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Quando a fotografia nos transporta e faz lembrar a história

Todos sabem: o ano de 1968 varreu o mundo como um tsunami, uma grande onda de mudanças e rupturas. Das manifestações estudantis em Paris...

Publicado em 13/04/2016

Atualizado às 10:40 de 08/08/2018

Por Cassiano Viana

Todos sabem: o ano de 1968 varreu o mundo como um tsunami, uma grande onda de mudanças e rupturas. Das manifestações estudantis em Paris – o Maio de 68 – aos movimentos nos Estados Unidos contra a Guerra do Vietnã e à luta pelo fim da ditadura no Brasil, passando por guitarras elétricas, experimentalismos, questionamentos das convenções sociais e da estrutura familiar, lealdades ideológicas e legados culturais. O ano que não acabou, como diz Zuenir Ventura, ainda carrega consigo o fardo do assassinato de Martin Luther King e de Robert Kennedy.

Esse é o cenário de 1968, o Fogo das Ideias, de Marcelo Brodsky, uma das obras que integram a exposição Arquivo Ex Maquina: Identidade e Conflito na América Latina, que acontece no Itaú Cultural de 15 de junho a 7 de agosto, com entrada gratuita, e faz parte do IV Fórum Latino-Americano de Fotografia de São Paulo (realizado de 16 a 19 de junho).

[caption id="attachment_91408" align="aligncenter" width="355"]Técnica: Fotografia de arquivo em branco e preto © Evandro Teixera, 1968. Intervenções com textos à mão por Marcelo Brodsky, 2015 [/caption]Técnica: Fotografia de arquivo em branco e preto © Evandro Teixera, 1968. Intervenções com textos à mão por Marcelo Brodsky, 2015

O trabalho de Brodsky resgata fotografias de arquivo daquele ano, com intervenções feitas à mão pelo artista. O fotógrafo participa ainda da mesa Conspirações à Luz do Dia: Redes e Ações para a Fotografia, no dia 18 de junho, encerrando os debates do fórum.

[caption id="attachment_91409" align="aligncenter" width="354"]Fotografia de arquivo em branco e preto © Eduardo Martinelli, 1969. Intervenções com textos à mão por Marcelo Brodsky, 2014 [/caption]Fotografia de arquivo em branco e preto © Eduardo Martinelli, 1969. Intervenções com textos à mão por Marcelo Brodsky, 2014

Operação Condor, do português João Pina, trata da memória das vítimas do plano militar secreto instituído, em 1975, por seis países latino-americanos governados por ditaduras militares de extrema direita, para eliminar a oposição política. A operação – que tinha a intenção de calar os que pensavam de outra maneira, chamados de ameaça comunista e de "subversivos" – resultou na prisão, na tortura e na morte de cerca de 60 mil pessoas.

Durante aproximadamente uma década, Pina viajou de forma extensiva pela Argentina, pelo Brasil, pela Bolívia, pelo Chile, pelo Paraguai e pelo Uruguai para documentar o que restou da época do Condor. O fotógrafo conduz ainda, ao lado de Felipe Nepomuceno, o workshop Arquivo e Memória Política, como parte da programação do fórum.

Também integra a mostra a obra Cabanagem, do paulistano André Penteado, que passou dois meses e meio no Pará buscando, no presente, marcas reais e metafóricas do que foi a revolta social que aconteceu na região entre 1835 e 1840, deixando cerca de 30 mil mortos e sendo considerada um dos maiores conflitos já ocorridos na história do Brasil. Entre idas e vindas à região, onde Penteado passou dois meses fotografando, o resultado foram mais de 16 mil imagens na bagagem, algumas delas publicadas em livro homônimo.

[caption id="attachment_91384" align="aligncenter" width="566"]André Penteado passou dois meses e meio no Pará buscando, no presente, marcas reais e metafóricas do que foi a revolta social que aconteceu na região entre 1835 e 1840 [/caption]André Penteado passou dois meses e meio no Pará buscando, no presente, marcas reais e metafóricas do que foi a revolta social que aconteceu na região entre 1835 e 1840

Outro trabalho que faz parte da exposição é Boa Aparência, do mineiro Eustáquio Neves, um dos grandes nomes da fotografia brasileira. A ideia para a obra surgiu quando ele pesquisava textos e anúncios em periódicos antigos que denunciavam a fuga de escravos, informando as suas características e marcando a boa aparência como um diferencial – o qual, inclusive, aumentava o valor de mercado desses escravos.

Mais tarde, Eustáquio teve a ideia de confrontar esse tipo de informação com as ofertas de emprego dos classificados dos jornais atuais, que pediam, como requisito para a vaga, a mesma boa aparência. Além de contribuir para a construção da memória da cidadania negra no país, ao revisitar a história do Brasil escravista, o trabalho do fotógrafo nos faz pensar sobre os reflexos dessa memória escrava e das relações de trabalho nos dias de hoje.

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