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Com experimentos de linguagem, Wesley Peres convida a um mergulho na psicose

No romance apoiado pelo Rumos Itaú Cultural, o tema da loucura é apresentado sem esteriótipos

Publicado em 10/07/2019

Atualizado às 16:26 de 15/02/2022

por Tatiana Diniz

O psicanalista Wesley Peres é também escritor. São de sua autoria três livros de poemas e dois de romance, e a próxima obra está a caminho, sendo criada com o apoio do programa Rumos Itaú Cultural. Seu primeiro romance, Casa entre Vértebras (2017), publicado pela editora Record, venceu o Prêmio Sesc de Literatura, foi finalista do Prêmio São Paulo e também indicado ao antigo Portugal Telecom.

No Rumos, Peres dedica-se à escrita de um romance que se chamará Cartografia de um Doente dos Nervos. “Posso dizer que, neste livro, o escritor e o psicanalista se misturam, pois a ideia é escrever um romance sobre um personagem psicótico sem estereotipar nem romantizar a loucura”, explica o psicanalista-autor.

Escrita em primeira pessoa, a nova obra aborda a psicose, pretendendo não falar sobre ela diretamente, mas sim levando-a a se expressar por meio do personagem principal. “Não se trata de falar sobre a loucura, mas de mostrar, digamos assim, como ela funciona e como o discurso psicótico se estrutura”, adianta Peres.

Para ele, a chamada “loucura” é tratada de um modo problemático pela sociedade: ora de modo estigmatizado, marginal; ora de modo romantizado. “Por exemplo, quando se associam loucura e genialidade, forjando a falsa ideia de que o psicótico é sempre um gênio ou de que gênios são sempre psicóticos”, observa.

O livro pretende mostrar que a psicose é algo difícil para o psicótico e para quem está em torno, mas que o psicótico não é um alienígena nem um extra-humano. “Para alcançar esse objetivo, o principal é o trabalho com a linguagem, fazê-la funcionar no polo da loucura, o que faz com que a obra às vezes se aproxime da linguagem poética”, comenta o autor, citando Manoel de Barros, para quem a poesia é a loucura da palavra. “Mas sem deduzir disso que todo louco é poeta ou que todo poeta é louco”, completa.

Na construção da obra, Peres simultaneamente escreve e pesquisa sobre o tema da psicose, em um processo de imersão. “Como o projeto é a escrita de um livro, nos próximos meses o trabalho duro segue, escrita e pesquisa ao mesmo tempo. Pesquisa sobre teoria e casos de psicose e também sobre autores que escreveram livros estruturados pelo discurso da loucura, como Samuel Beckett e o genial escritor brasileiro Campos de Carvalho, autor de A Lua Vem da Ásia (1956)”, conta. 

O romance será dividido em fragmentos numerados, sendo cada um deles a possibilidade de um texto poético em si. “Como poemas em prosa, com uma linguagem encadeada de um fragmento a outro, com certa autonomia entre eles, mas com a intenção de estabelecer com o leitor um jogo tácito que o leve, ao final, a uma trama”, define Peres. Quando pronto, o novo trabalho será apresentado à editora Rocco, pela qual ele publicou seu segundo romance, As Pequenas Mortes (2013). “Espero que saia por lá”, conclui.

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