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Uma viagem ao fundo da noite latino-americana

Exposição é oportunidade para conhecer o trabalho da nova geração de fotógrafos que estão fazendo sucesso internacionalmente

Publicado em 07/06/2019

Atualizado às 12:09 de 17/08/2022

por Cassiano Viana

Neste ano, o tema da exposição do Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo é Ainda Há Noite. Apresentada na sede do Itaú Cultural, a mostra reúne imagens que refletem a visão de diversos fotógrafos sobre a noite, seja como conceito ou cenário, e sobre a América Latina.

"Podemos pensar no que a noite tem de revolucionário, no que ela apresenta como enfrentamento aos discursos sólidos, robustos, positivistas da ordem solar do dia", escreve Antônio Xerxenesky, escritor, tradutor e doutor em teoria literária pela Universidade de São Paulo (USP), no catálogo da exposição. "Podemos ainda transformar o nome da mostra numa pergunta. Ainda há noite?", observa.

Obras

Na mostra deste ano, são exibidos trabalhos de artistas e duplas de oito países da região – Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Guatemala, México, Peru e Uruguai –, além da Espanha e dos Estados Unidos.

Confira alguns dos trabalhos que integram a exposição:

Em Boa Noite, Povo, a espanhola Cristina de Middel e o brasileiro Bruno Morais refletem sobre o contexto sociocultural contemporâneo em imagens protagonizadas por animais noturnos, representando o caráter mais primitivo da condição humana.

Em Píxeles, o argentino Alejandro Chaskielberg evidencia a onipresença dos telefones celulares em imagens de indivíduos com o rosto iluminado pelo visor dos aparelhos, apresentados como pixels de uma grande imagem global.

A série Purgatorio, do uruguaio Ignacio Iturrioz, é resultado de um retorno do autor ao apartamento em que viveu em Montevidéu, tendo o edifício como cenário e seus atuais moradores como referências de si mesmo.

De Tiempo en Tiempo un Volcán Estalla, da peruana Gihan Tubbeh, utiliza elementos da natureza – das rochas terrestres às estrelas – para compor uma reflexão sobre a condição feminina no universo.

Em Chile 874, Alejandro e Cristóbal Olivares apresentam imagens das manifestações estudantis que tomaram as ruas de Santiago entre 2011 e 2013. O título do projeto faz referência às 874 pessoas detidas durante uma delas, ocorrida no dia 11 de agosto de 2011.

Em Insidia, o guatemalteco Juan Brenner faz registros noturnos da sua capital natal, o que resultou em "uma crônica de jornadas incansáveis em busca de paz", segundo suas próprias palavras.

O norte-americano Kalev Erickson fez uma edição de imagens a partir do acervo do Archive of Modern Conflict para criar a série Moon Shadows, que transita entre as dimensões do consciente e do inconsciente, entre a vigília e o sono.

O projeto Historia Natural del Silencio, do colombiano Jorge Panchoaga, parte de relatos de pessoas que cresceram em meio a famílias ou indivíduos ligados ao narcotráfico.

Luciérnaga – "vaga-lume", em tradução livre –, projeto do mexicano Yael Martínez, é assim explicado pelo artista: "Busquei representar a capacidade de resiliência daqueles que foram tocados pela violência em algum momento de sua vida, a energia vital que está dentro de nós e como essa luz interior ilumina a escuridão dos nossos dias".

A brasileira Luisa Dörr participa da exposição com a série Basal, que retrata trabalhadores noturnos da cidade de São Paulo. O projeto faz referência ao metabolismo basal, a energia que o corpo usa para manter as funções essenciais, os processos de manutenção das funções vitais de um organismo, como os batimentos cardíacos e a digestão.

"Vi São Paulo como um metabolismo que de noite fica em modo basal, com os funcionários que trabalham para que a cidade não durma por completo, e que quando desperta está tudo em funcionamento", explica.

Artistas premiados

A mostra – que tem curadoria de Claudi Carreras e Iatã Cannabrava – fica em cartaz de junho a agosto de 2019. A entrada é gratuita. "Com a exposição, o público pode tomar contato com artistas premiados internacionalmente em 2019. Temos a Luisa e o Yael, ambos premiados pelo World Press Photo of the Year, o Jorge Panchoaga, premiado neste ano pelo Poy Latam Quito 2019. Além disso, Cristóbal Olivares e Yael estão fazendo a residência da Magnum em Nova York", afirma Claudi.

"Mas essa não é a premissa da mostra. Isso aconteceu no caminho – eles já haviam sido convidados bem antes das premiações neste ano. Os convocados para a exposição deste ano são artistas atuantes no cenário internacional, de uma geração jovem, todos estão entre 25 e 45 anos, e fazem sucesso internacionalmente", explica. "A premissa foi apresentar artistas atuantes e com trabalho relevante hoje no universo da imagem", comemora o curador.

 

Cassiano Viana é jornalista e editor do blog About Light.

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