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Maria e Herbert Duschenes: uma vida dedicada à transmissão de conhecimento da história da arte, da cultura e da dança no Brasil

A Ocupação Maria e Herbert Duschenes, 29ª do Itaú Cultural, joga luz no legado artístico

e cultural deixado por este casal exilado no país em fuga à perseguição durante a Segunda Guerra Mundial; a mostra, acompanhada de programação paralela e uma publicação eletrônica no site do instituto, apresenta vídeos, fotos e documentos que fizeram parte do processo de criação de uma nova perspectiva de ensino, um trabalho que se materializa hoje na atuação de seus alunos reconhecidos nesses segmentos; entres eles, o dançarino

 J.C. Violla e o curador Agnaldo Farias

 

 

 

De 27 de abril a 12 de junho, o Itaú Cultural leva o público a conhecer a vida e atuação do casal de educadores e formadores Maria e Herbert Duschenes, que resultou em um importante patrimônio imaterial nas áreas de história da arte, da cultura e da dança no Brasil. A 29ª mostra da série Ocupação desta vez é totalmente dedicada aos dois. Ela, bailarina húngara (Budapeste, 1922-Guarujá/SP, 2014), introduziu no Brasil o método de seu compatriota Rudolf Laban (1879-1958), influenciada pelos estudos deste coreógrafo e teórico da dança. Ele, professor de história da arte e arquiteto alemão (Hamburgo, 1914-Curitiba/PR, 2003), deu aulas na Fundação Armando Alvares Penteado, a FAAP, onde lecionou por cerca de 30 anos, desde 1967, e ajudou a formar intelectuais como as artistas Jac Lerner e Leda Catunda, o curador Ricardo Resende e Martin Grossman, que recentemente dirigiu o Instituto de Estudos Avançados (IEA/USP).

 

Com curadoria conjunta de Ronaldo Duschenes e Daniel Duschenes – filho e neto do casal –, compartilhada ativa e estreitamente com os núcleos de Educação e Relacionamento, de Artes Cênicas e de Produção do Itaú Cultural, a mostra parte de 24 dos vídeos, em sua maioria Super-8 digitalizados de originais filmados e editados por Herbert.

 

São registros de momentos pessoais do casal que alimentavam o que depois transportariam para os seus ensinamentos: paisagens diversas, as viagens pelo mundo, rostos, adultos, crianças, movimentos e danças dos lugares visitados. Depois, serviam de referência pessoal de Maria e de importante instrumento de trabalho para Herbert em suas aulas.

 

A Ocupação também traz ao público objetos pessoais do casal, como manuscritos, fotografias originais da família e dos dois. Tudo dá a conhecer e reforça o quanto eles se dedicaram e renovaram nos campos da educação, pedagogia, e dança modernas do Brasil, o país que os acolheu, em seus melhores tempos de atuação, dos anos 1940 até 2014.

 

Maria e Herbert

Os dois se estabeleceram no país na década de 1940, exilados da 2ª Guerra Mundial. Aqui se conheceram, se apaixonaram, casaram, tiveram dois filhos e compartilharam o seu interesse comum pela educação. Dedicaram a sua vida a desenvolver formas inovadoras de repartir o seu conhecimento. Por meio dela, retribuíram o acolhimento recebido no Brasil, onde morreram já neste século XXI – ela aos 91 anos, ele aos 88.

 

Ao introduzir o método Laban no país, Maria revolucionou o modo de fazer dança em um trabalho pioneiro baseado na experimentação, na liberdade e no autoconhecimento. No entanto, ela não parou por aí. Durante 10 anos (1984-1994), coordenou o Projeto Dança/Arte do Movimento, realizado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo nas bibliotecas municipais. Tinha como objetivo demonstrar que a dança originada nas características do próprio movimento humano podia ser acessível a todos. Participou de cursos e palestras em faculdades, congressos e apresentações anuais de dança com estudantes e profissionais, além de fazer parte de outros projetos educacionais junto a instituições públicas e particulares.

 

Aos 22 anos, a bailarina e professora contraiu poliomielite (paralisia que normalmente acomete as crianças), o que a levou a buscar novas possibilidades de movimento aplicadas diretamente aos seus alunos, J.C. Violla entre eles.  Na década de 1950, passou a dar aulas práticas e teóricas em sua casa, no bairro paulistano Sumaré, além de ministrar cursos de formação.

 

Os anos seguintes foram marcados pela assinatura de importantes coreografias como as dos espetáculos O Sacro e o Profano: Muitas São as Faces do Homem (1965), uma co-direção com Margarida Krepel; Magitex (1978), um de seus mais importantes trabalhos, realizado com Denilto Gomes (1953-1994), Juliana Carneiro da Cunha e J. C. Violla, e apresentado na 1.ª Bienal Latino-americana. Origens I (1990), realizado no Teatro Municipal de São Paulo, foi um marco, assim como Origens II, que data de um ano mais tarde e foi apresentado na 21.ª Bienal Internacional de Arte de São Paulo com 100 crianças, sob sua supervisão e direção de Maria Mommensohn, Renata Neves, Solange Arruda, Tuca Pregnolatto, Lucia Helena Navarro, Lenira Rangel e Cilô Laca, suas colaboradoras à época.

