Acessibilidade

Fonte

A+A-
Alto ContrasteInverter CoresRedefinir
Agenda

CineAula IC Play #5: Transver o mundo

A quinta sequência didática do projeto “CineAula IC Play” traz propostas de exercícios baseadas no curta-metragem “Transviar”

Publicado em 11/08/2025

Atualizado às 18:24 de 11/08/2025

CineAula IC Play – 1ª edição
Luz, câmera, educAção:
o streaming gratuito do cinema brasileiro na sala de aula


por Sayonara Nogueira

Sequência didática #5: Transver o mundo

Ficha técnica

Filme
Transviar (Espírito Santo, 2021) 
Direção, roteiro e produção Maíra Tristão
Produção executiva Maíra Tristão e Gustavo Senna
Direção de fotografia Maura Grimaldi e Maíra Tristão
Finalização e correção de cor William Rudman
Desenho e edição de som e mixagem Gisele Bernardes
Gravação de foley Gisele Bernardes e Marcelo Silvano Studio 3
Arte gráfica Mauna Grimaldi
Classificação indicativa livre
Gênero documentário
Sinopse O documentário experimental Transviar explora a vida e a tradição das paneleiras de barro de Vitória, Espírito Santo, por meio da história de Carla da Victória. Além disso, incita a reflexão sobre o impacto da transfobia na vida de travestis e pessoas trans.

I. TRAILER PARA QUEM EDUCA

Caro professor e cara professora,

Pensemos nestas situações: Lúcia dá aula de língua portuguesa na Escola Estadual Carolina Maria de Jesus; Jéssica está se preparando para o vestibular; secundaristas colocam-se contrários ao fechamento de colégios. Mais do que circunstâncias, essas são cenas, respectivamente, da série Segunda chamada (2019-2021), do longa Que horas ela volta? (2015) e do documentário Escolas em luta (2017). Todas elas unem contextos de aprendizagem ao audiovisual criado no nosso país. As câmeras colaboram para discussões e imaginários acerca da educação no Brasil – em diferentes fases, com diferentes sujeitos. Mas por que começar esta conversa assim, recuperando takes? A razão nada tem de complicada: o que queremos mesmo é falar dessa combinação entre os fazeres cinematográfico e educacional, essência do novo projeto do Itaú Cultural (IC).

Com a intenção de aproximar o cinema da Educação Básica, estimulando o letramento audiovisual e a valorização das produções nacionais, apresentamos o CineAula IC Play. A cada mês, vocês podem conferir, aqui no site do IC, sequências didáticas baseadas em conteúdos disponíveis na IC Play, a nossa plataforma de streaming gratuita. Esta iniciativa busca oferecer ferramentas para a aplicação da Lei nº 13.006/2014 – a qual obriga a exibição de filmes brasileiros nas escolas básicas –, entendendo, ainda, que a fruição estética e crítica corresponde a um direito e um componente fundamental do processo formativo e cidadão.

Os exercícios propostos, vale salientar, estão em consonância com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e com o seu complemento, que aborda a área da computação. E, em alguns casos, as tarefas podem suscitar debates sobre inteligência artificial (IA) em aula (tudo em conformidade com a Lei nº 15.100/2025, que proíbe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis em sala, exceto quando utilizados para fins estritamente pedagógicos ou didáticos, sob orientação de educadores).

As atividades aparecem divididas em tópicos, cujas denominações remetem a termos do audiovisual, incorporando essas expressões ao nosso vocabulário. Esta parte, por exemplo, é como um trailer; depois, há o plano-sequência e os bastidores, vejam só. Fora isso, saibam que todas as produções selecionadas para o CineAula IC Play estão licenciadas para exibição em ambientes escolares. Logo, fiquem à vontade para assistir às indicações com os alunos. 

