Com curadoria de Ceiça Ferreira e Lidiana Reis, seleção exibida na IC Play discute cultura e política, e abrange produção do Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e DF
Publicado em 19/08/2025
Atualizado às 14:27 de 19/08/2025
O cinema feito por mulheres do Centro-Oeste do Brasil é o mote da mostra Águas correntes: Mulheres no centro, que a Itaú Cultural Play estreou em agosto. São oito filmes, entre ficção e documentário, entre curtas e longas, lançados entre 2010 e 2023 em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. A curadoria é de Ceiça Ferreira e Lidiana Reis.
As curadoras organizaram o livro Águas correntes: Mulheres no audiovisual do Centro-Oeste, que reúne artigos de vários pesquisadores sobre o tema e está disponível para download. Na sua seleção para a mostra na IC Play, incluíram obras que tratam da música da região, da luta de movimentos sociais, de questões identitárias e de outras temáticas.
Para assistir à mostra, basta se cadastrar gratuitamente na plataforma. Veja abaixo detalhes dos filmes selecionados.
Beatriz vira folhas (2023)
Samantha Col Debella | 87 minutos
Bea tem dez anos e precisa enfrentar um desafio bem difícil na adolescência: mudar de cidade e de escola, no meio do ano letivo. Ao chegar na nova casa, Bea terá dificuldades em se enturmar, mas encontrará nos livros um universo mágico capaz de aguçar sua imaginação. O primeiro longa infantil mato-grossense narra, com leveza e encanto, o amadurecimento de uma adolescente diante de uma mudança repentina. Entre suas descobertas, a protagonista vai criando pontes para enfrentar as resistências e construir seu lugar no mundo. Prêmio de Melhor Filme pelo Júri Popular no Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá, em 2023.
[classificação indicativa: 10 anos, segundo autodefinição]
Cacica – A força da mulher Xavante (2022)
Jade Rainho e Carolina Rewaptu | 20 minutos
Com uma trajetória de liderança, empoderamento e luta, Carolina Rewaptu é considerada a primeira cacica brasileira. Sobrevivente de um dos maiores massacres e disputas territoriais do norte do Mato Grosso, nos anos 1960. Definido como documentário poético-musical, o filme se vale da potência da figura de Carolina Rewaptu, aliada à trilha de Ester Ceregatti e imagens do povo Xavante para cativar, emocionar e empoderar, passando por uma memória trágica do período da ditadura civil-militar brasileira.
[classificação indicativa: Livre, segundo autodefinição]
Dandara (2014)
Raquel Rosa | 14 minutos
A menina Dandara chega em casa depois da escola e se tranca no quarto. Única aluna negra de um colégio, ela é vítima de racismo e duvida de sua identidade. Mas sua mãe vai convencê-la de que Dandara carrega dentro de si a beleza e a força de muitas mulheres negras. Sensível e criativo na maneira de abordar o preconceito racial e o bullying, o curta celebra a ancestralidade negra como o caminho para se resgatar a auto-estima. Exibido em diversos festivais brasileiros, e especialmente interessante para ser apresentado em contexto escolar, fala com cuidado e imaginação sobre infância, identidade e empoderamento.
[classificação indicativa: Livre, segundo autodefinição]
Me farei ouvir (2022)
Bianca Novais e Flora Egécia | 30 minutos
A presença da mulher na política brasileira é o tema do documentário. Diferentes lideranças femininas narram suas jornadas na busca por reconhecimento e legitimidade num ambiente historicamente masculino. Dificuldades de diálogo, preconceito e a misoginia enraizada são alguns dos assuntos denunciados por seus testemunhos. Exibido em diversos festivais brasileiros, o curta reúne entrevistas com diversas mulheres eleitas para ocupar cargos políticos em Brasília, nos últimos anos. Joênia Wapichana, Marta Suplicy, Benedita da Silva e Erica Malunguinho são algumas das vozes que refletem sobre as contradições da república e também sobre a luta para encontrar espaço dentro da problemática democracia brasileira.
