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“Cochicho no silêncio vira barulho, irmã”, de Verônica Ferriani

A maternidade e as questões desencadeadas por ela são tema de álbum duplo da cantora

Publicado em 16/04/2024

Atualizado às 14:50 de 12/04/2024

Por Jorge LZ

Paulista de Ribeirão Preto, a cantora, compositora, instrumentista e produtora Verônica Ferriani acaba de lançar Cochicho no silêncio vira barulho, irmã, seu primeiro álbum duplo. Em sua discografia, além de vários álbuns colaborativos – com nomes como Cainã Cavalcante, Chico Saraiva, Gian Correa, Manoel Cordeiro, Marcelo Cabral e Swami Jr. –, estão os solos Verônica Ferriani (2009), Porque a boca fala aquilo do que o coração está cheio (2013) e Aquário (2018).

Mulher branca, com os cabelos pretos e cacheados de comprimento médio, está deitada no chão, com os braços para trás, e as pernas em cima de um sofá branco. Ela usa um macacão vermelho.
Verônica Ferriani acaba de lançar Cochicho no silêncio vira barulho, irmã, seu primeiro álbum duplo (imagem: Thais Taverna)

Cantora afinadíssima e compositora de extrema sensibilidade, Verônica tem como uma de suas características principais o cuidado com que constrói sua obra. Seu trabalho é feito com sofisticação, influenciado pela excelência da música popular brasileira e pelo jazz, sem que isso torne seu trabalho elitista. Muito pelo contrário. Sua abordagem musical dialoga, o tempo inteiro, com seu público, trazendo-o para bem perto de si, com interpretações quentes e verdadeiras.

Dividido em duas partes (Cochicho no silêncio e Vira barulho, irmã), o álbum tem como conceito a maternidade e trata das inúmeras questões que por ela são desencadeadas – da relação de amor e encantamento com o novo ser, passando pela amamentação, pelo cuidado e pela mudança do corpo, até o impacto no sexo e na vida amorosa, a depressão pós-parto, a demanda incessante, a busca de liberdade e a redescoberta da individualidade.

Toda essa carga ganha contornos ainda mais acentuados pelo fato de vivermos numa sociedade que foi construída em alicerces machistas, resultando em uma pesada ditadura patriarcal. Esse assunto urgente e incontornável foi tratado por Verônica de forma conciliatória aos homens, buscando uma transformação conjunta, a partir do único olhar possível, que é o feminino. 

Em um tom íntimo e confessional, o repertório foi desenvolvido relacionando as sensações provocadas pelo tema às diversas vertentes da música popular brasileira e amparado por arranjos que variam do minimalismo à grandiosidade, explicitando a beleza das composições. Das 20 faixas, apenas três não são de autoria de Verônica: “La mer”, de Anaïs Sylla, e as vinhetas “Acorda, mamãe”, que é um canto de trabalho, de domínio público, e “Peitos caídos”, de Flaira Ferro.

Só mulheres

Dando mais ênfase ao caráter feminino da obra, Verônica reuniu em torno de si um grupo formado só por mulheres, inclusive na parte técnica. Ela se encarregou do violão e da percussão, e convocou Alana Ananias para assumir bateria e overdub; Aline Falcão, teclados e guitarra; Dani Virgulino, zabumba e triângulo; Duo Siqueira Lima, violões; Elodie Bouny, violão; Estefane Santos, trompete e flügelhorn; Joana Queiroz, clarone; Lívia Mattos, sanfona; Maiara Moraes, flauta transversal; Nanda Guedes, sanfona; Nilze Carvalho, bandolim; Samara Líbano, viola de sete cordas; Suelem Sampaio, harpa sinfônica; Thais Nicodemo, teclados; Vanessa Ferreira, baixos acústico e elétrico; Victória dos Santos, percussão; Vivian Kuczinsky, guitarra; Jennifer Cardoso, na viola; Wanessa Dourado, no primeiro violino; Letícia Andrade, no segundo violino; e Mayara Alencar, no cello.

Como se não bastasse o elenco apuradíssimo, Verônica ainda contou com as vozes de Áurea Martins, na faixa-título; Mônica Salmaso, em “Amor que fica”; Flávia Maia e Mairah Rocha, em “Acorda, mamãe”; Anaïs Sylla, em “La mer”; Assucena, em “Sem regras”; Alessandra Leão, em “Não me contento”; Giana Viscardi, em “Permitir-se”; Flaira Ferro, em “Peitos caídos”; e Lurdes da Luz, em “Passada de pano”.

 

Mulher branca com cabelos pretos e cacheados, de comprimento médio, está séria, sentada em um sofá. As almofadas do sofá estão em cima dela. Ela usa macacão cor mostarda e está descalça.
Verônica Ferriani se inspirou na experiência da maternidade para criar o novo álbum (imagem: Thais Taverna)

 

Na parte técnica, a cantora foi responsável pela produção-executiva, pela produção musical e pela edição instrumental, e dividiu a edição de vozes com Bianca Mello. Vivian Kuczynski assinou a pós-produção musical e a mixagem; Ana Brun se encarregou da arte gráfica; Manuela Eichner, das capas; Patrícia Ribeiro fez as fotos e os vídeos de estúdio; Thais Taverna, as fotos de divulgação; Greta Escobar cuidou do figurino; e Juliana Vacaro, da maquiagem e do cabelo.

Forte e sensível, denso e suave, cerebral e emocional. Cochicho no silêncio vira barulho, irmã demonstra o poder do pensamento feminino, assim como a magnitude de sua arte. Reforçando o discurso, Verônica conseguiu dar ainda mais amplitude ao conceito do álbum ao reunir mulheres de várias regiões e gerações, promovendo uma verdadeira comunhão de saberes.

Levando-se em consideração o caráter conciliatório proposto pela cantora, cabe aos homens, nessa equação, ouvir com atenção o que é dito e cantado, juntar-se às mulheres na busca por uma sociedade mais justa e igualitária e agradecer essa obra de arte tão importante e inspiradora.

 

Coluna escrita por:

 Jorge LZ

Jorge LZ

Carioca, radialista, curador, pesquisador musical, produtor cultural e DJ. Produz e apresenta o programa semanal Na ponta da agulha, na Rádio Graviola, é curador do Festival levada e integra o Radialivres, coletivo de radialistas do Brasil. Foi idealizador e curador do Festival BRio e do projeto Verão musical no Castelinho, e produziu e apresentou os programas Geleia moderna, Radar e Compacto, na Rádio Roquette-Pinto.

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