorre diferentes espaços e tempos, da mata ao asfalto, passando ainda por museus onde peças dos povos originários estão expostas. Nessa travessia, a personagem encantada interage com a arte ocidental do homem branco, dialogando com sua cidade de concreto e suas florestas domesticadas.

 

Frame do filme Rami Rami Kirani, Na imagem, uma mulher está em uma clareira na mata, em pé, observando dois caldeirões suspensos sobre uma fogueira.
Rami Rami Kirani (2023) (imagem: divulgação)

Rami Rami Kirani (2023), de Lira Mawapai Huni Kuin e Luciana Txirá Huni Kuin
Acre | 43 min | classificação indicativa: 12 anos, segundo autodefinição

O Nixi pae é uma bebida sagrada utilizada pelo povo indígena Huni Kuin em seus rituais xamânicos. Durante certo tempo, seus poderes medicinais eram consagrados unicamente aos homens. Mas essa hegemonia foi derrubada desde que as mulheres Huni Kuin reivindicaram o direito de celebrá-lo. O filme registra, a partir da perspectiva feminina, os preparativos dessa cerimônia.

Frame do filme Sigyjat – pescaria do timbó. Na imagem, um homem está de costas para a câmera, em um rio, com água na altura de sua coxa, e caminha rumo à margem segurando peixes em sua mão esquerda. Ele usa uma calça ou bermuda jeans e está sem camisa.
Sigyjat – pescaria do timbó (2023) (imagem: divulgação)

Sigyjat – pescaria do timbó (2023), de Aruti Kaiabi, Ewa Kaiabi, Juirua Kaiabi, Mairiwata Kaiabi, Reai'i Kaiabi, Reiria Kaiabi, Rywa Kaiabi, Ukaraiup Kaiabi, Urukari Kaiabi e Wyiry Kaiabi
Mato Grosso | 52 min | classificação indicativa: livre, segundo autodefinição

Durante o dia, adultos e crianças do povo indígena Kaiabi recolhem galhos e troncos na floresta. À noite, eles saem para preparar um conjunto de armadilhas que, feitas das madeiras, são usadas na pescaria do timbó. Numa narrativa conduzida por um grupo de realizadoras Kaiabi, o filme registra esse ritual coletivo alegre e cheio de cuidados.

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