Esta sequência didática trabalha o filme Transviar, um curta documental que explora a vida e a tradição das paneleiras de barro de Vitória, Espírito Santo, por meio da história de Carla da Victória, mulher transexual, filha, neta e bisneta de paneleiras, que aprende a modelar as panelas de barro da mesma forma que moldou sua própria identidade. Desse modo, entrelaça a ancestralidade do barro e das águas do mangue com a construção de si, numa montagem sensorial que evoca tanto resistência quanto contemplação. Presente em importantes seleções nacionais e internacionais como a 25ª Mostra de Cinema de Tiradentes, o 33º Kinoforum, o 29º Festival de Cinema de Vitória e o Cabíria Festival, esse curta de Maíra Tristão foi agraciado com o Prêmio Borboleta de Ouro no Kinoforum e recebeu Menção Honrosa da ABD Capixaba no Festival de Vitória. Seu olhar sensível, aliado à opção pela película analógica, transforma o documentário em uma experiência estética envolvente e reflexiva sobre identidade, natureza e legado cultural – um convite imperdível para quem busca cinema que transcende entretenimento e se torna memória pulsante da resistência feminina e LGBTQIAPN+.

Esta sequência se estrutura majoritariamente a partir da área de Linguagens, mas se articula de forma orgânica com outros campos do conhecimento, especialmente artes, sociologia e filosofia. Os temas abordados – como identidade, diversidade, tradição, sensibilidade estética e cidadania – são tratados de maneira interdisciplinar, em consonância com os princípios do Novo Ensino Médio, promovendo o desenvolvimento de competências gerais e específicas de múltiplas áreas.

Destacamos, por fim, que, embora este material tenha sido elaborado pensando em turmas do Ensino Médio, ele pode ser adaptado para outras etapas da educação, desde que respeitada a classificação indicativa do filme. Nesse sentido, as adequações devem considerar as necessidades e os momentos de cada grupo, observando o seu ritmo e construindo um percurso que sempre respeite a todos.

Boa leitura! E boa sessão!

O pôster tem o fundo vermelho, uma foto centralizada de barro e o título do curta-metragem em branco.
Pôster do curta-metragem Trasviar | imagem: divulgação

II. PLANO-SEQUÊNCIA

a)     Luz – Vozes que o mundo insiste em calar

Objetivos
 
O objetivo desta primeira etapa é favorecer a escuta, o diálogo e o desenvolvimento da empatia por meio de vivências, debates e análise de uma canção que retrata a realidade de pessoas trans, estimulando a reflexão crítica sobre preconceitos, desigualdades sociais e o papel da escola na promoção do respeito à diversidade.

Habilidades da BNCC

(EM13LGG102) Analisar visões de mundo, conflitos de interesse, preconceitos e ideologias presentes nos discursos veiculados nas diferentes mídias, ampliando suas   possibilidades de   explicação, interpretação e intervenção crítica da/na realidade.

(EM13LGG502) Analisar criticamente preconceitos, estereótipos e relações de poder presentes nas práticas corporais, adotando posicionamento contrário a qualquer manifestação de injustiça e desrespeito a direitos humanos e valores democráticos.

(EM13LGG703) Analisar obras de diferentes linguagens, gêneros e estilos, considerando seus contextos de produção e recepção, e os temas e questões que abordam.

(EM13CHS106) Discutir preconceitos e discriminações étnico-raciais, de gênero, orientação sexual, geracionais, religiosos ou culturais, a partir da análise de práticas e discursos sociais.

(EM13CHS502) Compreender os processos de constituição das identidades sociais e culturais e sua relação com o reconhecimento e a valorização da diversidade.

Mãos à obra

Antes de iniciar, é importante que você introduza a temática da diversidade junto aos educandos, demonstrando que ela existe e é constituída por marcadores sociais como raça, cor, gênero, sexualidade, religião, território e classe social. Ressalte que as identidades são construídas de forma social e histórica e que a escola, por ser um espaço plural, reúne inúmeras diferenças. Entre suas funções, cabe à escola o papel fundamental de abordar essas temáticas, contribuindo para a prevenção, sobretudo, de violências simbólicas e físicas contra pessoas LGBTQIAPN+. Promova, então, uma roda de conversa, apoiando-se nos questionamentos a seguir.

