Público S/A



Nisi: relação direta com o público (Foto:divulgação)

O Catarse foi fundado por Diego Reeberg, Luís Otávio Ribeiro e Daniel Weinmann, quando eram estudantes de administração em busca de um modelo de financiamento diferente do tradicional. A equipe ganhou mais quatro funcionários que se desdobram para administrar o site, depois do aumento exponencial de projetos. É normal um modelo de negócio novo que se tornou popular gerar muitas dúvidas, mas Diego Reeberg diz que à medida que pessoas e empresas se utilizam do financiamento coletivo, mais elas se convencem que é uma alternativa viável para realização de projetos, “Penso que muitas pessoas estão cada vez mais engajadas em movimentos colaborativos e no crowdfunding. Quando elas se derem conta do poder de transformação que têm, poderão criar um espaço cada vez mais forte, com inovações surpreendentes”, diz o administrador de empresas.

No Catarse as ideias chegam aos montes, de três a cinco por dia, mas todas tem que passar por critérios de seleção como criatividade, viabilidade econômica e agregar benefícios que não sejam só para o criador do plano. O projeto aprovado é divulgado no site e ganha um prazo de tempo para arrecadação. Se o montante não é alcançado, o dinheiro é devolvido aos investidores. Mais de 60% das iniciativas selecionadas pelo site são projetos culturais diversos como gravação de discos, produção de shows, edição de livros e montagem de exposições de artes visuais. Um desses casos é o primeiro álbum da Banda Mais Bonita da Cidade.

Os músicos curitibanos estouraram com Oração, canção cujo clip se tornou viral na internet e foi visto mais de 5 milhões de vezes no Youtube em menos de duas semanas. No embalo dos shows que fizeram, eles resolveram angariar fundos para a gravação de um disco pelo Catarse. Trinta e quatro dias depois tinham mais de 52 mil reais doados por 903 colaboradores de 155 cidades do Brasil, além de contribuições de países como Portugal, Estados Unidos e Itália. “No sistema que criamos tivemos que arrecadar no prazo estipulado e faixa a faixa. Caso alguma das faixas não atingisse o valor mínimo de quatro mil, ela não seria gravada. Usamos (o financiamento coletivo) porque é desburocratizado e você cria uma relação direta com o público. Não há o risco de fracasso financeiro, pois o público já está apostando que você realizará um bom projeto e isso te motiva a fazer um trabalho ainda melhor”, diz Vinicius Nisi, integrante do grupo.

Uma das vantagens do uso da ferramenta é a liberdade de não ter mudanças significativas na ideia original por orçamento limitado. O disco da Banda Mais Bonita da Cidade saiu do jeito que os integrantes tinham em mente antes de captar verba pelo crowdfunding, e teve direito a uma faixa bônus como presente pelo sucesso do financiamento.

Daniel Terra teve experiência parecida com o Catarse. O estudante de rádio e TV da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) queria financiar seu curta Um Quarto para Babushka. Conseguiu 26 apoiadores, batendo a meta em três dias. A proximidade do público com os realizadores do projeto faz pensar se haveriam interferências dos financiadores na produção, mas Daniel diz que “O filme não sofreu nenhuma pressão criativa, nenhuma cobrança para que fosse desse ou daquele jeito. O financiamento coletivo não mudou o filme que queríamos fazer, mas acho que teríamos que ter alterado o roteiro justamente se não tivéssemos conseguido o aporte, porque teríamos que fazer cortes no orçamento”.

A banda Letuce também investiu em crowdfunding para a gravação do segundo disco, mas diferente dos outros casos, a dupla formada pelo casal Leticia Novaes e Lucas Vasconcellos, nunca tinha ouvido falar sobre financiamento coletivo, “foi uma ideia do nosso selo, Bolacha Discos, eles estavam mais antenados com esse método que já estava rolando lá fora, achamos diferente e topamos tentar”, diz Leticia. Manja Perene, o disco resultante da campanha no site Embolacha, arrecadou pouco mais de 19 mil reais, 20% acima da verba orçada para a produção. Apesar do sucesso, o grupo é cético sobre o modelo e diz que foi uma experiência ótima, mas que não sabem se pretendem continuar a trilhar por esse caminho.

Alguns finais não são tão felizes. Cerca de 50% dos cadastros nas plataformas de arrecadação não conseguem atingir a meta e acabam não sendo realizados. Casos como o do Palmeiras se tornaram icônicos para entender até onde vai o poder do financiamento coletivo. O time de futebol tentou arrecadar, em um mês, 21.377.300 reais para contratar o meio-campista Wesley, que até então jogava no Werder Bremen. Foram arrecadados apenas 2,6% do total e a negociação só deu certo pela publicidade do caso, que atraiu investidores para concluírem a ação entre os clubes. Outro exemplo é o da página Nake It, que pedia apoio para fazer um ensaio fotográfico nu com Pietra Príncipe, apresentadora do Papo Calcinha do Canal Multishow. O assunto fez sucesso nas redes sociais, mas só conseguiu 85 mil reais dos 300 mil reais pedidos, e o site resolveu se reformular e investir em ensaios de mulheres comuns, muito mais em conta para financiadores pobres mortais.



01 | 02 | 03



Imagem do topo: A Banda mais bonita da cidade teve clipe viral na internet que alavancou financiamento coletivo (Foto: divulgação)