PRESSKIT

O ano: 1991. Amigas estão reunidas para comemorar o lançamento de uma edição

da coletânea Cadernos Negros* na casa de uma delas, Miriam Alves, onde também estão Sonia Fátima da Conceição, Lia Vieira e Esmeralda Ribeiro. Todas são escritoras e, entre elas, há também uma que se chama Conceição Evaristo.

No encontro surge uma ideia: enviar cartas umas para as outras, criando

um dossiê particular com temas ligados ao universo negro e feminino. Cartas Negras: assim é batizado o projeto.

 

Ali, na origem da ideia, todas enviavam as cartas da forma mais tradicional possível, ou seja, pelos Correios. Uma escrevia e mandava para todas a mesma carta, replicada em fotocopiadoras. Ao responder, o mesmo processo: a resposta era enviada a todas as participantes. “Todas as cartas circulavam entre nós.
A carta de uma provocava a resposta de todas”, conta Conceição Evaristo.

 

Não foram muitas cartas trocadas. O processo foi se perdendo. Nem com o advento do e-mail a ideia foi resgatada. “O interessante é que a gente nunca perdeu a lembrança. Esse desejo ficou. Volta e meia a gente se reencontrava e falava de retomar. Fizemos algumas tentativas, pelo menos de discussão de retomada, mas nunca aconteceu realmente”, explica.

 

O ano: 2017. Homenageada da 34ª Ocupação Itaú Cultural, Conceição Evaristo transforma em realidade, na publicação que o instituto preparou para esta mostra, a troca de correspondências com as amigas. Participantes do projeto original foram chamadas para a roda (Esmeralda Ribeiro, Geni Guimarães e Miriam Alves), assim como autoras de uma nova geração, convidadas especialmente para resgatar a ideia (Ana Cruz, Ana Maria Gonçalves, Cristiane Sobral, Débora Garcia, Elizandra Souza, Jenyffer Nascimento, Lívia Natália, Mel Adún e Raquel Almeida).

 

Chegar aos nomes atuais, segundo Conceição, não foi difícil. “Quando pensei nessa volta, já queria chamar outras meninas também – eu digo meninas por causa da renovação mesmo. Essa geração é formada por pessoas que são as nossas novas vozes. Sem dificuldade alguma, esses nomes vieram à tona. Teria até mais”, conta.

 

Entre a sua geração e a atual, Conceição vê muitas semelhanças, mas também uma diferença. “Hoje uma escritora nova vai citar Geni Guimarães, Miriam Alves, Conceição Evaristo. Essa referência nós não tínhamos. Quando começamos a escrever e a publicar, sabíamos de Carolina Maria de Jesus e muito pouco de Maria Firmina dos Reis, tínhamos ouvido falar pouquíssimo de Auta de Souza... Hoje esse grupo de escritoras tem mais referências e tem com quem dialogar. A nossa condição de mulheres negras nos dá essa cumplicidade. Isso é muito bom. Isso também é uma responsabilidade da gente. Teve um momento em que éramos poucas.”

 

 

 

PUBLICAÇÃO E PARA ALÉM DA PUBLICAÇÃO

 

As cartas serem publicadas também é uma ideia antiga. “Nos anos 1990, já criamos Cartas Negras pensando em uma publicação. Se não exatamente pensando, desejando uma”, explica Conceição Evaristo. “E isso partia muito do fato da nossa dificuldade de publicar”, completa.

 

A dificuldade, infelizmente, continua. “De lá para cá, alguma coisa mudou. Mas acho que, se a gente for pensar na posição ou no lugar das autoras negras, o que mudou foi muito pouco. As dificuldades que temos para publicar, para divulgar nossos nomes... Temos que reconhecer que alguma coisa mudou, mas ainda é muito pouco”, avalia.

 

A esperança depositada nesse resgate existe e resiste. “Essas Cartas Negras nos servem também como incentivo. É como um voto de confiança. Porque a escrita é

um processo muito difícil. Quantas coisas eu já escrevi e não mostro?”, analisa. “Ainda tem mais: nós, mulheres negras, oriundas de classes populares, nunca tivemos a escrita apontada como uma possibilidade nossa. Então, há uma autocensura muito grande. Eu vou a determinados seminários de literatura, escuto algumas coisas na fala das pessoas consagradas e fico pensando: ‘Será que o que faço é literatura mesmo?’. Está tão diferente do que é colocado como literatura!”, completa.

 

Além de ser um incentivo, a retomada de um projeto tão significativo pode até gerar uma continuidade. Para Conceição, mesmo que ainda apenas como um sonho, as cartas podem continuar. “Essa publicação (realizada pelo Itaú Cultural para a Ocupação em sua homenagem) pode fomentar esse desejo. De qualquer maneira, vai ser um estímulo muito grande para que cada qual continue na sua escrita. Mesmo que Cartas Negras fique aqui, sei que vai ser um estímulo para cada uma. É um reconhecimento do trabalho e a gente precisa disso.”

 

 

 

 

 

* A série Cadernos Negros surgiu em 1978, com oito poetas dividindo os custos do livro.
De lá para cá, uma edição a ano é lançada com poemas e contos. Organização, editoração,
lançamento e distribuição são feitos pelo grupo literário paulista Quilombhoje.
Escritores afro-brasileiros de vários estados já participaram da coletânea e as edições
mais recentes foram lançadas em parceria com uma editora.

 

 

texto escrito pela equipe do itaÚ cultural para A PUBLICAçÃO realizada

pelo instituto especialmente para a ocupação conceiçÃO EVARISTO.

 

O projeto Cartas Negras, criado por Conceição e amigas escritoras, como Esmeralda Ribeiro, Geni Guimarães e Miriam Alves, nos anos de 1990, é retomado nesta Ocupação no formato da publicação realizada pelo Itaú Cultural para a exposição. Naquele tempo, elas trocavam missivas, em uma espécie de debate escrito, sobre suas vidas e outros temas como a solidão, o machismo e o racismo. Nesta nova versão, as antigas parceiras juntam a sua voz e pensamentos a novas escritoras, como Ana Cruz, Ana Maria Gonçalves, Cristiane Sobral, Débora Garcia, Elizandra Souza, Jenyffer Nascimento, Lívia Natália, Mel Adún e Raquel Almeida.

 

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SERVIÇO

Ocupação Conceição Evaristo

Coquetel de abertura: 3 de maio (quarta-feira), às 20h

Visitação: 4 de maio (quinta-feira) a 18 de junho (domingo)

Terças-feiras a sextas-feiras, das 9h às 20h

[permanência até as 20h30]

Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h

Piso térreo

 

 

Acesso para pessoas com deficiência

Ar condicionado

 

Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

Itaú Cultural

Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô

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