- Você conhece ou convive com alguma pessoa trans?
- Já teve contato com as expressões orientação sexual e identidade de gênero?
- Quais são, na sua opinião, os principais desafios e obstáculos enfrentados pelas pessoas trans na sociedade?
- De que maneira a educação pode contribuir para a construção de uma sociedade mais inclusiva e respeitosa?
- O que você entende por diversidade sexual?
- Por que existem ataques LGBTfóbicos? 
- Que outros tipos de intolerância e discriminação podem ser identificados em nossa sociedade? 

Em seguida, explique aos educandos, com base na imagem “o biscoito do gênero”, as diferenças entre orientação sexual e identidade de gênero.

Imagem com fundo rosa, na qual há o desenho de um biscoito bege, com olhos e sorriso. O biscoito conta com indicações das palavras identidade, orientação e sexo, explicadas ao lado. A intenção da imagem é discutir as diferenças entre identidade de gênero, expressão de gênero, sexo biológico e orientação afetivo-sexual.
“Biscoito do gênero” | imagem: Caio Ramos/Nonada Jornalismo


Após a roda de conversa, faça a dinâmica “Caminhando na pele do outro”, que tem como objetivo estimular os estudantes a se colocarem no lugar de pessoas que sofrem preconceitos, promovendo a empatia e a compreensão dos desafios enfrentados por diferentes grupos sociais.
 
Peça a eles que fiquem em pé, lado a lado, formando uma linha. Distribua, a cada um, um papel com uma identidade fictícia (por exemplo: mulher negra, cadeirante, pessoa LGBTQIAPN+, pessoa trans, pessoa refugiada, imigrante, entre outras). Em seguida, faça perguntas relacionadas a situações que impactam esses grupos, como: “Você já deixou de frequentar algum lugar porque não era acessível?”. 
 
Cada vez que o educando acreditar que a pessoa que ele representa enfrentaria aquela situação, deve dar um passo para trás.
 
Ao final, observem quem deu mais passos para trás – esses personagens representam os grupos mais marginalizados socialmente. A partir disso, promova uma reflexão coletiva sobre desigualdades, privilégios e formas de promover o respeito e a inclusão.
 
Para encerrar o momento “Luz”, apresente aos alunos a música “Balada de Gisberta”, de Pedro Abrunhosa, na interpretação de Maria Bethânia. Você pode tocá-la em sala de aula e/ou levar a letra impressa. A canção é uma homenagem à vida de Gisberta Salce Júnior, mulher trans migrante brutalmente assassinada em Portugal, em 2006, e aborda de forma sensível temas como marginalização, dor e resistência das pessoas trans.
 
Convide os estudantes a interpretar a letra da canção que acabaram de ouvir ou ler. “Balada de Gisberta” apresenta a infância de Gisberta, descrita como uma “criança de alma mulher”, que já se percebia diferente dos demais. A música delineia seu desejo de expressar sua identidade feminina e mostra como essa vivência a tornava alvo de olhares e preconceitos. Nesse início, é possível traçar um paralelo com Carla, personagem do curta Transviar, quando afirma: “eu já era mulher, eu só fui me moldando”. Ambas revelam a consciência precoce de sua identidade e os desafios enfrentados ao transitar por um mundo que insiste em negar o que foge à dita norma.
 
A narrativa da canção avança pela jornada de descoberta da identidade de Gisberta e sua luta para se afirmar como mulher, apesar da discriminação e do preconceito. Ela é retratada como uma mulher forte e determinada, que não se deixou intimidar pelas dificuldades. A música também aborda sua vivência como trabalhadora sexual - um fato que a marginalizava ainda mais e a expunha à violência. Gisberta aparece como uma mulher vulnerável, que sofreu, em seu próprio corpo, as consequências da transfobia. A letra se encerra com a descrição de sua morte brutal e deixa como marca uma mensagem de indignação e denúncia diante da violência e do preconceito que atingem a comunidade trans.
 
