Os DJs da Literatura

 



Goldsmith promove a escrita não criativa

Uma acusação comum à escrita não criativa é de que o público não estaria pronto para consumi-la. O remix não passaria de técnica elitista, dedicada a um pequeno grupo de conhecedores. Goldsmith acredita, porém, que acontece exatamente o contrário. Para ele, só a autodeclaração do não criativo já abre uma possibilidade de imediata compreensão. O fato de se saber de antemão do que o texto trata automaticamente o populariza, diz. “Se você entende o conceito do processo, independente do lugar onde mora, língua que fala, nível de educação, você logo consegue se engajar nessa escrita. É aberta para todos!”


O outro lado

Nem todos, diz o crítico literário José Castello. Para ele, na escrita não criativa há pelo menos uma pessoa barrada já na porta de entrada: o sujeito singular. “Hoje todos se fascinam pela tecnologia e suas possibilidades colaborativas. Esquece-se, porém, da força do particular. E a arte é o terreno do um” Na partida DJs versus autores, Castello veste a camisa do time adversário ao dos remixers. Critica, em particular, a euforia com que as novidades literárias são digeridas.  “No mundo contemporâneo, o novo é muito idealizado”, diz. “O remix é uma experiência interessante se encarada como uma nova possibilidade intelectual.” Não o vê, porém, como um protagonista na cena literária do século XXI. O crítico é cortante: “Vejo-o só como um jogo, um divertimento, que não substitui a literatura autoral”.

Quando surgiu, em meados do século XIX, também o romance policial foi considerado pela crítica um gênero de segunda mão. Livro inaugural do gênero, Assassinatos na Rua Morgue, de Edgar Allan Poe, era chamado de folhetinesco, além de um simples jogo em busca de um assassino. Também as histórias em quadrinho  tiveram início controverso: foram vistas apenas como leitura para crianças, quando não só como desenhos divertidos.

O remix literário remonta à história dos outros gêneros, provocando discussões e colocando autores e DJs, conservadores e liberais, em novo embate. Com a disponibilização ampliada pela web, já não importa muito quem sairá vencedor. As obras estão na rede, assim como o material-fonte, os textos estimuladores e as plataformas de circulação. Os remixers continuam a surgir. Misturam textos alheios como bem entendem e não pedem permissão a ninguém.

Conhecida por seu trabalho de descoberta de tendências e de novos valores, a professora Heloísa Buarque de Hollanda resume a euforia dos DJs literários: “Este é o século XXI: você tem muita informação nas mãos. Mas somente tê-las já não basta, é preciso saber juntá-las. E isso é pura criatividade”.


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