Artistas falam sobre a importância de participar de um dos maiores eventos do calendário cultural paulistano
Publicado em 25/05/2023
Atualizado às 19:15 de 03/07/2023
por William Nunes
Reconhecida como a cidade que nunca para, São Paulo tem em seu calendário uma diversa programação cultural que se estende durante todo o ano, e que tem o seu auge na Virada cultural, no mês de maio. Criada em 2005 pela Prefeitura, a Virada – como é chamada pelo seu público e pelos artistas participantes – representa muito bem o espírito paulistano: são 24 horas ininterruptas com shows, peças de teatro, dança, circo, saraus, exposições e tantas outras manifestações populares espalhadas por toda a cidade, do Centro às regiões periféricas.
O grande barato da Virada – e de outras programações como esta – é atingir públicos, desde crianças até adultos, que muitas vezes não têm acesso à arte e à cultura em sua rotina, especialmente a eventos que ocorrem gratuitamente e no espaço público. “[A importância] é exatamente o acesso à cultura para todos, uma programação completa e gratuita para todos os gostos. Reivindicar esses espaços que já são de todas as pessoas, levar nossa existência e mensagem para pessoas que se identificam com ela. Os espaços existem e precisam ser ocupados”, comenta a rapper e MC paulistana Barbara Bivolt, que se apresentou nas edições de 2018 e 2022.
Para ela, a “cultura e o lazer são um direito de todos, vivemos tempos difíceis em que podemos aquecer nosso coração com arte e, até mesmo, mudar o rumo e a direção das nossas vidas, como foi meu caso”. “Para mim é sempre uma honra levar entretenimento de qualidade e acessível para todos”, completa Bivolt.
A Virada cultural de São Paulo foi inspirada na Nuit blanche – traduzida como Noite branca – de Paris, na França. O evento, que neste ano terá a sua 22a edição, oferece uma programação dedicada à arte contemporânea durante toda a noite francesa para os noctâmbulos – pessoas que têm uma rotina noturna. Em São Paulo, a programação possui atrações para curtir tanto sob o luar quanto à luz do dia.
O artista circense e palhaço Duba Becker participou de algumas edições da Virada cultural com a Cia. Suno, da qual faz parte desde 2003. “Nós já tivemos o prazer de apresentar alguns espetáculos na Virada, durante a madrugada nas ruas do Centro, em palco ocupado pelo circo, em casas de cultura, nas periferias e nas praças. Ou seja, conseguimos realizar intervenções de diversas formas”, diz ele.
“A Virada, por ser tão diversa, nos deu essa oportunidade de alcançar públicos que nunca nos veria, tanto de periferias quanto moradores do Centro da cidade, ou até mesmo pessoas em situação de rua. É um privilégio para a gente como artista participar de um evento que nos dá tanta estrutura.”
O circo – e a arte de rua em geral – já tem a tendência de ocupar espaços públicos. Segundo Duba, a Virada consegue elevar essa característica para proporções maiores, além de levar para esses espaços outras artes que não estão tão presentes nas ruas. “Eu acho que ela cumpre o papel de apresentar em grande escala para a população o quanto a cultura é importante. Além de as atividades serem gratuitas, hoje a programação é descentralizada e acaba levando a arte aonde o povo está, para uma parte da população que, talvez, não teria acesso ao Centro da cidade”, afirma o artista circense.
Uma das ações que o público da Virada poderá presenciar neste ano é o Megazord, projeto transmídia que apresenta projeções de arte e iluminação. O projeto, que será realizada na Praça das Artes, na região central, é uma criação de 2022 realizada por Diogo Terra, Michelle Serra e do Coletivo Coletores – formado em 2008 na periferia da Zona Leste, pelos artistas e pesquisadores Toni Baptiste e Flávio Camargo, e que tem como proposta pensar as cidades como meio e suporte para suas ações utilizando diferentes linguagens visuais e tecnológicas.
“Uma das coisas mais interessantes do Megazord em relação a ele se integrar com o espaço público é partir de um conceito de intervenção. A intervenção é quando você rompe com aquilo que está estabelecido. No espaço público, as pessoas estão muito acostumadas com aquilo que afasta: os muros, as grades, as fronteiras, os seguranças. E, quando você olha para uma fachada que deveria estar segregando e, ao invés disso, ela vira um suporte para a linguagem artística, você promove outra relação com aquele espaço”, diz Toni.
Segundo os artistas e o coletivo, o projeto Megazord conseguiu atingir o público ao oferecer uma experiência sensorial e espacial a partir de diversas linguagens artísticas. “Normalmente esse tipo de experiência está restrito a espaços privados em eventos de alto padrão. Quando desenvolvemos essa ação em um espaço aberto, cria-se um novo senso de as pessoas entenderem que aquelas manifestações também são para elas”, afirma.
“Muito da nossa ação vem de uma ideia de democratização de uma imagem a partir desses espaços urbanos públicos. A gente procura trazer uma identidade que é nossa – periférica, negra, que dialoga com diferentes comunidades, como a LGBTQIA+ e as ligadas às lutas por direitos humanos – e, por isso, gera senso de pertencimento.”
O artista chama a atenção para a construção do espaço público através da coletividade, que, por sua vez, pode se dar de muitas maneiras – seja por meio das artes, seja por ações sociais ou de saúde, por exemplo. Ações como a Virada cultural não só promovem uma ressignificação dos espaços públicos, como também nos convidam a nos apropriar desses espaços.
“A principal importância, pelo menos para o Coletivo Coletores, de participar desses espaços públicos e abertos é exercer o direito da cidade e da nossa cidadania. Gera um senso de comunidade acerca do território, e todo território possui uma identidade, que em teoria deve ser construída coletivamente”, afirma Toni.
“Com o Megazord, a gente acredita que o trabalho cria diversas relações, e isso só é possível porque temos camadas a partir das frases, imagens, iconografias que fazem parte do universo dessas pessoas que transitam pela cidade, que são os trabalhadores, os turistas, as pessoas que estão ali na cidade em sua lógica cotidiana.”
Vai à Virada neste ano?
A 18a edição da Virada cultural de São Paulo – que está sendo chamada de “a Virada do pertencimento” – acontece no fim de semana de 27 e 28 de maio, com mais de 500 atrações. O principal palco, no Vale do Anhangabaú, no Centro, receberá nomes como Gloria Groove, BaianaSystem, Josyara, Luedji Luna, MV Bill, Alceu Valença e Iza. O Centro ainda conta com atividades na Sé, na República, na Consolação, no Theatro Municipal, no Museu das Favelas e na Biblioteca Mário de Andrade, entre outros espaços.
Neste ano, assim como nas edições anteriores, há palcos espalhados em praticamente todas as regiões da cidade. Na Zona Leste: os bairros de Itaquera, São Miguel Paulista, São Mateus, Vila Formosa e Mooca são alguns dos lugares. Na Zona Norte: Perus, Parada Inglesa, Freguesia do Ó e Santana são pontos com atividades. Na Zona Oeste: o Parque Villa-Lobos e os bairros do Butantã, Lapa, Pinheiros e Pompeia receberão programação. Na Zona Sul: Paraíso, Santo Amaro, M’ Boi Mirim, Parelheiros, Campo Limpo e Interlagos, entre outros bairros, também fazem parte do evento.
Confira a programação completa em viradacultural.prefeitura.sp.gov.br.