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Por Aí: EcoMúsica, projeto que mescla arte e natureza, lança um novo vídeo

Fábio Caramuru conversa, ao piano, com as sonoridades e os imaginários dos ambientes naturais. Recém-lançado, o clipe Uirapuru evoca um pássaro e uma lenda amazônicos

Publicado em 21/09/2020

Atualizado às 11:51 de 21/09/2020

Por Duanne Ribeiro

“O EcoMúsica é antes de tudo uma experiência sensorial”, afirma o pianista e compositor Fábio Caramuru sobre o projeto que, hoje, 21 de setembro, lança um novo vídeo, Amazônia Uirapuru, uma lenda da floresta ou EcoMúsica Uirapuru, com trilha de Fábio e direção de Otavio Dias. Nessa obra, como em outras da série, a visualidade e a música nos levam ao mundo natural: “[EcoMúsica] parte da percepção da natureza, comunga com sons, imagens e imaginários da fauna e da flora, compartilhando com o público experiências sonoras e imagéticas afetivas, únicas e fascinantes”.

EcoMúsica é desenvolvido desde 2013 e já lançou os álbuns Conversas de um Piano com a Fauna Brasileira (2015) e EcoMúsica Aves (2018) – o primeiro, casa de canários-da-terra, tuins, quero-queros e arapongas, o segundo, residência do kumataka, do tsumi, do kumagera... O vídeo que é publicado hoje apresenta em obra audiovisual uma das faixas do disco de 2015, Uirapuru, ave típica da região amazônica, envolta em lendas – em especial a de Quaraçá, jovem tupi, tocador de flauta, que por sofrimento de amor se deixou transformar em pássaro.

A conexão entre o que vemos e o que ouvimos já marcava essa composição desde o início, conta Fábio: “A criação dessa música está intimamente relacionada a uma teia de sons e imagem. Sob o aspecto sonoro, o piano conversa com o uirapuru, [seus sons] estão na mesma tessitura aguda [do seu canto]. Em certos momentos fica difícil saber se ouvimos o piano ou o pássaro. Por outro lado, lembro-me que criei a música já imaginando a Amazônia da maneira apresentada no vídeo – ao meu piano em São Paulo, sonhando como seria estar na floresta ouvindo o uirapuru”.

Música viva em meio à pandemia

Central para o EcoMúsica é o conceito de música viva, isto é – define Fábio em seu site – uma busca por composições que aconteçam “verdadeiramente em tempo real, interagindo completamente com a circunstância em que [são produzidas]”. Esse interesse marcou outros vídeos do projeto, ambientados, por exemplo, na Bahia e em Foz do Iguaçu. Sob a crise causada pela covid-19, no entanto, a produção teve de comportar alguns percalços.

“Tínhamos programado uma viagem à Amazônia no mês de março para filmar, mas a pandemia nos impediu”, conta o compositor. Porém: “A adaptação limitou-se aos aspectos logísticos, pois o roteiro permaneceu igual. A partir dele, em sintonia com o diretor, a artista Cecília Lucchesi fez uma busca minuciosa em bancos de imagens e encontrou um material excepcional. Elaboramos todas as cenas com chroma key”, técnica que usa um fundo colorido substituível.

Mesmo com essa resiliência, diz, “penso que a circunstância restritiva acentuou profundamente a vontade de estar na natureza. A impossibilidade de estar de verdade na Amazônia aumentou bastante a intensidade do sonho de estar naquela floresta, embalado pelo som do uirapuru, caminhando no meio das árvores, respirando os aromas, em sintonia com a natureza”.

O pássaro é o ponto de partida

Esse diálogo entre teclas e pios tem precedentes na história da música. Alguns exemplos dados por Fábio são o Catalogue d’Oiseaux [Catálogo dos Pássaros], de Olivier Messiaen (1908-1992), que “utiliza basicamente a reprodução e a imitação ao piano da sonoridade de vários pássaros”, Bachianas Brasileiras Nº 4, de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), que empresta a voz da araponga, e a introdução de Sábia, de Tom Jobim (1927-1994). EcoMúsica, contudo, tem uma rota própria.

No projeto, “os sons dos animais são materiais musicais que integram a composição”, diz Fábio. “O canto de um pássaro é o ponto de partida, a partir dele é que surge a música. Ou seja, parto sempre da percepção do som da natureza para criar um diálogo com cada ave.” Essa inspiração é trabalhada por vários procedimentos, explica o músico: “Imitação, fusão, pergunta e resposta, contraponto, solo da natureza e acompanhamento do piano ou solo do piano acompanhado da natureza, contrastes de tessituras, contraste de articulações, de ritmos, entre outros”.

Da importância sagrada da natureza 

Uma última faceta relevante no EcoMúsica é a preocupação com a proteção da natureza. Nesse sentido, o momento atual se contrapõe ao projeto: na Amazônia, cenário de Uirapuru, crescem o desmatamento e os incêndios. “Somente alguém muito insensível não ficaria profundamente triste com tudo o que anda acontecendo na área ambiental do nosso país”, lamenta Fábio. ”Ele aconselha: “Somente uma mudança drástica de política ambiental poderá frear esta destruição tão trágica. Tenho buscado me associar a diversas instituições para ajudar de alguma maneira e recomendo que mais pessoas façam isso também”.

Ao lado dessa visão pragmática, o compositor ressalta que há no seu projeto a intenção de uma “mensagem positiva, que mostre a exuberância da natureza”. Projeta ele, “penso que o público que ouve meus álbuns ou assiste aos meus vídeos e concertos acaba, de uma forma ou de outra, sensibilizando-se para a percepção da beleza e da importância sagrada da natureza”. O retorno, considera Fábio, tem sido “muito positivo, com menções aos aspectos afetivos, à suavidade da minha abordagem musical e à beleza dos locais e dos sons”. Conclui ele, “penso que assim faço a minha parte, homenageando as árvores, os pássaros, toda a fauna e a flora, e torcendo sempre para que o ser humano se aprimore a partir do aguçamento dos sentidos”.

 

A série Por Aí divulga ações e atividades de instituições e projetos parceiros do Itaú Cultural espalhados Brasil afora. Você pode acompanhar em nosso site, por meio da tag Por Aí, e nos destaques do nosso perfil no Instagram (@itaucultural).

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