PRESS KIT DIGITAL

O CAMINHO ENTRE O PRIMEIRO PENSAMENTO

E A EXISTÊNCIA MATERIAL DA ARTE

 

Em um arco que compreende três pisos, o visitante desta mostra encontra, no primeiro, ensaios que testam a corporeidade que Sandra Cinto pretende conferir à arte. No segundo, atesta desde seus delicados desenhos iniciais e primeiras pinturas de céus, nuvens e faróis. Por fim, chega-se ao cosmo da artista e sua visão poética do universo. Acompanhe, aqui, o passo a passo da exposição nas palavras do curador.

CHUVA

Piso -2

 

A arte é coisa mental, dizia Leonardo da Vinci no Renascimento. O verdadeiro artista é um inventor. Como opera a cabeça de um artista no processo de elaboração da arte? Como é seu método de trabalho na busca de tornar visível o que sua imaginação elaborou? Como Sandra Cinto busca o visível? Como ela elabora a linguagem de modo pessoal? Cada artista tem uma maneira própria de organizar seu pensamento estético e a execução dos projetos. Muito próprio do método Cinto de produção de arte, aqui se apresentam desenhos de estudo de ideias nascentes, maquetes de projetos que aspiram se tornar realidade, anotações como uma espécie de conversa da artista consigo própria, ensaios que testam a corporeidade que ela pretende conferir à arte. Em suma, qual o caminho entre o primeiro pensamento e a existência material da arte?

 

 

NÚCLEOS

 

Biblioteca do Amor

Sandra Cinto convidou mais de 200 artistas de todo o mundo para produzir um livro que refletisse o modo como cada um imagina o amor sob variados pontos de vista: família, desejo, laços humanos, relações entre os países, animais. Essa Biblioteca do Amor resultou em delicada arquitetura coletiva do afeto aberta à exploração do público e à espera de que cada um compartilhe seu próprio modo de pensar o amor. O resultado é um antídoto aos processos políticos e ideológicos que dividem a sociedade

e condicionam seu mal-estar.

 

Ateliê Fidalga

Na Rua Fidalga, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo, o casal de artistas Sandra Cinto e Albano Afonso tem sua casa, o estúdio e um terceiro imóvel que reúne ateliês e uma pequena galeria. Esse complexo deu origem ao Ateliê Fidalga, uma iniciativa do casal. Ali, artistas de todo o Brasil e do mundo são recebidos para residência. É um ponto de encontro de artistas para o debate de suas obras, uma ágora de reflexão crítica, uma usina de produção de arte, um lugar em que esse universo produtivo é apresentado ao público.

 

Educação

Embora entenda que a arte seja autônoma, sem limitações, Sandra Cinto atribui-lhe tarefas, mas sem condicioná-la. A dimensão que ela prefere pensar para sua arte é a educação no arco da sociedade. Arte e educação são para a emancipação da cidadania. Daí sua homenagem à socióloga Evelyn Ioschpe e sua gigantesca obra sobre a arte na educação. Em um mural para uma escola da primeira infância e de primeiro grau, surge um sol fulgurante, amarelo dourado. A educação é luz. Em uma universidade, a intervenção em uma vidraça externa remete à irradiação do saber (The Invisible Telescope). Cinto homenageia o livro e o professor. Reconhece a grandeza de Paulo Freire, autor de Pedagogia do Oprimido,

um signo mundial da civilização brasileira.

 

Azulejos

Sandra Cinto compõe a história luso-brasileira da azulejaria. Na colônia, nossas cidades costeiras recebiam azulejos portugueses. A tradição dos azulejos azuis e brancos ressurgiu com os painéis de Candido Portinari no prédio do Ministério da Educação no Rio de Janeiro. Em seguida, Vieira da Silva, Djanira, Burle Marx, Athos Bulcão, Volpi e, hoje, Regina Silveira e Adriana Varejão se dedicam aos azulejos. Cinto produziu, para ornar piscinas, padrões de azulejos azuis e brancos de ondas do mar, que se afiliam à tradição geométrica de Bulcão, assim como azulejos amarelos luminosos para escolas.

