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10 anos sem Chorão: fãs relembram momentos marcantes com o artista

Em março de 2013, o vocalista da banda Charlie Brown Jr. deixava um legado na música e uma legião de fãs

Publicado em 31/03/2023

Atualizado às 15:40 de 12/05/2023

Por Juliana Ribeiro

A morte do músico Alexandre Magno Abrão, o Chorão, completou dez anos no início deste mês. Considerado um dos grandes nomes do rock brasileiro, o vocalista do Charlie Brown Jr. marcou gerações ao lado de Champignon (baixo) – também falecido no mesmo ano –, Marcão Britto (guitarra), Thiago Castanho (guitarra) e Renato Pelado (bateria).

O artista, que sonhava em montar uma banda desde a adolescência, alcançou seu objetivo em meados de 1992, ao fundar o Charlie Brown Jr. com os amigos. Misturando estilos como rock, rap, reggae, skate punk e hardcore, os meninos da Baixada Santista emendaram sucessos com letras que criticavam a classe política, o sistema capitalista e a desigualdade social.

Na imagem, Chorão está no palco, com os braços abertos, de frente para a imensa plateia.
Chorão em show com a banda Charlie Brown Jr. (imagem: Frame do videoclipe "Proibida pra mim"/ Youtube do Charlie Brown Jr.)

Não demorou para que a banda se tornasse conhecida e conquistasse uma legião de fãs, entre eles o despachante aduaneiro Emerson Luís de Almeida Manoel, mais conhecido como Emerson Pedra, que, inclusive, tem trechos de músicas dos ídolos tatuados no braço. Eu fui ao barzinho da pista [de skate] e lá estava o Chorão, sentado em uma cadeira, largadão, com o gato dele”, relembra.

 Emerson conta que acompanhou a banda pelas rádios desde que ela começou a despontar ali mesmo, no litoral de São Paulo. “Havia uma rádio especializada em rock na cidade que começou a tocar muito [as músicas do Charlie Brown]. Todo mundo passou a perguntar “Quem é essa banda?”. Depois, fiquei sabendo que era de Santos”, diz.

Em 1993, ele conseguiu ir ao show do Charlie Brown, realizado num bar em Santos, no qual, segundo ele, cabiam no máximo mil pessoas – ou nem isso. Na época, o fã parou a moto em frente ao bar e avistou uma galera em uma van. Era a banda.

No dia, a casa estava cheia. “Quem abriu foi uma banda que, mais tarde, se tornou a Tihuana. Eles abriram o show do Charlie Brown num palco que não tinha nem 1 metro de altura, bem intimista, show tête-à-tête. Depois, veio o Charlie Brown e ‘quebrou tudo’”, conta.

Para Emerson, a sensação de assistir de perto àquela apresentação é difícil de esquecer: “As letras, a postura no palco... Era muita energia! Não sei de onde ele [Chorão] tirava tanta energia, porque aquilo que se vê em qualquer DVD, em qualquer gravação ao vivo, acontecia em todos os shows. Era uma loucura, era muito vibrante, você não conseguia ficar parado”.

  “Todo mundo queria ser o Chorão”

O porteiro Danilo Sant’Ana também fazia parte do grupo de fãs do Charlie Brown Jr., principalmente no começo da carreira do grupo. Na época em que a banda estourou, ele era um adolescente com pouco mais de 12 anos. “Eu gostava muito, mas muito! A ponto de querer andar igual ao cara. Aqui na Baixada tinha muito disso; todo mundo queria ser o Chorão e, como ele era daqui, queríamos ser o cara, andar igual, falar igual, queria me vestir, comprar roupas iguais. Eu guardava dinheiro, fazia vários trabalhos aqui e acolá, correria de lavar carro de tio para guardar dinheiro para comprar calça, camisa, boné e andar igual ao cara”, diz, relembrando que costumava guardar tudo que era publicado sobre o ídolo.

