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Ferramenta permite que usuários criem o seu próprio instrumento musical digital

O mecanismo é fruto de Probatio – Criando Instrumentos Musicais Digitais, projeto criado pelo cientista da computação Filipe Calegário

Publicado em 08/08/2019

Atualizado às 12:08 de 20/08/2019

Por André Bernardo

No YouTube, um vídeo do making of do Probatio – palavra latina que pode ser traduzida como teste, prova ou experimento – dura pouco mais de cinco minutos. Nele, Filipe Calegário, de 34 anos, idealizador do projeto, mostra, através do recurso do fast-forward, o processo de fabricação da placa de circuito impresso, um dos componentes da ferramenta que ajuda na criação de novos instrumentos musicais. Doutor em ciências da computação pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Calegário estima que, “entre idas e vindas, testes e muitos erros”, o processo de construção do protótipo levou cerca de oito meses até chegar a uma versão minimamente livre de bugs.

“O Probatio tem duas formas de funcionamento: uma autocontida, na qual ele mesmo produz seu próprio som, e outra dependente de computador, na qual funciona como interface de entrada”, explica. “Na primeira situação, funciona como uma espécie de sintetizador. Na segunda, além dos suportes e dos blocos, o hub do Probatio se conecta por um cabo USB ao computador.”

Autor do livro Designing Digital Musical Instruments Using Probatio – a Physical Prototyping Toolkit (2017), Calegário explica que o Probatio pode ser dividido em duas partes: suportes e blocos. Suportes são componentes que têm slots para conexão, e sua função é servir de estrutura de sustentação. Já os blocos são unidades de controle gestual com as quais o usuário interage e, para funcionar, é preciso que sejam posicionados nos suportes. Atualmente, o Probatio é formado por 3 suportes e 11 blocos.

Probatio – Criando Instrumentos Musicais Digitais (imagem: divulgação)

“Os blocos permitem diferentes interações, como pressionar, disparar e arrastar. Os suportes, por sua vez, possibilitam experimentar posturas diversas e facilmente reposicionar os controles para melhor adequar a posição das mãos”, afirma. Calegário acrescenta que o Probatio pode ser usado como se a pessoa estivesse tocando guitarra, clarinete, pandeiro, tambor, no colo, entre as pernas ou até embaixo do braço. “As combinações são muitas e dependem da intenção de quem usa.”

O conceito do projeto Probatio – Criando Instrumentos Musicais Digitais começou a ganhar vida durante a pesquisa de doutorado de seu idealizador, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Ao longo do curso, vários insights o levaram a pensar em dois pontos que formam a parte conceitual do toolkit. “O primeiro é o conceito de herança instrumental: os aspectos que são transferidos de um instrumento já existente, como violão e órgão, para um novo instrumento, como guitarra e sintetizador Moog”, detalha. “O segundo é um método de geração de ideias chamado caixa morfológica, no qual artefatos existentes são quebrados em partes e, em seguida, essas partes são recombinadas para gerar novas ideias.”

Fascinado por instrumentos híbridos, como o keytar (mistura de teclado e guitarra), Calegário conta que, num dia desses, estava relendo um antigo post no Tumblr e, de repente, deparou-se com a foto de um pequeno teclado Midi USB em cima de uma guitarra, com a legenda: “Guardar essa ideia”. “Talvez tenha sido a fagulha inspiradora. Ficou incubada e desabrochou no Probatio”, diz.

Mas muita coisa mudou desde que ele começou a desenvolver duas versões do Probatio durante seu doutorado em ciência da computação, concluído em 2017. Dos problemas apresentados pelo protótipo, Calegário destaca dois: o mau contato dos conectores dos blocos com as placas dos suportes e o material, o MDF, que, dependendo da umidade do ar, pode estufar e dificultar o encaixe. “Durante os testes do doutorado com os músicos, o erro que mais atrapalhou foi o mau contato. O sistema parava de funcionar e muitos se culpavam por achar que não estavam usando-o corretamente.” Por essa razão, Calegário começou a experimentar novas formas de conexão, inclusive com opções sem fio. “Conexões por Wi-Fi ou Bluetooth podem dar mais liberdade de experimentação”, avalia. Quanto ao material usado, ele testou modelos 3D com um material chamado ácido polilático, o PLA. “Uma de suas vantagens”, aponta, “é ser biodegradável. Além disso, a temperatura e a umidade interferem minimamente em sua estrutura.”

Alguns dos instrumentos que podem ser criados (imagem: divulgação)

O projeto pode ser dividido em três etapas: desenvolvimento, avaliação e apresentação. Atualmente, Calegário se encontra na fase de experimentação da impressora 3D como forma de fabricação de novos blocos. “É possível elaborar formas mais complexas e aproximar a ergonomia ideal da modularidade característica do Probatio. É muito interessante ver o modelo em 3D no computador e, depois, o físico em sua mão”, analisa.

A próxima etapa será a da produção dos módulos para a experimentação com um sintetizador analógico e com samples. Nela, Calegário terá a ajuda dos produtores musicais Miguel Mendes e Tomás Brandão. Juntos, vão construir um vocabulário de mapeamento entre os dispositivos de entrada do Probatio e os diversos parâmetros sonoros. “Os resultados serão apresentados aos artistas convidados como sugestão de uso.”

A fase de experimentação sonora tem início previsto para agosto, e a expectativa é que o projeto seja finalizado em fevereiro de 2020, com uma apresentação das experimentações feitas com os artistas parceiros. “Os artistas que estiverem disponíveis poderão participar da jam session e mostrar ao público suas experimentações de uso material com o Probatio”, finaliza Calegário.

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