 

A Praça É do Povo

A obra de Sandra Cinto se inscreve na história brasileira da liberdade da arte no espaço urbano. Em Um Frevo Novo, Caetano Veloso canta que “a Praça Castro Alves é do povo / Como o céu é do avião”. Já em O Povo ao Poder, o poeta Castro Alves havia escrito: “A praça! A praça é do povo / Como o céu é do condor”. Esse é o sentido da arte de Sandra Cinto nos espaços públicos: celebrar a cidadania, pois também sua arte é do povo. A artista roda o mundo e sempre chega a sua São Caetano natal, onde tem sua praça do povo.

 

 

 

 

GAROA

Piso -1

 

Neste andar intermediário estão obras realizadas em três décadas de carreira de Sandra Cinto: desde delicados desenhos iniciais sobre luzes e lustres, sonho, sono e abismos, até suas primeiras pinturas de céus, nuvens e faróis. Aqui estão partituras e instrumentos musicais deslocados de sua função de produção de sons para sua hipótese de expressar silêncio. E estudos da anatomia do braço, percebido como instrumento do trabalho humano. A presença real dos objetos estéticos é insubstituível na mobilização do público e na experiência dos sentidos.

 

 

NÚCLEOS

 

História da Arte

A produção de Sandra Cinto observa a história da arte e dela extrai imagens e debates que possam enriquecer seu projeto de arte. Não se trata de simples cópia ou citação, mas da tomada de elementos que possam mobilizar novas questões. A história só interessa quando traz nova espessura para o presente. Em sua visão ecológica dos céus e das águas estão referências a imagens elaboradas por Théodore Géricault, Katsushika Hokusai, Alberto da Veiga Guignard, Jacques-Louis David, Sol LeWitt e pela tradição brasileira da azulejaria, desde o período colonial até o século XXI. Agora, o desafio de Cinto é:

como revigorar a história?

 

Antarctica Artes com a Folha

A mostra Antarctica Artes com a Folha (1966) foi um mapeamento da produção emergente (“artistas sem currículo”) de todo o país. A participação de Sandra Cinto, com um conjunto de objetos disparatados, é aqui reunida novamente. Um lustre, em posição bem baixa, na altura dos olhos das pessoas, era como o firmamento cintilante que visitasse a Terra. Uma grande gaiola, com a mesma medida da artista, trata do corpo domesticado por regras sociais, um aspecto da biopolítica, da dominação de todos pelos poderes na sociedade. Uma caixa fechada continha imagem de nuvens. Cinto cobra esforços para descobrir o mundo, pois mesmo o céu, que parece que sempre estará ali, será outro na medida em que c

onhecermos melhor a natureza.

 

Zona Acústica

O olho escuta, afirmou o poeta Paul Claudel. A obra de Sandra Cinto é povoada de silêncios (Pausa) e de sons virtuais e incidentais. Na instalação Partitura, milhares de folhas do pentagrama musical são amassadas pelo público e acumuladas. O estalar dos papéis amarrotados pelas mãos são ruídos que se impregnam em nossa memória. Móveis possuem pés em forma de pilha de livros ou de flautas tenores – novas sonoridades a serem capturadas por nossos olhos. Um espaço com paredes internas em semicurva e desenhos de pautas indicam o ritmo que envolve o visitante. Instrumentos musicais cintianos, como uma orquestra de câmara, se espalham por esse espaço, além de sopro e cordas. Um cello unido a um violino por justaposição, similitude formal e tratamento plástico dado pela artista resulta na obra Mãe e Filho.

 

Théodore Géricault

A Jangada da Medusa (1818-1819), a grande tela de Théodore Géricault, registra um salva-vidas com náufragos do navio que bateu e afundou na África. Houve fome e mortandade na jangada, pois o governo francês custou a enviar socorro. Um negro usou sua camisa para chamar atenção do navio salvador, outro negro foi carpinteiro da jangada. São eles que salvam o grupo. A obra é um argumento contra a escravidão na África, uma vez que a abolição decretada na Revolução Francesa só valia no território da metrópole.

