Em 2025, o prédio da sede do Itaú Cultural completa três décadas de existência
Publicado em 01/12/2025
Atualizado às 18:09 de 01/12/2025
por Caio Meirelles Aguiar
O edifício sede do Itaú Cultural completa 30 anos neste dia 1 de dezembro de 2025. Inaugurado em cerimônia oficial com a presença do então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, além de outras personalidades políticas, culturais e sociais, o empreendimento foi anunciado como o mais importante marco comemorativo dos 50 anos do Banco Itaú, celebrados em 1995. Ao longo destas três décadas, adaptações no espaço sempre buscaram melhorar o fluxo de público, atendimento e programação. No entanto, o edifício atual mantém firme em sua essência os valores que guiaram o projeto original. O aniversário de 30 anos de sua inauguração se apresenta como excelente motivo para revisitarmos um pouco dessa história.
Projetado pela equipe de arquitetura do Itaú Cultural, e sob liderança do engenheiro e arquiteto Ernest Roberto de Carvalho Mange, a localização do edifício na esquina da Avenida Paulista com a Rua Leôncio de Carvalho foi definida tanto por motivos logísticos quanto simbólicos. Em seu discurso de inauguração do edifício, Olavo Egydio Setubal afirmou:
“Ao longo de sua história, o Itaú sempre foi uma instituição com os olhos voltados para o futuro, preocupada em avaliar tendências e rumos da industrialização do país e, ao mesmo tempo, se manter junto aos anseios sócio-culturais da sociedade. É por esse motivo que implantou este prédio de arquitetura arrojada, nesta avenida Paulista, marco referencial desta cidade e a artéria que melhor traduz a velocidade e o impacto das transformações ocorridas no país nas últimas cinco décadas.”
Em termos práticos, o fato de que a Avenida Paulista concentra diversas linhas de ônibus, integração entre duas linhas de metrô, além de universidades e museus, foi de grande importância para a definição da localização do novo edifício. Após a aquisição do terreno em 1988, coube à Itaú Planejamento e Engenharia (Itauplan) a tarefa de iniciar as fundações em agosto de 1992 e gerenciar diferentes prestadores de serviços num intenso canteiro de obras em uma via onde, naquela época, já circulava um milhão de pessoas por dia. Em texto escrito para a Revista Projeto em janeiro de 1996, Ernest Mange, que naquela época era também Diretor-Superintendente do Instituto, reforçava:
“O instituto iniciou o atendimento ao público numa sede provisória em 1989, com a inauguração do Centro de Informática e Cultura que colocou em funcionamento o Banco de Dados. A sede definitiva, agora inaugurada, responde completamente às necessidades funcionais da entidade e seus setores operacionais - especialmente áreas para consulta do banco de dados, auditórios com diversas capacidades, espaços de exposição, salas para cursos e oficinas, biblioteca com 10 mil títulos, videoteca e espaços para as divisões de pesquisa.”
Sobre o projeto arquitetônico em si, Mange complementa:
“A arquitetura do edifício desenvolve-se sob o protagonismo do sistema estrutural, retomando uma das premissas clássicas da chamada escola paulista - o conceito de arquitetura como estrutura (...) A necessidade de o edifício dispor de pavimentos-tipo em planta livre, de modo a flexibilizar diferentes layouts, e vários subsolos para garagem foi solucionada inicialmente com pórticos periféricos contraventados com perfis em X a cada dois pavimentos conformando a torre.”
É interessante aproximar o conceito mencionado por Mange, onde a solução estrutural não fica escondida por revestimentos decorativos, mas conduz a forma do edifício aos próprios valores do Banco Itaú como instituição pautada pelo desenvolvimento tecnológico. Ao longo de sua história, iniciativas como a Itauplan e a Itautec traduzem na prática uma linha de pensamento em que inovações técnicas não ficam nos bastidores, mas constroem identidade, novos produtos e avanços em benefício da sociedade brasileira.
Em 2001, Milú Villela assume a liderança do instituto e, com a experiência acumulada de seus anos à frente do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM/SP), em pouco tempo começa a planejar mudanças. Sua gestão estabelece como principal objetivo a democratização do acesso à cultura e, para acolher essa demanda, propõe uma reforma do edifício sede. O novo projeto, conduzido pelo arquiteto Ricardo Loeb, amplia espaços expositivos, evidencia a identidade da nova marca – Itaú Cultural – e, principalmente, transfere a principal porta de acesso da lateral do edifício para a fachada voltada à Avenida Paulista, mudança motivada não apenas por uma reorganização de fluxos mas, também, pelo simbolismo de uma instituição que se quer mais próxima de seu público e da cidade. Após cinco meses em obras, a reabertura ao público se deu em 11 de maio de 2002, apresentando uma exposição do artista Abraham Palatnik e a instalação interativa Ponto Digital, desenvolvida por Marcello Dantas. Ambos os projetos reforçam o aprofundamento na arte/tecnologia ambicionado por Milú Villela.
A sede do Itaú Cultural continua hoje em constante renovação, sempre se adaptando às novas demandas, conteúdos e programação. O ano de 2023 viu a reforma do 6º andar e abertura do Espaço Herculano Pires, com mostra que revisita um vasto acervo de moedas, medalhas, cédulas e selos a fim de propor um exercício de (re)conhecimento da história plural, complexa e diversa do Brasil. Peças históricas são apresentadas em diálogo com trabalhos artísticos contemporâneos, que estabelecem novas possibilidades de leitura da memória do país. Em 2024 foi inaugurado o Bulevar do Rádio, proposta conjunta entre o Itaú Cultural e o vizinho SESC Avenida Paulista, onde a rua entre os prédios vira palco para diferentes atividades organizadas por ambas as instituições. Em 2025, em complemento ao Espaço Olavo Setubal que desde 2014 exibe o acervo histórico da Coleção Brasiliana, foi inaugurado no 7º andar o Espaço Milú Villela, dedicado a expor diferentes recortes do acervo moderno e contemporâneo da Coleção Itaú Unibanco. A homenagem a uma das mais importantes líderes do Itaú Cultural parece concretizar no edifício alguns dos valores que pautaram sua gestão e seguem presentes no futuro da sede: constante adaptação e democratização do acesso à arte e cultura brasileiras.