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Dapieve: somente para produções modestas (Foto: Christina Rufatto)







Mesmo com o investidor não saindo no prejuízo, já que recebe integralmente o dinheiro de volta, é frustrante para ele não ver o projeto em que apostou se realizar. O crítico musical Arthur Dapieve acredita que o crowdfunding é incipiente e cobre apenas produções modestas. Para ele, quem tem pretensão de montar algo de orçamento maior não deve se fiar nesse tipo de financiamento incerto e sim partir para algo que gere mais verba, como a lei Rouanet. “O crowdfunding me parece uma alternativa real, mas só funciona em casos específicos, que não dependam de grande estrutura para a produção”.


Das Plataformas para as Redes Sociais

No Brasil existem por volta de 30 sites de crowdfunding segundo o grupo de estudo sobre financiamento coletivo, o Crowdfunding Brasil. O modelo também chegou às redes sociais. Em julho de 2012, entrou no ar no Brasil o Mobilize, aplicativo do Facebook que transforma qualquer página da rede social em site de arrecadação. Apesar de ser novidade no país, a ferramenta foi fundamental na eleição do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em 2008, que arrecadou doações de mais de um milhão de pessoas para o seu fundo de campanha. Diferente dos sites, o Mobilize não exige que as iniciativas definam uma quantidade mínima de arrecadações para que o dinheiro seja liberado. O que for doado fica para o projeto, independente do montante final.


E o Futuro?

Pensar nos próximos passos do crowdfunding exige cuidado para não cair na euforia dos projetos bem-sucedidos. Mesmo assim, contrariando os poucos que apostam em modismo, a maioria das pessoas que trabalham com produção cultural classifica o financiamento coletivo como algo que pode se tornar uma alternativa tão boa quanto tentar um patrocínio em uma grande empresa. Tatiana Leite, fundadora do Benfeitoria, diz que “é uma questão de pensar o futuro: em 2020 serão mais de 5 bilhões de usuários de internet. O crowdfunding hoje é considerado doação, e tem questões importantes dentro disso, como o imposto de renda. A economia colaborativa como desdobramento da era digital é uma revolução cultural”.

Com a popularidade do financiamento coletivo surgiram também diversos grupos de estudo, como o Crowdfunding Brasil, lançado ao final de 2010 no portal de mesmo nome e hoje conta com mais de 500 membros ativos. O grupo discute diversos pontos primordiais do financiamento coletivo como tecnologia de plataforma, legislação e modelos de negócios internacionais. Entre seus integrantes, figuram profissionais do mercado e especialistas como Tomás de Lara, que desenvolve plataformas on-line para reunir pessoas do mundo inteiro em torno de questões comuns, além de ser sócio fundador do Engage, incubadora de projetos de tecnologia para engajamento nas áreas de produção colaborativa, cidadania e novas economias.

O Catarse, por exemplo, é fruto do Engage. Tomás aponta que entre os benefícios do crowdfunding estão o financiamento ágil, interação direta com público e o teste de aceitação do projeto antes mesmo de investir dinheiro nele. Daniele Ávila, crítica teatral e responsável pela ocupação do teatro Glaucio Gil – um núcleo de teatro experimental do Rio de Janeiro – faz coro, “O crowdfunding é uma oportunidade para se desamarrar da burocracia que envolve a produção cultural. Você pode dividir a responsabilidade da viabilização com todo mundo e o público decide o que quer ver, em vez de deixar isso na mão de poucas empresas que podem financiar. É uma possibilidade de emancipação”.


O Bom e o Ruim

Todo modelo de negócio de sucesso atrai pessoas curiosas pelo lucro das empresas mais conhecidas e o crowdfunding também é um chamariz para esse tipo de investidores, principalmente para os que agem sem a transparência necessária. Se o problema não é com o realizador, que parece querer arrecadar o dinheiro sem ter fins específicos e se importar somente com a captação, é com a plataforma. Tatiana Leite, fundadora do Benfeitoria, diz que muita gente se vale do momento de crescimento do setor para lucrar. Ela afirma que “os sites recebem comissão pelos projetos, muita gente apareceu de olho nesse dinheiro. O Kickstarter levantou 120 milhões de dólares em três anos de funcionamento, ganhando comissões milionárias. Muitos encontram dificuldade para manter o modelo, alguns até saíram do mercado, mas muitos outros não”.

Para José Maurício Fittipaldi, advogado especialista em direito regulatório nas áreas de mídia e entretenimento, existe a necessidade de uma regulamentação que proteja os financiadores e garanta que os recursos sejam realmente usados no projeto divulgado, além de uma prestação de contas de como o dinheiro foi gasto.

Nos Estados Unidos, uma iniciativa parecida já foi iniciada e o Congresso dos Estados Unidos debate o estímulo ao crowdfundingcomo forma de capitalização, com projetos de leis apresentados na Câmara.

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Imagem do topo: Um quarto para Babushka, de Daniel Terra – financiamento pelo Catarse em três dias. (Foto: divulgação)