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Retratos da Leitura: um país que lê menos

O IC traz uma série de matérias sobre a quinta edição da pesquisa, lançada em setembro deste ano e que indica queda no número de leitores

Publicado em 12/10/2020

Atualizado às 15:28 de 11/08/2022

por Tatiana Diniz

A quinta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil indica que a quantidade de leitores no país caiu de 56% em 2015 para 52% em 2019. Dedicado a avaliar o comportamento do leitor brasileiro, o estudo é feito pelo Instituto Pró-Livro (IPL) a cada quatro anos, desde 2007, e busca contribuir para o estabelecimento de políticas públicas que estimulem o hábito da leitura.

A edição atual, realizada em parceria com o Itaú Cultural e lançada no último 14 de setembro, contou com 8.076 entrevistas em 208 municípios, sendo 5.874 nas capitais de 26 estados e do Distrito Federal. Os números (que podem ser conferidos tanto em relação ao total do Brasil quanto pelas cinco regiões ou pelas capitais) foram ponderados considerando-se os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) de 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

>> Veja no YouTube do Itaú Cultural a apresentação do dia 14 de setembro

Leitor, de acordo com a definição da pesquisa, é quem leu pelo menos um livro, inteiro ou em partes, nos últimos três meses. Já não leitor é quem declarou não ter lido nenhum livro nos últimos três meses. Os resultados de 2019 apontam a existência de 52% de leitores e 48% não leitores entre os entrevistados. Em 2015, eram 56% leitores e 44% não leitores.

Intensidade, forma, limitações, motivação, representações, condições de leitura e de acesso ao livro (impresso e digital) são alguns dos marcadores presentes no estudo, que também foca em identificar os hábitos dos brasileiros em relação à literatura, mapeando aspectos como origem de interesse e fatores que influenciam na escolha do que ler.

Os dados foram obtidos a partir de entrevistas presenciais domiciliares, com registro das respostas em tablets. As pessoas que responderam à pesquisa pertencem predominantemente à classe C (47%), seguida das classes D/E (28%) e A/B (25%). Dos entrevistados 27% estudam e 73% não estudam. A renda individual dos respondentes variou de quem não tem rendimento até quem ganha mais de cinco salários mínimos, predominando o grupo com renda de até um salário mínimo (36%).

Porém, ainda que a maior parte das respostas tenha sido dos que estão entre o meio e a base da pirâmide econômica, as descobertas sinalizam que quem está no topo também vem perdendo o apreço pelo livro: o número de participantes que respondeu gostar muito de ler diminuiu nas classes A e B e também entre os universitários. Só no último grupo a queda observada foi de 57% em 2015 para 48% em 2019.

Os dados apontam ainda que há mais mulheres do que homens entre os leitores do país e que pré-adolescentes (11 a 13 anos) são os que mais leem, seguidos das crianças de 5 a 10 anos. Quanto mais elevada a faixa etária, menos leitura diária – hábito que despenca na população brasileira a partir da idade adulta. Considerando-se os entrevistados com 50 a 69 anos, apenas 4% têm contato com literatura diariamente, percentual que cai pela metade a partir dos 70 anos, chegando a 2%.

A pesquisa revela uma tendência de decréscimo na frequência de leitura em quase todos os formatos, mas especialmente entre os livros de literatura lidos por vontade própria e os livros didáticos indicados pela escola. Também merece atenção o volume de alunos em idade escolar que declarou não ler: 21% dos entrevistados com idade entre 5 e 10 anos são não leitores, número que chega a 24% entre 11 e 13 anos e atinge 31% dos 14 aos 17 anos.

Motivação

Como razão para ler, 26% das pessoas ouvidas responderam gosto, principal motivação registrada pelo estudo (o número sobe para 38% se considerado o universo dos leitores de literatura). A leitura acontece também para crescimento pessoal (17%) e distração (14%), e motivos religiosos foram citados por 9%.

Na hora de escolher um livro para ler, influenciam fatores como tema e assunto (33%), dicas de outras pessoas (12%), título (11%) e capa do livro (11%). Dicas de professores (10%) seguem determinantes, influenciando mais do que críticas ou resenhas (5%) e propaganda e anúncios (2%). 

Autores e editoras passaram a pesar menos na escolha da leitura nos últimos quatro anos: em 2015, 12% dos respondentes informaram que escolhiam o que ler pelo autor, número que caiu para 9% em 2019. Já a editora, que influenciava em 2% das escolhas em 2015, passou a 1% em 2019.

Quando indagados sobre com que frequência leem livros de literatura por vontade própria, como contos, crônicas, romances e poesias, 54% dos entrevistados declararam não ler. Entres os que leem, 8% o fazem todos os dias ou quase todos os dias, 12% pelo menos uma vez por semana, 14% pelo menos uma vez por mês e 11% menos de uma vez por mês.

Considerando-se a frequência de leitura diária ou de pelo menos uma vez por semana por tipo de material, textos escolares têm o maior percentual de leitura frequente (30%), seguidos de textos de trabalho (28%), livros didáticos indicados pela escola (27%), gibis ou histórias em quadrinhos (23%), livros de literatura por vontade própria (20%) e livros de trabalho ou técnicos (18%).

A Bíblia continua o livro mais lido no país, mas a quantidade de respondentes que a cita como leitura caiu de 42% em 2015 para 35% em 2019. Contos, livros religiosos e romances foram mencionados por 22% dos entrevistados. Além disso, em 2019, a leitura de poesia chegou a 16%, registrando aumento em relação aos 12% de 2015.

Mas, afinal, por que não se lê?

Entre as razões elencadas pelos entrevistados, destacam-se a falta de tempo, não gostar de ler, não ter paciência para ler, preferir outras atividades, ter dificuldades para ler, sentir-se cansado e não haver bibliotecas por perto, além de problemas de saúde e visão.

E se, em algum lugar do passado, o ócio convidava a abrir um livro, o impacto das novas tecnologias já manifesta marcas evidentes: no que se refere à ocupação do tempo livre dos entrevistados, o uso de WhatsApp foi a atividade que mais se expandiu nos últimos quatro anos, saltando de 43% em 2015 para 62% em 2019. A utilização da internet subiu de 47% para 66% e a comunicação via Facebook, Twitter ou Instagram aumentou de 35% para 44%.

Aparentemente, ler tornou-se mais difícil para a população brasileira, e um aumento significativo nas declarações de dificuldade se compararmos os novos resultados aos obtidos na edição inicial do levantamento. Em 2007, 48% dos entrevistados responderam não ter dificuldade nenhuma para ler. Já em 2019, apenas 33% afirmaram o mesmo. Soma-se a isso o fato de que o percentual de pessoas que dizem não ter paciência para ler saltou de 11% para 26% no mesmo período e a falta de concentração suficiente para a leitura cresceu de 7% em 2015 para 13% em 2019.

Por fim, imortais seguem fazendo jus à alcunha e se misturam a escritores de best-sellers na lista dos 15 autores mais conhecidos no país. Citado em 521 entrevistas, Machado de Assis é o mais lembrado pelos brasileiros, seguido de Monteiro Lobato (314), Paulo Coelho (245), Jorge Amado (240), Augusto Cury (208), Mauricio de Sousa (177), Carlos Drummond de Andrade (159), Zibia Gasparetto (159), Clarice Lispector (111), Cecília Meireles (104), José de Alencar (94), Vinicius de Moraes (76), J. K. Rowling (70), Chico Xavier (70) e Agatha Christie (62).

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