Após a escuta, estimule um diálogo guiado sobre quem foi Gisberta, o que sua história representa e como é narrada na música.
 
- Como a música constrói a imagem de Gisberta?
- Que sentimentos ela desperta?
- Quais violências são retratadas?
- Por que é importante falar sobre isso hoje?
 
Por fim, solicite aos estudantes que debatam em duplas: 
 
- Quais imagens ou frases da música dialogam com o relato de Carla?
- Que semelhanças há entre as duas narrativas em relação à infância, à identidade de gênero e à exclusão?
- Como a arte (a música e o cinema) pode ser uma forma de denúncia e resistência?


Carla da Victória está de costas, no rio. Ela usa um vestido vermelho e está descalça. Ao fundo, há árvores e uma canoa.
Carla da Victória em Trasviar | imagem: divulgação

b)     Câmera Um olhar audiovisual


Objetivos

Esta atividade tem como objetivo desenvolver a percepção crítica e criativa dos estudantes em relação à linguagem audiovisual, por meio da identificação e análise dos principais elementos técnicos de um curta-metragem. Ao observar aspectos como roteiro, direção, fotografia, edição e som, os educandos ampliam sua compreensão dos efeitos de sentido presentes nas escolhas de linguagem e aprofundam sua capacidade de leitura estética e ética da narrativa. A proposta também estimula a escuta sensível, a reflexão sobre identidades sociais e a produção de sentidos a partir da articulação entre linguagem, memória e realidade.
 
Habilidades da BNCC
(EM13LGG304) Analisar produções midiáticas e artísticas em diferentes linguagens, considerando os processos de produção, circulação e recepção, bem como seus efeitos de sentido.
 
(EM13LP03) Analisar criticamente produções midiáticas e culturais, considerando o contexto de circulação, os elementos constitutivos e as estratégias de construção de sentidos.
(EM13LP04) Produzir textos (verbais, multimodais, multissemióticos) com autoria, clareza e adequação às condições de produção e recepção.
 
(EM13CHS104) Analisar e posicionar-se criticamente diante de questões sociais, culturais e políticas, com base no respeito aos direitos humanos e na valorização da diversidade.

Mãos à obra

Para este exercício, entregue a cada estudante uma fotocópia contendo os principais componentes de um curta-metragem, acompanhados de suas respectivas descrições. 

Roteiro: destaca-se pela organização da narrativa. Envolve a definição da estrutura (início, desenvolvimento e desfecho), a construção dos personagens, a elaboração dos diálogos e a descrição detalhada das cenas. É a base que orienta toda a produção.
Direção: cabe ao diretor definir o estilo visual e conduzir a equipe durante as filmagens. Sua função é transformar o roteiro em linguagem cinematográfica, garantindo unidade estética e coerência entre os diferentes elementos do filme. 
Fotografia: refere-se à criação das imagens do curta. Envolve o uso da luz, a composição dos planos, os enquadramentos e a escolha de uma estética visual que contribua para a construção de sentidos e atmosferas. 
 
Edição: é o processo de montagem das imagens e sons gravados. A edição organiza a narrativa, define o ritmo do filme e pode intensificar emoções, criar contrastes ou construir fluidez entre as cenas.
 
Som: abrange os diálogos, a trilha sonora, os efeitos sonoros e os silêncios. É essencial para criar atmosferas, expressar emoções e dar profundidade à narrativa audiovisual. 
 
A seguir, exiba o curta-metragem para o grupo. 
 
Durante a exibição, oriente os educandos a prestar atenção aos principais aspectos técnicos e narrativos do filme.
 
Após a exibição, solicite que preencham uma lista ou tabela com os elementos identificados no curta, com base nas observações deles. Algo como: de um lado, organize alguns componentes essenciais para a realização da obra (roteiro, direção, fotografia, edição e som); do outro, descreva os elementos referentes a cada um desses itens.