 

Hokusai

A Grande Onda de Kanagawa, da série Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji (1830-1833), de Hokusai, é uma obra-prima da arte universal. A frágil canoa enfrenta as enormes vagas do Oceano Pacífico, supera os desafios do movimento das águas nas grandes marés provocadas pela lua. Ao fundo, o Monte Fuji parece a tudo assistir, impassível. O que interessa a Cinto é a cadência do tempo nas ondas do mar e a resistência dos tripulantes diante das águas adversas.

 

Noites de Esperança, a Viagem pela Imaginação

O título Noites de Esperança: a Viagem pela Imaginação é muito próprio para uma obra de Sandra Cinto. Depois de sobreviver ao naufrágio com o navio Medusa e de enfrentar destemida a onda de Hokusai, Cinto propõe, em Imitação da Água, uma frota de milhares de barquinhos de papel, como uma procissão naval que aponta para um horizonte seguro. As invenções da artista parecem não seguir roteiro predeterminado. Sua arte, no entanto, é do campo da positividade da ação para o Outro – daí a conexão entre imaginação e esperança. Toda sua obra oceânica mapeia o mar das superações.

 

Águas

Sandra Cinto é uma artista das águas: nuvens, neblina, garoa, chuvas, ondas, mares e piscinas. A filósofa Luce Irigaray correlaciona a mulher à mecânica dos fluidos, por sua versatilidade e transformação ao longo da vida. O homem, para ela, seria do campo da mecânica dos sólidos. Se Cinto é artista dos fluxos e fluidos, então a aquarela, o nanquim e outras tintas não viscosas são seus materiais para construir a metáfora da água como o próprio curso da vida. No Projeto para A Grande Chuva, Sandra Cinto sintetiza o fenômeno por meio de uma geometria da água resultante da queda das gotas sob o efeito da gravidade e dos ventos, como Lívio Abramo fez com as chuvas do Paraguai.

 

Guignard

Nas paisagens terrenas de Guignard e cósmicas de Sandra Cinto há pontes entre as nuvens, que superam abismos. A arte é conexão entre as pessoas. São artistas do inefável, do encantamento. Os lugares alegóricos de Guignard relacionam natureza, cultura e tradição como magia da arte: a matéria pictórica rala pode ser neblina desvanecente ou sólida montanha. Só a arte pode criar ambiguidade entre forças naturais tão opostas. Assim são as paisagens de Cinto, o céu na terra, a montanha que parece se dissolver, como a chuva escorrendo num rochedo. Em Teoria da Nuvem, do filósofo Hubert Damisch, caberiam como lições de pintura e desenho as paisagens imaginárias de Guignard e de Cinto,

que nos situam em estado de suspensão.

 

Réquiem para uma Montanha

Em Confidência do Itabirano, o poeta Carlos Drummond de Andrade revela a nostalgia da infância e da juventude em sua cidade e a saudade das montanhas destruídas pela mineração: “Hoje [...] / Itabira é apenas uma fotografia na parede / Mas como dói!”. Karl Marx transfere o aforismo “tudo que é sólido desmancha no ar” para o contexto do capitalismo, levando o significado para construções, máquinas, riquezas. Réquiem para uma Montanha, de Sandra Cinto, são paisagens aquosas em que a terra se exaure e se desmancha, como as lembranças de Drummond e a riqueza no capitalismo.

 

Anatomia

Sandra Cinto explora sentidos simbólicos da motricidade. Seu pai era operário da indústria; seus braços se ajustavam ao trabalho alienante em complemento às máquinas, cansavam-se e corriam risco de acidente em um descuido. O braço da artista é que executa a arte. Para Cinto, ele é também superfície do mundo (como telas e paredes), conquistada por meio do desenho. Em Alabastro, o braço de Cinto é translúcido, em uma metáfora da capacidade do artista de iluminar a vida. Em outra escultura, seu braço pende em frente a um retângulo escuro, à semelhança do braço de A Morte de Marat (1793), de Jacques-Louis David. Esse “vazio de luz” noturno, sem estrelas, na obra de Cinto é o vazio da morte na pintura de David.

