Os atores Fernando Sampaio, Fernando Paz e Filipe Bregantim respondem questões sobre circo, divino e humor
Publicado em 20/02/2023
Atualizado às 03:00 de 11/05/2025
“Se o circo admite os excêntricos, ele admite tudo”, sintetiza Fernando Sampaio, ator e palhaço da Cia. LaMínima. O grupo de circo e teatro está em cartaz na Sala Itaú Cultural com o espetáculo A divina farsa, que fecha um ciclo de comemorações dos 25 anos de atividades da companhia, fundada em 1997 por Sampaio e Domingos Montagner.
A base do trabalho da LaMínima sempre foi a palhaçaria e, nesta peça, eles unem esse humor ácido ao teatro e à música. A narrativa aborda os mitos e deuses gregos, colocando-os no tempo presente e entre os seres humanos para mostrar a importância da coletividade.
Na entrevista abaixo, os integrantes da companhia Fernando Sampaio, Fernando Paz e Filipe Bregantim se reuniram para responder a três perguntas sobre circo, divino e humor. Confira!
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No circo cabe todo mundo?
Fernando Sampaio: É gozado, porque essa pergunta é feita para nós, circenses, várias vezes, e a resposta é sempre sim. O circo é muito democrático, tanto que o circo, inclusive, me aceitou. Há uma história antiga que eu conto, de quando fiz um teste de aptidão vocacional com 19 anos e o resultado foi um desinteresse generalizado – e mesmo assim eu me achei no circo. O circo e a palhaçaria nos aceitam – tanto que, entre os muitos personagens que existem no circo, há os excêntricos. Se o circo admite os excêntricos, ele admite tudo. Os equilibristas, os menos equilibristas, os mais hábeis, os acrobatas, os não acrobatas. O circo é demais, sou fã.
Como pensar a presença de mitologias e mitos no cotidiano num momento em que o divino e o mundano parecem entrar em conflito?
Fernando Paz: Na minha opinião, os mitos e as mitologias são uma criação humana para elaborar a nossa relação com o divino e as nossas origens. O sentimento de que o divino e o mundano estão em conflito, no fundo, é um desconforto com a nossa vida mundana. E, nesse sentido, a presença desses mitos no cotidiano é uma forma de elaborar esse desconforto em busca de soluções e saídas.
O que caracteriza esse humor que está sendo feito hoje? E onde a companhia se sente mais à vontade?
Filipe Bregantim: Acho que o humor hoje em dia possui diversas linhas e linguagens, como o stand up, a palhaçaria – onde a gente [LaMínima] se encontra –, o humor de meme e da internet, esquetes como os do Porta dos Fundos, mas acho que uma preocupação que rege tudo é o politicamente correto. Existem diversos temas que não eram pensados anos atrás e hoje pautam a nossa construção humorística. A gente não tem como construir uma cena ou tirar graça de algum assunto sem pensar em ações afirmativas, como o racismo e o racismo estrutural, a homofobia e a intolerância religiosa. A palhaçaria na qual a gente se encontra sempre se preocupou muito com isso, normalmente o nosso alvo é sempre o poder e quem está nele. A palhaçaria passa por aí: não menosprezando os que já são menosprezados, mas, sim, criticando e apontando o dedo para os agressores e dominadores. É nesse ponto onde nos sentimos mais à vontade – nesse humor que agrega, mas também reflete. É onde gostamos de passear com as nossas criações.