Professor, para cada um dos elementos, os alunos podem comentar o seguinte:
 
No roteiro, o curta apresenta a narrativa de Carla da Victoria, mulher trans e descendente de paneleiras de barro em Vitória (ES), cuja trajetória de autoconhecimento e afirmação de gênero se entrelaça à tradição familiar das panelas. O documentário constrói uma estrutura intuitiva, mesclando memórias, ofício e identidade, sem roteirização rígida mas com forte carga simbólica e poética.
 
Na direção, Maíra Tristão adota um olhar contemplativo e poético, articulando imagens do manguezal, do barro e do corpo em movimento com a voz de Carla, criando uma experiência sensorial e identitária que reforça o discurso autobiográfico documental. 
 
A fotografia, filmada em 16 mm, valoriza texturas, tons terrosos e enquadramentos centrados ou em planos detalhes (como mãos moldando barro), reforçando a analogia entre artesanato e identidade, enquanto valoriza o ambiente de Goiabeiras e seus elementos naturais m. 
 
A edição segue um estilo poético, fragmentado e não linear, intercalando voice-overs com imagens do cotidiano de Carla, do barro, da água e do fogo; a montagem não conecta causalmente, mas evoca sensações e significados por associação visual e sonora. 
 
Já o som constrói uma paisagem sonora imersiva: antes de mostrar a imagem do rio, escutamos o som da água corrente; há registros de ruídos naturais (crepitar do fogo, aves, água), voice-over da narrativa de Carla e até sons diegéticos urbanos, simbolizando encontros entre tradição e contemporaneidade; essas camadas sonoras reforçam a atmosfera simbólica e reflexiva do filme.

Na imagem, pés estão amassando barro.
Trasviar | imagem: divulgação

Após o preenchimento da tabela/lista técnica e das discussões sobre os aspectos narrativos e audiovisuais do curta, promova uma roda de conversa com o grupo, voltada à reflexão crítica sobre a mensagem do filme e seu impacto. Para conduzir esse momento, utilize os questionamentos abaixo como ponto de partida:
 
- O que os realizadores do filme tentaram nos contar? Na sua opinião, eles conseguiram transmitir essa mensagem com clareza? Por quê?
- Você absorveu ou aprendeu algo novo com este filme? Compartilhe o que mais te marcou ou fez refletir.
- Houve algum elemento do filme que não foi compreendido por você? Qual parte ficou confusa ou despertou dúvidas?
- Do que você mais gostou neste filme? Pode ser uma cena, uma ideia, uma imagem, uma fala ou sensação.
- Como as cores foram utilizadas ao longo do filme? Elas ajudaram a enfatizar emoções ou a expressar a identidade da personagem?
- Se você estivesse dirigindo esse filme, como usaria a cor de forma diferente? Que emoções ou significados gostaria de explorar?
- A história contada neste filme tem relação com situações da atualidade em nosso país? Você consegue fazer conexões com questões sociais, culturais ou políticas que estamos vivendo?
 
Para concluir a proposta de forma significativa, convide os estudantes a escrever um breve comentário autoral, respondendo à pergunta:
 
 
“O que esse filme me ensinou sobre identidade, pertencimento e resistência?”


c)     Ação – Do frame ao palco

Objetivos

Elaborar um texto teatral com apoio de recursos tecnológicos, a partir da análise crítica de um curta-metragem, a fim de compreender os elementos estruturais do gênero dramático e reconhecer a importância da leitura e da mediação docente para o estímulo à criação. Espera-se que os educandos sejam capazes de identificar e descrever as partes que compõem um texto teatral (ato, cena, quadro) e compreender a função de cada uma no desenvolvimento da narrativa.

Habilidades da BNCC e da BNCC Computação

(EM13LGG705) Produzir textos artísticos autorais em diferentes linguagens, considerando os elementos constitutivos, estilos e contextos.

