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IC Play recebe homenagem a Eduardo Coutinho

Maior documentarista brasileiro faria 90 anos no dia 11 de maio

Publicado em 26/05/2023

Atualizado às 14:48 de 30/05/2023

No mês em que faria 90 anos, o maior documentarista brasileiro recebe uma homenagem na IC Play – a plataforma de streaming do Itaú Cultural (IC). Em tempos de “pós-verdade” e da crescente ameaça das fake news, a obra de Eduardo Coutinho é um farol crítico sobre a realidade e as formas de representá-la. Com uma estética própria e coerente, fundada na entrevista e no interesse pelo homem comum – na contramão do jornalismo sensacionalista –, Coutinho destaca a vida de personagens marcantes, que, mesmo sendo reais, são quase como figuras de ficção, dada a cumplicidade com o diretor, o qual, com sua escuta ativa e atenta, instiga seus entrevistados a revelar suas vidas e suas subjetividades.

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>> Recortes sobre Eduardo Coutinho

Eduardo Coutinho foi homenageado na 47ª edição do programa Ocupação Itaú Cultural. Conheça mais sobre o artista e acesse conteúdos exclusivos no site do projeto.

Na Enciclopédia Itaú Cultural, você pode conferir mais sobre a vida e a obra do documentarista e de muitos outros artistas, eventos, conceitos e obras de arte.

Confira abaixo os filmes que fazem parte da homenagem ao cineasta na IC Play.

Cabra marcado para morrer (1984)
120 minutos 

Um filme sobre João Pedro Teixeira – líder da Liga Camponesa de Sapé (Paraíba), assassinado em 1962 – é iniciado, mas acaba interrompido pelo golpe civil-militar de 1964, e parte do material é apreendida. Quase 20 anos depois, realiza-se um novo encontro com a história da sua família e da luta camponesa, agora do ponto de vista da viúva Elizabeth Teixeira e dos seus filhos.

A narrativa e a história da produção são pungentes retratos da história do Brasil. A obra apresenta características do cinema de Eduardo Coutinho, como a presença da equipe de gravação no corte final, além do seu interesse na vida e na construção da memória de personagens comuns e invisibilizados pela sociedade. Com produção do Centro Popular de Cultura (CPC) e da União Nacional dos Estudantes (UNE), é considerada um dos clássicos do documentário brasileiro, sendo exibido e premiado no país e no mundo até hoje.

Imagem em preto e branco do filme Cabra marcado para morrer. Na imagem quatro pessoas trabalham no campo.
Cabra marcado para morrer (1984) (imagem: divulgação)

Fio da memória (1991)
120 minutos

Filho de negros escravizados, Gabriel Joaquim dos Santos nasceu logo depois da Abolição (1888). Trabalhou como operário de uma mina de sal, construiu uma casa repleta de esculturas de pedra e escreveu um diário. Personagem cheia de nuances, ele é a inspiração para um mergulho na história da escravidão e da resistência da cultura negra.

Este é o segundo longa documental de Coutinho, realizado depois da obra-prima Cabra marcado para morrer. O plano de abertura do filme, que capta as idas e vindas do mar numa pedra, é a porta de entrada para uma narrativa que trata dos movimentos da memória e da presença do passado no presente, tomando como matéria a escravatura e suas consequências perversas para o país.

Santo forte (1999)
82 minutos

Umbandistas, católicos e evangélicos, moradores da comunidade Vila Parque da Cidade, na Zonal Sul do Rio de Janeiro, narram suas histórias pessoais e falam sobre sua relação com o sobrenatural. Do colorido de crenças, orações, santos e orixás nasce um retrato da forma particular com que cada um lida com a religião.

Premiado nos festivais de Gramado e Brasília, Santo forte é um dos títulos mais celebrados da carreira de Eduardo Coutinho. Valendo-se de recursos caros a seu método de mirar a realidade, como a entrevista, os longos planos e a abertura à fala dos entrevistados, o diretor alcança momentos luminosos na captura do diálogo entre o homem e seus santos.

Edifício Master (2002)
110 minutos

O Edifício Master é um imenso condomínio na Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Tem 12 andares e 276 apartamentos. Vivem ali diferentes personagens, de origens e experiências diversas, entre jovens, aposentados, camelôs, trabalhadoras do sexo etc. É nesse complexo microcosmo que Coutinho transita com sua câmera e sua equipe.

Sem cair nos truques do voyeurismo e do jornalismo sensacionalista, o cineasta produz um retrato grandioso da riqueza humana deste espaço monumental, o Edifício Master, pleno de contradições, dramas e boas histórias. Um dos mais importantes documentários brasileiros deste século, foi premiado nos festivais de Gramado e Havana e na Mostra internacional de cinema de São Paulo.

Fotografia colorida da gravação do filme Edifício Master. Na imagem, Eduardo Coutinho está ao centro, em pé, com uma das mãos apioada em um armário. É possível ver, à direita, dois operadores de câmera e uma técnica de som. à esquerda, a entrevistada está sentada em uma cama.
Edifício Master (2002) (imagem: divulgação)

Peões (2004)
85 minutos

A história de homens e mulheres que migraram do campo para o ABC Paulista entre as décadas de 1960 e 1980 para trabalhar na indústria automobilística. Suas jornadas pessoais são recontadas a partir de um olhar atento aos grandes acontecimentos históricos daquele período, como o movimento sindicalista, a criação do Partido dos Trabalhadores (PT) e a projeção política de Luiz Inácio Lula da Silva.

Coutinho segue o rastro dos metalúrgicos que estiveram nos bastidores do novo sindicalismo e, em especial, nas greves que sacudiram a Grande São Paulo em 1979 e 1980. É através de suas próprias vozes e testemunhos que somos apresentados a uma gama de sentimentos e experiências épicas. A obra recebeu o prêmio de Melhor Filme no Festival de Brasília de 2004.

Fotografia do filme Peões. Na imagem, Eduardo Coutinho e o entrevistado estão sentados em um sofá, olhando um livro.
Peões (2004) (imagem: divulgação)

Jogo de cena (2007)
105 minutos

Mulheres narram suas histórias pessoais diante de uma câmera num estúdio. Pouco depois, parte delas conta a mesma história no palco do Teatro Glauce Rocha, no Rio de Janeiro. Ao fim do processo, atrizes interpretam as vivências narradas por essas mulheres. A partir desse jogo de espelhos, o filme investiga a natureza da representação artística.

Um documentário “impuro”, que incorpora deliberadamente a contribuição de várias atrizes, entre elas Andréa Beltrão, Fernanda Torres e Marília Pêra. Muito mais do que um mero exercício de linguagem ou truque de embaralhar, o filme é uma profunda meditação sobre a encenação e a realidade, a condição feminina e a noção de verdade.

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