Assista a uma entrevista com a pesquisadora, em que ela narra sua trajetória e comenta os princípios do seu trabalho. A fala foi registrada quando ela recebeu o Prêmio Itaú Cultural
Publicado em 04/06/2025
Atualizado às 15:33 de 04/06/2025
Fundadora do Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, no Piauí, a antropóloga Niède Guidon morreu nesta quarta-feira, 4 de junho.
Nascida em 1933, a pesquisadora – formada em história natural pela Universidade de São Paulo e doutora em arqueologia pré-histórica pela Universidade Sorbonne, na França – tinha 92 anos. Em 2017, ela recebeu o Prêmio Itaú Cultural por seu trabalho, que transformou as perspectivas científicas sobre a ocupação humana originária das Américas.
Antes das evidências encontradas por Niède, era consenso que os primeiros habitantes do continente tinham chegado há 13 mil anos, vindos da Ásia. No Piauí, ela encontrou vestígios que datam de 60 mil anos e que sugerem migrações de mais de uma origem ao território (incluive a África). Após debates, esses dados consolidaram um novo ponto de vista.
No entanto, a polêmica “para ver quem é mais antigo” (como disse Niède à revista Pesquisa Fapesp) não a interessava tanto quanto a beleza das pinturas rupestres que ela colaborou para revelar ao mundo. Seu objetivo principal, afirmou ela ao Itaú Cultural (IC), era pôr essa forma de arte “em um contexto cultural”, destacando suas particularidades e sua qualidade estética.
Sintomática desse seu desejo foi a resposta dada por ela quando foi perguntada por nós sobre o que, nela, inspirava as pessoas: “Não sou eu", contestou, “é a Serra da Capivara, são esses desenhos deixados pelos homens pré-históricos, esta paisagem absolutamente maravilhosa”.
Para preservar o patrimônio histórico-cultural do Parque Nacional Serra da Capivara, foi estabelecida a Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), cuja criação e gestão contaram com a participação fundamental de Niède. A Enciclopédia Itaú Cultural conta a história da entidade.
Todo esse legado pode ser conhecido nas palavras da própria arqueóloga no episódio da série Trajetórias dedicado a ela. Disponível na Itaú Cultural Play, nossa plataforma de streaming gratuita, o minidocumentário aborda seu percurso e seus valores. Veja o teaser:
Em 2009, no contexto do projeto Obra revelada, Niède falou novamente ao IC. Em diálogo com o crítico de arte Jorge Coli, ela apresentou a arte da Serra da Capivara:
"Niède Guidon colocou as Américas e especificamente o Nordeste do Brasil no radar da arqueologia mundial”, descreveu Ana de Fátima Souza, hoje gerente executiva de Comunicação Institucional e Estratégica da Fundação Itaú, para a publicação impressa do Prêmio Itaú Cultural de 2017. Então gerente de Comunicação e Relacionamento do IC e integrante da comissão de seleção do prêmio, Ana definiu a antropóloga como “uma entidade, uma guerrilheira e a principal guardiã da história do homem primitivo do sertão brasileiro”.