Com curadoria de Ceiça Ferreira e Lidiana Reis, seleção exibida na IC Play discute cultura e política e abrange produções do Centro-Oeste do país
Publicado em 19/08/2025
Atualizado às 10:53 de 21/08/2025
O cinema feito por mulheres do Centro-Oeste do Brasil é o mote da mostra Águas correntes: mulheres no centro, que a Itaú Cultural Play estreou em agosto. São oito curtas e longas-metragens, entre ficção e documentário, lançados entre 2012 e 2023 em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. A curadoria é de Ceiça Ferreira e Lidiana Reis.
Ambas organizaram o livro Águas correntes: mulheres no audiovisual do Centro-Oeste, que reúne artigos de vários pesquisadores sobre esse tema e está disponível para download. Na sua seleção para a mostra na IC Play, elas incluíram obras que tratam da música da região, da luta de movimentos sociais, de questões identitárias e de outras temáticas.
Para assistir à mostra, basta se cadastrar gratuitamente na plataforma. Veja abaixo detalhes dos filmes selecionados.
Beatriz vira folhas (2023)
Samantha Col Debella | 87 minutos
Bea tem 10 anos e precisa enfrentar um desafio bem difícil na pré-adolescência: mudar de cidade e de escola, no meio do ano letivo. Ao chegar na nova casa, ela terá dificuldades em se enturmar, mas encontrará nos livros um universo mágico capaz de aguçar sua imaginação. O primeiro longa infantil mato-grossense narra, com leveza e encanto, o amadurecimento de uma pré-adolescente diante de uma mudança repentina. Entre suas descobertas, a protagonista vai criando pontes para enfrentar as resistências e construir seu lugar no mundo. A obra recebeu o prêmio de "Melhor filme" pelo Júri Popular no Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá, em 2023.
[classificação indicativa: 10 anos, segundo autodefinição]
Cacica – a força da mulher Xavante (2022)
Carolina Rewaptu e Jade Rainho | 20 minutos
Com uma trajetória de liderança, empoderamento e luta, Carolina Rewaptu é considerada a primeira cacica brasileira e sobreviveu a um dos maiores massacres e disputas territoriais do norte do Mato Grosso, nos anos 1960. Definido como documentário poético-musical, o filme se vale da potência da figura de Carolina, aliada à trilha de Ester Ceregatti e a imagens do povo Xavante, para cativar, emocionar e empoderar, passando por uma memória trágica do período da ditadura civil-militar brasileira.
[classificação indicativa: livre, segundo autodefinição]
Dandara (2014)
Raquel Rosa | 14 minutos
A menina Dandara chega em casa depois da escola e se tranca no quarto. Única aluna negra de um colégio, ela é vítima de racismo e duvida de sua identidade. Mas sua mãe vai convencê-la de que Dandara carrega dentro de si a beleza e a força de muitas mulheres negras. Sensível e criativo na maneira de abordar o preconceito racial e o bullying, o curta celebra a ancestralidade negra como o caminho para resgatar a autoestima. Exibido em diversos festivais brasileiros, e especialmente interessante para ser apresentado em contexto escolar, fala com cuidado e imaginação sobre infância, identidade e empoderamento.
[classificação indicativa: livre, segundo autodefinição]
Me farei ouvir (2022)
Bianca Novais e Flora Egécia | 30 minutos
A presença da mulher na política brasileira é o tema deste documentário. Diferentes lideranças femininas narram suas jornadas na busca por reconhecimento e legitimidade num ambiente historicamente masculino. Dificuldades de diálogo, preconceito e a misoginia enraizada são alguns dos assuntos denunciados por seus testemunhos. Exibido em vários festivais brasileiros, o curta reúne entrevistas com diversas mulheres eleitas para ocupar cargos políticos em Brasília nos últimos anos. Benedita da Silva, Erica Malunguinho, Joenia Wapichana e Marta Suplicy são algumas das vozes que refletem sobre as contradições da República e a luta para encontrar espaço na problemática democracia brasileira.
