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Um acervo que guarda a diversidade da música popular brasileira

Projeto prevê a digitalização e a difusão do acervo do pesquisador e instrumentista Djalma Corrêa

Publicado em 11/09/2018

Atualizado às 10:31 de 12/12/2022

Por Amanda Rigamonti

Em aproximadamente cem fitas de áudio, 10 mil fotografias e slides e cem rolos de filme em super-8, o pesquisador de música e cultura popular Djalma Corrêa conserva registros que realizou durante 40 anos em pesquisas de campo por todo o Brasil – e guarda neles a diversidade da música popular brasileira.

Djalma Corrêa nasceu em 1942 em Ouro Preto (MG). Cresceu em uma família musical – com pai flautista e irmãs pianistas – e aos 12 foi para Belo Horizonte estudar música. Lá aprendeu bateria e participou de diversos grupos musicais. Mais tarde, mudou-se para Salvador para ingressar na Universidade Federal da Bahia (UFBA), e foi então que começou a formar seu acervo.

“A criação do acervo está ligada à minha ida para a Bahia, quando estudei na UFBA. O professor Koellreutter, então diretor dos Seminários de Música da Bahia, me emprestou um gravador e eu comecei a documentar os terreiros – foi esse o ponto inicial da documentação. Depois de certo tempo consegui um gravador Nagra, que é específico para o som de cinema. Passei a gravar de forma mais contínua e profissional. Então, de Salvador fui para algumas cidades do interior da Bahia, e comecei a fazer em outros estados: Sergipe, Pernambuco... E fui fazendo Brasil afora”, conta Djalma.

Ainda em Salvador, em 1970, criou com mais dois percussionistas o Grupo Baiafro, que cresceu até somar 21 integrantes. O material que Djalma gravava era usado como pesquisa para a ampliação do repertório do grupo. Mesmo após deixar o Baiafro, em 1976, seguiu com suas gravações. Nessa época, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde participou com Gilberto Gil, Gal Costa, Caetano Veloso e Maria Bethânia do espetáculo Doces Bárbaros. Em parceria com esses músicos viajou mundo afora, coletando materiais também de Cuba, da Venezuela, do Japão e de diferentes países dos continentes europeu e africano.

O pesquisador e instrumentista comenta ainda que em suas andanças pelo país chegava às cidades já com uma previsão do que queria documentar, mas constantemente era surpreendido. “Era uma coisa que ficava ao sabor do momento, eu chegava e às vezes encontrava uma coisa que não estava prevista e acabava fazendo algo maravilhoso. No Recife, eu me deparei com uma dupla de emboladores no mercado, dois meninos maravilhosos, Pintassilgo e Sabiá, de quem gostei demais e fiz uma documentação maravilhosa”.

Djalma reforça a importância ímpar de seu amplo material, em especial no quesito da preservação da memória histórica e cultural do país. “Há várias coisas que documentei que não existem mais. Manifestações que ou acabaram ou estão em processo de extinção, então é uma forma de preservar essas informações. Há ainda eventos históricos, como a gravação da primeira vez em que Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Tom Zé e Gal Costa pisaram no palco para um show, em 1964, na Bahia”.

Com o projeto Acervo Djalma Corrêa: Música e Cultura Afro-Brasileira, da Balafon – Núcleo Brasileiro de Percussão, em breve parte desse vasto acervo estará disponível para consulta em um site. Serão imagens e sons de grupos de capoeira, maculelê, afoxé, samba de roda, congo, cacumbi, termos de reis, bumba meu boi, terreiros de candomblé e xangô – entre outros grupos e encontros culturais – de diferentes estados brasileiros, como Bahia, Sergipe, Alagoas e Pernambuco.

O projeto prevê a organização, a catalogação, a digitalização e a difusão desses materiais, mas também tem em vista gravações com o próprio Djalma. A antropóloga e cientista social Cecília de Mendonça, integrante do Balafon – Núcleo Brasileiro de Percussão, comenta a proposta dos registros: “Ao longo do processo de digitalização e preservação, pretendemos gravar as histórias que ele tem desses momentos para assim preservar também a memória de como foi a construção do acervo”.

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