(EM13LP06) Reescrever textos, transformando linguagem e formato, mantendo o conteúdo essencial.

(EM13CO22) Produzir e publicar conteúdo como textos, imagens, áudios, vídeos e suas associações, bem como ferramentas para sua integração, organização e apresentação, utilizando diferentes mídias digitais.

Mãos à obra

Para esta proposta, será necessário o uso de recursos como data show, notebook, caixa de som, folhas de papel A4, canetas, lápis, lápis de cor, papéis impressos, papel pardo, cola, tesoura, cartolinas e, se autorizado pela escola, celular de uso coletivo e supervisionado – conforme a Lei nº 15.100/2025, que permite o uso de dispositivos eletrônicos em sala exclusivamente para fins pedagógicos e sob orientação docente.
 
Inicie a atividade reexibindo o curta Transviar e promovendo, com a turma, uma discussão que explore os elementos-chave de sua construção narrativa. Oriente os educandos a observar o enredo – que, em um curta-metragem, deve ser conciso e impactante, contendo um conflito central e uma resolução clara –, bem como os personagens, que, embora brevemente apresentados, devem ser bem definidos e ter funções claras na progressão da trama. Aproveite para destacar a estrutura narrativa (apresentação, conflito/ação principal, desfecho), sem deixar de mencionar que, mesmo com possíveis variações estruturais, a história precisa manter coesão e sentido, com começo, meio e fim. Chame a atenção também para os elementos visuais e auditivos, como iluminação, cores, enquadramentos e música, além do design de som, que abrange os diálogos, trilha sonora e efeitos sonoros – todos fundamentais para a construção da atmosfera e do sentido da narrativa.
 
Em continuidade, introduza o conceito de texto teatral e proponha a transposição dos elementos estruturais do curta para esse novo formato. Para isso, levante os conhecimentos prévios dos estudantes sobre o teatro, perguntando, por exemplo, se já assistiram a alguma peça, quais e o que acharam da experiência. 
 
Com base nas respostas, explique que o teatro é uma linguagem artística de múltiplas funções: pode entreter, provocar reflexão, denunciar questões sociais ou políticas, dar voz a realidades silenciadas e representar mundos reais ou imaginados, articulando diferentes modos de ver, sentir e pensar. A partir da obra analisada, instigue os alunos a refletirem sobre a importância das falas no texto teatral, bem como dos elementos cênicos, como figurino, cenário e iluminação. Estimule-os a perceber que o texto dramático escrito é o ponto de partida para que esses elementos ganhem vida em cena, como se viu na trajetória da personagem principal de Transviar.
 
Reproduza o curta uma segunda vez e, em seguida, apresente aos estudantes as características fundamentais do texto dramático, destacando que sua linguagem se aproxima da oralidade e pode conter marcas de tempo, espaço e regionalismos; que as rubricas (geralmente entre parênteses) indicam gestos, ações, comportamentos e situações de cena; que as falas vêm sempre antecedidas pelo nome das personagens; que há predominância de verbos no presente, pois se referem a ações em curso; e que a pontuação tem papel expressivo, marcando hesitações, entonações e variações emocionais.
 
Concluindo a atividade, oriente os estudantes a produzirem, em grupos, um texto teatral (eles podem escolher uma cena apenas) baseado no curta analisado, com atenção aos elementos já discutidos: caracterização física e psicológica dos personagens, ambientação do espaço, tempo, figurinos, estrutura da fala e rubricas. 
 
A criação do texto pode contar com apoio de ferramentas digitais e tecnológicas previamente selecionadas e mediadas pelo professor, respeitando a legislação escolar e os parâmetros pedagógicos da instituição. Caso estejam disponíveis ferramentas com inteligência artificial para escrita, edição ou organização do texto, elas podem ser utilizadas como suporte complementar – sempre com orientação crítica, pedagógica e reflexiva.
 