[classificação indicativa: livre, segundo autodefinição]
A dama do rasqueado (2017)
Marinete Pinheiro | 75 minutos
Com antigas raízes na zona de fronteira do Brasil com o Paraguai e outros países latino-americanos, o rasqueado é um gênero musical que se irradiou pelo Mato Grosso do Sul, tornando-se um culto local. Assumindo um toque bem brasileiro e fortemente ligado à dança, o rasqueado teve em Delinha sua grande musa e expressão artística maior. Num corpo a corpo com sua personagem principal – a dama do rasqueado –, o filme se debruça sobre a história da música sul-mato-grossense. Depoimentos de especialistas, cenas de shows e testemunhos da própria Delinha dão conta da riqueza desse gênero como espelho de uma cultura regional. A obra foi vencedora da Mostra Nacional Sesc de Cinema, em 2017.
[classificação indicativa: livre, segundo autodefinição]
Kuña Porã – matriarcas Kaiowá e Guarani (2012)
Daniela Jorge João e Fabiana Fernandes | 23 minutos
No Mato Grosso do Sul, mulheres Kaiowá e Guarani falam sobre seus cotidianos, suas lutas coletivas e seus saberes ancestrais. Anciãs, parteiras, rezadoras, artesãs, agentes de saúde e professoras, elas refletem sobre sua condição de mulher indígena em suas comunidades e seus territórios. Um documentário de escuta, amor e resistência, idealizado e concebido junto com as protagonistas. Com escuta atenta, Kuña Porã revela a força das matriarcas que sustentam a vida em aldeias e acampamentos no Mato Grosso do Sul. Por meio de suas próprias vozes, o filme também celebra a presença indígena feminina como central na construção de futuros possíveis.
[classificação indicativa: livre, segundo autodefinição]
Parque Oeste (2019)
Fabiana Assis | 70 minutos
Em fevereiro de 2005, a polícia militar invadiu o Acampamento Sonho Real, no bairro do Parque Oeste, em Goiânia (GO). Ocupado à época por movimentos sociais que reivindicavam a justa posse do terreno, então entregue à especulação e ao abuso econômico, o acampamento foi destruído por policiais, que chegaram a assassinar líderes comunitários e a desaparecer com seus corpos. Dez anos depois, a líder comunitária Eronildes narra sua jornada de luta como personagem daqueles dias terríveis. A partir da personalidade cativante e inspiradora de Eronildes, e contando com depoimentos e imagens de arquivo, o documentário mergulha em um episódio trágico, cuja violência remete ao pior da ditadura civil-militar brasileira, mas em plenos anos 2000. Um retrato profundo da luta pelos direitos básicos à moradia, que revela o impacto de políticas excludentes e o poder da resistência feminina, a obra recebeu o prêmio de "Melhor filme" na Mostra Olhos Livres, da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
[classificação indicativa: 12 anos, segundo autodefinição]
A velhice ilumina o vento (2022)
Juliana Segóvia | 21 minutos
Mulher preta, idosa, periférica, trabalhadora doméstica e cuiabana, Valda subverte os estereótipos da velhice: dança lambada nos bailes, bebe cerveja, diverte-se com as amigas e se relaciona amorosamente com homens. Com sua ousadia, também enfrenta o moralismo do filho e as insinuações machistas de um parceiro. Neste filme, somos convidados a acompanhar a rotina dessa personagem luminosa. Uma realização do Coletivo Audiovisual Negro Quariterê, o curta é inspirado numa pesquisa conduzida pela própria diretora a respeito dos bailes da terceira idade em Cuiabá (MT), e no poema "A velhice é um vento", do escritor português Fernando Echevarría. Contando com elenco e equipe de cineastas negros, com atores e não atores, o filme tira da proximidade com a sua personagem, a iconoclasta Valda, toda a sua força narrativa. A obra foi contemplada pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020.
[classificação indicativa: 12 anos, segundo autodefinição]