Na imagem está um adolescente de braços abertos. Ele usa camiseta azul clara e bermuda branca.
Danilo, aos 14 anos, a caminho do show dos Raimundos, que teve participação surpresa de Chorão (imagem: Arquivo pessoal)

A paixão pelo skate também foi um elo que uniu fã e banda, já que, quando o porteiro conheceu o Charlie Brown, já praticava o esporte e participava de campeonatos. “A maioria da molecada da Baixada, de qualquer lugar, começou a andar de skate depois de ouvir o Charlie Brown. Para mim, foi um plus ver uma banda de Santos em que os caras também curtiam skate. Além disso, tinha a parada do rock, de que sempre gostei”, diz ele.

  “Foi um choque!”

A partida precoce de Chorão pegou a todos de surpresa e causou grande comoção no Brasil inteiro. Ele foi encontrado morto no final da madrugada de uma quarta-feira, em 6 de março de 2013, no apartamento onde morava, em Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Chorão completaria 43 anos no mês seguinte, em 9 de abril.

Naquele dia, Emerson estava indo trabalhar com o pai quando recebeu uma ligação de um amigo por volta das 9 horas da manhã. “Não gosto muito de atender ligação, mas, pelo horário e quando vi quem era, logo atendi. Ele disse: ‘Pedra [apelido], tu não sabe quem morreu!’. Eu perguntei de quem se tratava e ele respondeu: ‘O Chorão!’. Falei: ‘Você está louco?’. Era difícil de acreditar”, relata.

 O despachante conta que, na hora, ficou com o olho lacrimejando, incrédulo: “Liguei o rádio, e o Datena [apresentador de telejornal] á estava anunciando a morte dele, estava rasgando elogios, dizendo que gostava muito da banda. Foi um choque! Ninguém esperava. Mesmo ele sendo muito louco, ninguém esperava uma morte assim, trágica”.

A lembrança desse dia ficou marcada na memória do fã, que confessa não gostar muito de ouvir o último álbum gravado pelos ídolos, La família 13, lançado poucos meses após a morte de Chorão e Champignon. “Às vezes coloco no carro, mas acho muito melancólico. No último disco, a vibe já está baixa; não gosto muito de ouvir, porque bate a lembrança perto da morte dele. E, quando ele morreu, tocaram muito essas músicas, acho a vibe meio triste”, diz.

  Encontros

Emerson conseguiu ter um contato mais próximo com Chorão em algumas ocasiões, como na pista Chorão Skate Park e nas ruas da Baixada. Um desses encontros aconteceu em um show da banda Raimundos na Ilha Porchat, em São Vicente. “Lembro que os Raimundos estavam no palco e a banda toda [Charlie Brown Jr.] estava na areia com a gente – maior loucura, maior frenesi. O Rodolfo [vocalista dos Raimundos] fez um sinal chamando o Charlie Brown para subir. Foi uma loucura! ”, relembra.

Ao fim do show, Emerson conta que ficou com os amigos nas barraquinhas da Praia de Itararé e avistou os ídolos. “Eu vi todo mundo e perguntei onde estava o Chorão, e eles responderam: ‘Olha lá atrás’. Quando o vi, lá estava ele com a calça caindo e com uma latinha na mão. A cada 50 metros que ele andava, juntava uma galera enorme”, diz.

 Em outro momento, ao acompanhar os amigos do Conexão Baixada (banda apoiada por Chorão), que se apresentariam em um show no Guarujá, o despachante ficou papeando com o artista por, pelo menos, 15 minutos antes de o evento começar. “Conversamos de tudo. Lembrei de quando o encontrava na rua, da situação em que o encontrei com as calças caindo – porque ele estava meio bêbado –, e ele dava risada de tudo isso. Foi muito legal essa conversa. Ele tinha uma conexão forte com o público, gostava do que fazia, tanto que, até hoje, está aí o legado. Ele parava, conversava. Era uma cara muito vibrante”, conclui.

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