Após a produção do texto teatral, oriente os grupos a realizar uma encenação da cena criada, incorporando os elementos de linguagem verbal, não verbal e paraverbal discutidos ao longo da atividade – como entonação, gestualidade, deslocamentos no espaço e caracterização básica de personagens. Essa etapa visa consolidar a compreensão da linguagem teatral como prática viva e coletiva, promovendo a expressão criativa e o engajamento crítico com a narrativa trabalhada.



Carla da Victória está séria. Ela usa batom rosa e brincos dourados. Atrás dela, há árvores.
Carla da Victória em Transviar | imagem: divulgação

III. CORTA! QUE TAL UM POUQUINHO DOS BASTIDORES?

Você já ouviu falar das Paneleiras de Goiabeiras?
 
- As Paneleiras de Goiabeiras são mulheres artesãs do bairro Goiabeiras, em Vitória (ES), que produzem panelas de barro com técnicas transmitidas de geração em geração, em um ofício majoritariamente feminino.
- A tradição, que remonta a saberes indígenas, envolve o uso do barro do Vale do Mulembá, moldado manualmente e queimado em fogueiras ao ar livre – sem forno nem torno.
- Em 2002, o ofício das paneleiras foi reconhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil pelo Iphan, por seu valor simbólico e cultural.
- O Galpão das Paneleiras é o centro de produção e comercialização das peças, reunindo mais de 120 famílias que encontram na atividade sua principal fonte de renda.
- As panelas são impermeabilizadas com tanino do mangue-vermelho, um elemento natural da região que conecta a prática artesanal ao território do manguezal.
- A autenticidade das peças é protegida por um Selo de Qualidade e pela Indicação de Procedência registrada no INPI, que garante o nome “Goiabeiras” como referência legítima do ofício.
- Modelos como a moquequeira, a assadeira da torta capixaba e as panelas de caldo são símbolos da cultura capixaba e já alcançaram reconhecimento nacional e internacional.
 
O que dizem os dados?
 
- Em 2018, 420 pessoas LGBT+ morreram no Brasil por violência ou suicídio motivados por homolesbotransfobia, o que equivale, em média, a uma vítima a cada 20 horas.
- O Brasil é há 17 anos o país com maior número de assassinatos de pessoas trans e travestis no mundo, com 105 mortes registradas em 2024.
- Em pesquisa realizada com 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras, constatou-se que 39,6% dos estudantes do sexo masculino não gostariam de ter um colega homossexual em sala de aula, e 35,2% dos pais também manifestaram essa rejeição.
Conheça mais sobre a vida de Carla da Victória.

IV. SOBEM OS CRÉDITOS


A GAZETA. Paneleira trans faz do barro a arte de vencer o preconceito no ES. A Gazeta, jun. 2024. Disponível em: https://www.agazeta.com.br/es/economia/paneleira-trans-faz-do-barro-a-arte-de-vencer-o-preconceito-no-es-0624. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
BRASIL. Câmara dos Deputados. Brasilidade. Programas da TV Câmara: Paneleiras de Goiabeiras. Brasília, DF: Câmara dos Deputados, 1 maio 2015.
 
CESAR, Caio. 6 em cada 10 pessoas LGBT+ ficaram mais pobres durante a pandemia, mostra estudo. Carta Capital, 28 jun. 2021. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/diversidade/6-em-cada-10-pessoas-lgbt-ficaram-mais-pobres-durante-a-pandemia/. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
CUTRIM, Rosyene Conceição Soares. Caderno de orientações pedagógicas: gêneros e sexualidades na escola. São Luís: Universidade Federal do Maranhão – UFMA, 2020.

