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Dia Nacional do Circo: festival de mulheres engraçadas debate gênero na palhaçaria

O Dia Nacional do Circo, em 27 de março, foi escolhido como marco e abertura para a primeira edição do F.E.M.E., o Festival de Mulheres Engraçadas de Maceió, no estado de Alagoas

Publicado em 26/03/2019

Atualizado às 16:00 de 18/11/2019

O Dia Nacional do Circo, em 27 de março, foi escolhido como marco e abertura para a primeira edição do F.E.M.E., o Festival de Mulheres Engraçadas de Maceió, no estado de Alagoas. Em cinco dias de evento, espetáculos, sessões de filmes, oficinas, mesas temáticas e um sarau colocam em debate a arte da palhaçaria sob a ótica feminina. Não, senhor! é “sim, senhora!”.

Organizado pelo Clowns de Quinta, formado por cinco meninas e três homens, o F.E.M.E. começou a ser pensado há alguns anos, quando o grupo ainda era constituído em sua totalidade por meninos. Foram Wanderlândia Melo, Elaine Lima e Nathaly Pereira que iniciaram a discussão de gênero no universo clown. “Eu sou de Pernambuco e cheguei para estudar teatro na Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Pedi para entrar no grupo para fotografar e assistir aos ensaios. Queria saber como funcionava um grupo de palhaços. Acho que depois de um mês eu já estava em cena treinando com eles, fazendo acrobacias”, conta Wanderlândia, coordenadora geral do festival.

Durante a montagem do espetáculo Cenas Clownssicas, há quase cinco anos, atores e professor perceberam juntos que Wanderlândia, a palhaça Salsichinha, recebia, ao longo da peça, as expressões “sim, general” e “sim, senhora” como resposta. O grupo então começou a pensar sobre o estudo de gênero na palhaçaria.

Segundo Nathaly Pereira, que assina a coordenação artística do festival, foi o incentivo de Wanderlândia para a visita ao PalhaçAria – Festival Internacional de Palhaças do Recife, no mesmo ano, o começo informal do projeto. “Vimos muitas mulheres nos palcos, na rua, sob o foco da luz. A representatividade é algo que nos move, e nos moveu naquele momento. Voltamos para Maceió com mais garra, o que nos fez questionar sobre nós, mulheres, exercendo esse ofício do fazer rir”, diz.

Em quatro anos, o grupo conheceu em São Paulo o I Encontro Internacional de Mulheres Palhaças, produzido pela artista Andrea Macera – palhaça Mafalda Mafalda –, e o Esse Monte de Mulher Palhaça, no Rio de Janeiro, e retornou ao Recife para ocupar o palco de outra edição do PalhaçAria. “A cada festival de mulheres que íamos, voltávamos para Maceió com muita vontade de produzir um festival feminino na cidade”, conta Nathaly, conhecida como Coxinha. Nasceu, então, o festival Cadê Meu Nariz.

Ainda um evento misto, o Cadê Meu Nariz já trazia o tema na programação e buscou igualar a presença de homens e mulheres nas mesas de debates. Para Elaine Lima, coordenadora de marketing e comunicação do F.E.M.E., o festival naquele momento trouxe a mulher engraçada para “o centro da conversa”.

“Com esse fervor, produzimos o Cadê Meu Nariz e refletimos sobre essa vertente da palhaçaria, que traz a mulher palhaça, a mulher engraçada, para o centro da conversa. Tentávamos entender como seria possível nos afirmar nesse espaço que é nosso já, enquanto mulher fazedora da arte da palhaçaria. Desde então o nosso desejo só cresceu em torno do assunto. A Wander tornou esse tema objeto de pesquisa e idealizou o F.E.M.E. para cumprir esse objetivo de fomentar não só a palhaçaria feminina, mas sim a comicidade feminina no geral”, explica Elaine, a palhaça Frella Frida.

Responsável por inscrever o projeto no Rumos Itaú Cultural, Wanderlândia conta que nunca havia pensado em ser palhaça. “Eu era uma atriz que fazia drama e não dava certo. Todos davam risada. Era meio desconcertada da função. Fui aos poucos percebendo que eu tinha uma paixão pela commedia dell’arte. E uma paixão maior ainda pelo palhaço. Quando terminei um curso de iniciação ao teatro na minha cidade [Garanhuns, em Pernambuco], percebi que eu queria estudar humor e comédia.”

O F.E.M.E. foi pensado primeiro como sigla. Do universo feminino, as meninas foram tirando palavras como TPM, fêmea, fem, feme. “Nós não queríamos que fosse um festival só de palhaçaria feminina. Mulheres engraçadas englobava muito mais. Como reunir outras linguagens em um mesmo festival?”, questiona Wanderlândia.

Até domingo, 31 de março, as palhaças Salsichinha, Coxinha e Frella Frida e o grupo Clowns de Quinta recebem mulheres engraçadas – da bufonaria ao stand up comedy – de todo o Brasil para um intercâmbio cultural em Maceió. Risadas não faltarão.

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