[classificação indicativa: Livre, segundo autodefinição]
A dama do rasqueado (2017)
Marinete Pinheiro | 75 minutos
Com antigas raízes na zona de fronteira do Brasil com o Paraguai e outros países latino-americanos, o rasqueado é um gênero musical que se irradiou pelo Mato Grosso do Sul, tornando-se um culto local. Assumindo um toque bem brasileiro, e fortemente ligado à dança, o rasqueado teve em Delinha sua grande musa e expressão artística maior. Num corpo a corpo com sua personagem principal, a dama do rasqueado, o filme se debruça sobre a história da música sul-matogrossense. Depoimentos de especialistas, cenas de shows e testemunhos da própria Delinha dão conta da riqueza do gênero como espelho de uma cultura regional. Vencedor da Mostra Nacional Sesc de Cinema, em 2017.
[classificação indicativa: Livre, segundo autodefinição]
Kuña Porã – Matriarcas Kaiowá e Guarani (2012)
Fabiana Fernandes e Daniela Jorge João | 23 minutos
No Mato Grosso do Sul, mulheres Kaiowá e Guarani falam sobre seus cotidianos, lutas coletivas e saberes ancestrais. Anciãs, parteiras, rezadoras, artesãs, agentes de saúde e professoras, elas refletem sobre sua condição de mulheres indígenas dentro de suas comunidades e territórios. Um documentário de escuta, amor e resistência, idealizado e concebido junto com suas protagonistas. Com escuta atenta, Kuña Porã revela a força das matriarcas que sustentam a vida nas aldeias e acampamentos do Mato Grosso do Sul. Por meio de suas próprias vozes, o filme também celebra a presença indígena feminina como central na construção de futuros possíveis.
[classificação indicativa: Livre, segundo autodefinição]
Parque Oeste (2019)
Fabiana Assis | 70 minutos
Em fevereiro de 2005, a polícia militar invadiu o Acampamento Sonho Real, no bairro do Parque Oeste, em Goiânia. Ocupado à época por movimentos sociais que reivindicavam a justa posse do terreno, então entregue à especulação e ao abuso econômico, o acampamento foi destruído por policiais que chegaram a assassinar líderes comunitários e desaparecer com seus corpos. Dez anos depois, a líder comunitária Eronildes narra sua jornada de luta como personagem daqueles dias terríveis. A partir da personalidade cativante e inspiradora de Eronildes, e contando com depoimentos e imagens de arquivo, o documentário se debruça sobre um episódio trágico, cuja violência remete ao pior da ditadura civil-militar brasileira, mas em pleno os anos 2000. Um retrato profundo da luta pelos direitos básicos à moradia, que revela o impacto de políticas excludentes e o poder da resistência feminina. Prêmio de Melhor Filme na Mostra Olhos Livres da 22ª Mostra de Cinema de Tiradentes.
[classificação indicativa: 12 anos, segundo autodefinição]
A velhice ilumina o vento (2022)
Juliana Segóvia | 21 minutos
Mulher preta, idosa, periférica, trabalhadora doméstica e cuiabana, Valda subverte os estereótipos da velhice: dança lambada nos bailes, bebe cerveja, se diverte com as amigas e se relaciona amorosamente com homens. Com sua ousadia, também enfrenta o moralismo do filho e as insinuações machistas de um parceiro. Neste filme, somos convidados a acompanhar a rotina dessa personagem luminosa. Realização do Coletivo Audiovisual Negro Quariterê, o curta é inspirado numa pesquisa conduzida pela própria diretora a respeito dos bailes da terceira idade em Cuiabá, e no poema "A velhice é um vento", do escritor português Fernando Echevarría. Contando com elenco e equipe de cineastas negros, com atores e não-atores, o filme tira da proximidade com a sua personagem, a iconoclasta Dalva, toda a sua força narrativa. Filme contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2019-2020.
[classificação indicativa: 12 anos, segundo autodefinição]