FACHA. Gisberta, a história por trás da canção que virou símbolo. 2025. Disponível em: https://emtodolugar.facha.edu.br/2025/03/31/gisberta-a-historia-por-tras-da-cancao-que-virou-simbolo/. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
FEEDZ. 8 exemplos de dinâmica sobre inclusão e diversidade. 2025. Disponível em: https://www.feedz.com.br/blog/dinamica-sobre-inclusao-e-diversidade/#1_Baralho_da_Diversidade. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
GÊNERO E EDUCAÇÃO. Direitos das pessoas LGBTQIA+. 2025. Disponível em: https://generoeeducacao.org.br/mude-sua-escola-tipo/materiais-educativos/plano-de-aula/direito-das-pessoas-lgbtqia/. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Livro de registro dos saberes: ofício das paneleiras de goiabeiras. Brasília, DF: IPHAN, [s.d.].
 
JESUS, Jaqueline Gomes de. Conceitos e termos. Brasília: Autor, 2012.
 
MIGLIORIN, Cezar et al. Inventar com a diferença: cinema e direitos humanos. Niterói: Editora da UFF, 2014.
 
NONADA JORNALISMO. Quebrando armários: os desafios de estudantes, pais e professores LBGTQIA+. 2022. Disponível em: https://projetocolabora.com.br/ods4/quebrando-armarios-os-desafios-de-estudantes-pais-e-professores-lgbtqia. Acesso em: 5 ago. 2025. 
 
OBSERVATÓRIO TRANS. 2025. Disponível em: https://observatoriotrans.org/. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
PEDRO ABRUNHOSA. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2025. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Pedro_Abrunhosa&oldid=69996547. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
PLANEJAMENTOS DE AULA BNCC. Cidadania para trans e travestis (Ensino Médio) – 3º Ano. 2025. Disponível em: https://planejamentosdeaula.com/plano-de-aula-cidadania-para-trans-e-travestis-ensino-medio-3o-ano/#gsc.tab=0. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
PLANO DE AULA DE TEXTO TEATRAL. Teachy. 2025. Disponível em: https://www.teachy.com.br/planos-de-aula/ensino-fundamental/8ano/portugues/texto-teatral-or-metodologia-digital-or-plano-de-aula-Digital. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
PROFY. Roteiristas em Ação: criando seu curta-metragem. 2025. Disponível em: https://profy.com.br/planos-de-aula/lingua-portuguesa/ensino-fundamental/9-ano/roteiristas-em-acao-criando-seu-curta-metragem-22080/. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
PROJETO COLABORA. Quebrando armários: os desafios de estudantes, pais e professores LGBTQIA+. 2025. Disponível em: https://projetocolabora.com.br/ods4/quebrando-armarios-os-desafios-de-estudantes-pais-e-professores-lgbtqia/. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
REDE TRANS BRASIL. Brasil é o país que mais mata pessoas trans no mundo. Agência Brasil, 8 jan. 2025. Disponível em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/justica/noticia/2025-01/com-105-mortes-em-2024-brasil-e-o-pais-que-mais-mata-pessoas-trans. Acesso em: 7 ago. 2025.
 
SECRETARIA NACIONAL DE PROMOÇÃO E DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS. Pesquisa nacional sobre o ambiente educacional no Brasil. Brasília, DF: Ministério dos Direitos Humanos, 2016. Disponível em: https://bibliotecadigital.mdh.gov.br/jspui/bitstream/192/10886/1/PesquisaNacionalAmbienteEducacionalBR2016.pdf. Acesso em: 7 ago. 2025.
A imagem mostra uma mão trabalhando na feitura de um vaso de barro.
Trasviar | imagem: divulgação

MINIBIOGRAFIA DA ELABORADORA

Sayonara Nogueira (ela/dela) é professora de geografia e coordenadora pedagógica na rede estadual de Minas Gerais.  Especialista em atendimento educacional especializado e em coordenação pedagógica, atua como secretária de comunicação da Rede Trans Brasil. É também pesquisadora, ativista trans e administradora do site www.observatoriotrans.org.
 

A imagem traz escrito: CineAula IC Play - 1ª edição. Luz, câmera, educAção: o streaming gratuito do cinema brasileiro na sala de aula.
Compartilhe