 

Herbert a acompanhava nesses trabalhos criando os cenários e a iluminação. A bailarina e documentarista Inês Bogéa conta que as criações de Maria traziam aspectos inovadores para a época, como elementos multimídia e objetos diversos. A parceria com sua mulher, porém, era apenas uma das facetas do trabalho de Herbert na sua pratica de compartilhar conhecimento.

 

As aulas que ele deu na FAAP por 30 anos eram frequentadas por jovens sedentos de informação, que aplicam o que aprenderam até hoje, como testemunha a documentarista Paola Prestes. A sua atuação, no entanto, ultrapassava as fronteiras da academia e, aos domingos, ele dava aulas na residência do casal para alunos de outros cursos, entre os quais estava Agnaldo Farias, um atento jovem hoje conhecido curador de arte. Outros que estudaram com ele foram a artista multimídia Jac Leirner e os artistas visuais Leda Catunda e Sérgio Romagnolo.

 

O casal fazia viagens constantes para o exterior em um tempo em que conhecer o mundo não era tão fácil quanto hoje. Além de se alimentar pessoal e profissionalmente, eles registravam tudo o que viam para levar aos seus pupilos. Herbert produziu centenas de filmes em 8 mm ou super-8 sobre os lugares visitados registrando de exposições de arte e da arquitetura local aos costumes das sociedades visitadas. Ele mesmo os editava e exibia nas aulas ou em casa acompanhados de músicas escolhidas especificamente para cada tema que desejava abordar com comentários seus ao longo da apresentação – que, em algumas ocasiões, era seguida de uma conversa.

 

Somam-se mais de 100 filmes com esses registros documentais sobre o patrimônio artístico e cultural captados pelo casal – ele empunhando a câmera – em suas viagens por países da Europa, Ásia, Oriente, África e América, como a Índia, Birmânia, Tailândia, Nepal, Japão, Havaí, China, Vietnã. Estes trabalhos foram utilizados por eles, posteriormente, nos cursos que ministraram não somente em São Paulo como também no Rio de Janeiro, em um momento em que poucos tinham a oportunidade de viajar por lugares tão distantes, particularmente os da Ásia.

 

A casa, projetada por Herbert – que também participou de outros projetos conhecidos como o primeiro edifício do jornal O Estado de S. Paulo, situado no centro da cidade – era ponto de encontro, ainda, de intelectuais, artistas e dançarinos frequentadores das aulas de Maria, inspiradas em Laban. Nessas ocasiões, Herbert registrava em vídeo as atividades, como fazia nos espetáculos de dança com coreografias de sua mulher. Formou-se, assim, um importante acervo de imagens e vídeos sobre dança em São Paulo.

 

Publicação eletrônica

Estendendo a visita ao universo do casal Duschenes proporcionado pela Ocupação que leva o seu nome, o público tem acesso a uma publicação eletrônica produzida pela equipe do Itaú Cultural, no link www.itaucultural.org.br/ocupacao. Ela revela mais da história de ambos, além de apresentá-los como casal – no que se refere à parceria intelectual e afetiva. Contém também cartas de alunos tornando mais palpável a relação que Maria e Herbert estabeleciam com aqueles que frequentavam suas aulas. Um artigo propõe um questionamento sobre a natureza do aprender e do ensinar. Assim, o site do programa Ocupação enriquece tais temas por meio de entrevistas, imagens e outros conteúdos inéditos.

 

Programação paralela

Os núcleos do instituto para a Educação e Relacionamento, as Artes Cênicas e a Produção de Exposição elaboraram uma série de atividades que acompanham a mostra com o objetivo de aprofundar o conhecimento sobre Maria e Herbert Duschenes. Dentro do espaço expositivo, na série (Re)conhecendo Duschenes, realizada durante todos os finais de semana, os educadores do Itaú Cultural conduzem uma conversa sobre a importante atuação do casal no cenário cultural e educacional de São Paulo.

 

Partituras para Maria é realizado todas as terças-feiras e quintas-feiras pelo Grupo Lagartixa na Janela. Com direção de Uxa Xavier, uma série de performances desenvolvidas especialmente para o espaço expositivo são apresentadas em uma espécie de arena que compõe a cenografia especialmente para este fim. Ainda, o curador Agnaldo Farias abre o projeto Aula Aberta às 19h do próprio dia da inauguração da mostra, 27 (quarta-feira) o qual consiste em oito encontros com convidados especiais que viveram experiências significativas com Maria e Herbert (veja informação detalhada).

 

 

SERVIÇO

Ocupação Maria e Herbert Duschenes

No Itaú Cultural

De 27 de abril, a partir das 20h, a 12 de junho de 2016

De terça-feira a sexta-feira, das 9h às 20h

Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h

Piso Paulista

Indicada para todas as idades

Entrada gratuita

Acesso para pessoas com deficiência

Ar condicionado

Estacionamento: R$ 15 pelo período de 12 horas.

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural, 3 horas: R$ 7;

4 horas: R$ 9; 5 e 12 horas: R$ 15.

Com manobrista e seguro. Gratuito para bicicletas.

Acesso para pessoas com deficiência

Ar condicionado

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