 

Ondas da Democracia

Sandra Cinto foi convidada para ornamentar o ambiente da piscina do edifício do Sesc São Caetano. A cidade operária é uma memória viva para a artista, que ali nasceu, cresceu e descobriu sua vocação para a arte. Cinto escolheu usar azulejos com desenho azul e branco, alusivos à água e com o ritmo gráfico de ondas que remetem ao próprio movimento das pessoas nadando. O fluxo da linguagem segue a fluidez da água, em alusão A Grande Onda de Kanagawa, de Hokusai, e ao movimento rítmico dos banhistas. O espaço-tempo, entre a física e a arte, é a marca dessa homenagem ao lazer e à saúde.

 

 

 

NEBLINA

Mezanino

 

Este andar conduz ao cosmo de Sandra Cinto, à sua visão poética do universo, junto com obras de Albano Afonso, seu marido, com quem divide a iniciativa do Ateliê Fidalga. Ele reconstrói o código da fotografia, deslocada da condição de pacto social em torno da verdade visual, removida para uma situação de objeto em crise por meio de operações físicas (furos, cortes, justaposições). Albano e Sandra têm em comum

o enfoque no céu.

 

O céu de Cinto se faz por camadas espaciais. Estão ali o céu de nuvens da Terra e os pontos remotos de um universo imaginário, cujos confins a ciência mal começa a conhecer. Ali, uma instalação em espaço tridimensional curvo indica que a Terra é uma esfera, opõe-se à teoria obscurantista da terra plana. Cinto leva a grandeza inimaginável do cosmo ao entendimento das pessoas comuns. Ela converte os visitantes em exploradores do universo, em cosmonautas poéticos a caminho da consciência ecológica de uma humanidade mais responsável.

 

 

NÚCLEO

 

Noites de Esperança

Noites de Esperança foi desenhada com ponta-seca, um instrumento de aço, que conquista a madeira marcando a imagem. Sandra Cinto celebra a ventura da visão, mas, ao mesmo tempo, prepara esta mostra para atender a pessoas com necessidades especiais de percepção. Na cena noturna, palco para o sono e o sonho, todo céu cósmico da artista é um firmamento da esperança, é um traço positivo

contra nossa nictofobia existencial.

 

Nictofobia é o medo da noite e da escuridão, nosso pavor diante da situação em que não podemos enxergar. O artista é aquele que conduz a visão possível pela noite obscura da interioridade do sujeito. Noites de Esperança dialoga com Festa Abolicionista em Paquetá, de Émile Rouède. Aqui, o fantasma dos fogos de Paquetá foram as promessas, até hoje não cumpridas, de emancipação dos afrodescendentes

desde o 13 de maio.

 

 

Paulo Herkenhoff

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Serviço

Sandra Cinto: das Ideias na Cabeça

aos Olhos no Céu

 

Abertura: 11 de março (quarta-feira), às 20h

Visitação: 12 de março a 3 de maio

Pisos: Mezanino, -1 e -2

Classificação etária: livre
De terças-feiras a sextas-feiras, das 9h às 20h
(permanência até as 20h30)
Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h
Entrada gratuita

Realização:

Itaú Cultural

Avenida Paulista, 149

Estação Brigadeiro do Metrô

Fones:  +55 11 2168-1776/1777

Acesso para pessoas com deficiência física

Ar condicionado

 

Estacionamento:

Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108

Se o visitante carimbar o tíquete

na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7;

4 horas: R$ 9;

5 a 12 horas: R$ 12

Com manobrista e seguro.

Gratuito para bicicletas.

 

www.itaucultural.org.br

     

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