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Laís Bodanzky: “A indústria do audiovisual é a indústria do sonho”

Se a gente for lembrar e observar a trajetória da humanidade no planeta, o homem se reúne para contar histórias desde sempre

Publicado em 08/05/2019

Atualizado às 16:01 de 08/05/2019

As plataformas e os suportes onde nossas histórias serão contadas estão em jogo. Não está em questão, no entanto, se histórias deixarão de ser contadas. Se a gente for lembrar e observar a trajetória da humanidade no planeta, o homem se reúne para contar histórias desde sempre. Faz parte da nossa natureza, da nossa forma de se relacionar, da nossa forma de pensar, a necessidade de abstrair, de sair de onde estou e ir para outro canto, através do raciocínio, que é o que nos diferencia dos outros bichos. É a necessidade de sonhar.

Eu entendo que a indústria do audiovisual, o setor audiovisual, na verdade, é a indústria do sonho. E ele não vai acabar. Por mais que tentem – e tem gente que tenta bastante e faz uma força enorme para dizer que isso não serve para nada. O sonho faz parte da gente, da nossa forma de viver, do nosso hábito, da nossa maneira de se conectar. A gente precisa do sonho. Ele é justamente o que nos deixa em estado de alerta. É com ele que a gente aprende. Quando dormimos, sonhamos e recebemos informações da realidade, que não sabemos quando acordados. Quantas vezes a gente não acorda no dia seguinte e se lembra daquilo que tinha esquecido? Reorganizamos a mente. Eu acho que é disso que a gente tem de falar e lembrar o tempo inteiro.

Neste ano, completo 50 anos. Quando eu era criança, na minha casa havia uma televisão pequena e um video game. Meu pai é louco por tecnologia. Então tudo o que havia de ponta, de mais avançado, já tinha lá em casa. Eu vi muita transformação: vi o vinil, depois o CD e hoje estou no Spotify. Ouvindo muitas das músicas que escutava na infância.

Com todas essas transformações na forma como histórias são contadas, a leitura, por exemplo, é mais um suporte – não é o único. Os podcasts estão em ascensão também. Os jovens estão ouvindo podcasts com duração de duas horas. E eles querem, cada vez mais, se aprofundar em temas.

A geração nova é muito mais informada do que a dos meus pais. Estou falando uma coisa muito ousada. Minha mãe é uma intelectual, uma professora. Mas eu vejo isso hoje, com filhas adolescentes que não saem do celular. A profundidade dos temas que minhas filhas são capazes de falar me espanta.

Acredito que o que interessa é ter um olhar crítico, saber decifrar aquilo que está lendo. E a leitura para mim não é só o livro concreto, o livro que a gente carrega na mão, mas é também saber ler o audiovisual, saber ler um filme, uma notícia no telejornal. A gente está formando pessoas com olhar crítico?


Laís Bodanzky é diretora e presidente da Spcine, empresa municipal de fomento à produção e à distribuição do audiovisual paulistano. Entre seus filmes estão Bicho de Sete Cabeças (2000), Chega de Saudade (2007), As Melhores Coisas do Mundo (2010) e Como Nossos Pais (2017).

 

*Texto produzido a partir de depoimento dado durante a terceira edição do evento Encontros de Cinema, que reuniu no Rio de Janeiro, nos dias 15 e 16 de abril, diretores, pesquisadores, roteiristas, produtores, jornalistas e gestores desse setor.

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