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Revista Observatório 31 | Arte, cultura e saúde mental: experiências internacionais e projetos inovadores

Revista Observatório 31 | Arte, cultura e saúde mental: experiências internacionais e projetos inovadores

O artigo inicia com uma recuperação histórica que situa a aproximação entre as artes e a psiquiatria, tendo como fio condutor as transformações dos entendimentos de loucura e normalidade. Apresenta também um panorama internacional de iniciativas e projetos em artes e saúde mental, recorrendo a todos os continentes e destacando algumas experiências.

Publicado em 29/03/2022

Atualizado às 16:02 de 15/08/2022

[acesse o índice da Revista Observatório 31]

por Eduardo Torre e Mariana Steffen

Resumo

Neste artigo, propomos um olhar explorador para o cenário contemporâneo de experiências artísticas e socioculturais encontradas nos diversos atravessamentos possíveis entre as artes, a cultura e a saúde mental. Tal como Picasso nos estudos que antecederam a Guernica, fazemos aqui um convite ao leitor para que explore a “obra principal” após este rascunho preliminar – o mundo lá fora. Para tanto, este nosso breve estudo inicia com uma recuperação histórica que situa a aproximação entre as artes e a psiquiatria, tendo como fio condutor as transformações dos entendimentos de loucura e normalidade em ambos os campos. Depois, relatamos rapidamente episódios recentes no cenário internacional que consolidam arte e saúde mental como área profícua para pesquisa e proposição de políticas públicas. Finalmente, apresentamos um panorama internacional de iniciativas e projetos em artes e saúde mental, recorrendo a todos os continentes e destacando algumas experiências, de forma a tratar da multiplicidade e da diversidade desse campo. Valemo-nos dos recursos digitais para, esperamos, proporcionar uma experiência imersiva por meio de links e vídeos que aproximam o leitor dessas experiências.

 

Introdução: das experiências históricas da arte na psiquiatria ao campo artístico-cultural da reforma psiquiátrica no contemporâneo

As relações entre arte, cultura e saúde mental vêm se consolidando como vasto campo de estudos e de produções socioculturais ao redor do globo. O cenário contemporâneo é marcado por experiências e projetos inovadores e multifacetados que compõem novas formas de participação social e de produção de subjetividades em diferentes contextos e linguagens artísticas. Com sua inventividade e originalidade, tais experiências e projetos promovem uma reinvenção do campo da saúde mental e dos modos de cuidado do sofrimento psíquico, ao mesmo tempo que promovem uma ampliação do campo das artes e da cultura.         

As raízes do movimento de aproximação entre esses dois campos remontam a experiências pioneiras com arte na psiquiatria na primeira metade do século XX. Por sua vez, com os movimentos de reforma psiquiátrica internacionais no pós-guerra, surgiu um novo panorama de entendimento sobre as possibilidades expressivas e criativas das linguagens artístico-culturais em sua relação com o sofrimento psíquico, com o campo da saúde mental e com os direitos humanos de forma mais ampla. Esse novo entendimento, que aponta para uma reinvenção do horizonte social sobre loucura e normalidade e para a construção de um novo lugar social para a loucura e a diferença, tem uma função política de resistência ao poder, rompendo com a visão manicomial excludente em relação ao diferente na sociedade. Do ponto de vista das artes, esse processo histórico também tem a ver com uma reinvenção das concepções sobre criação estética e cultural, desde o diálogo entre os movimentos artísticos de vanguarda com o campo psiquiátrico, revolucionando a visão sobre loucura e sobre arte (processo que se desdobrou primeiro com o modernismo e depois na arte contemporânea), até as produções artísticas atuais nas quais o diálogo se expandiu para uma compreensão da arte e da cultura como multiplicidade de produções da sociedade, na defesa da diversidade cultural e na crítica e combate a visões excludentes e colonizatórias.

Obra do artista Bispo do Rosário, chamada [Vós habitantes do planeta terra, eu apresento as suas nações...] . A obra é feita em couro, em formato retangular, ela está pendurada em uma pedaço de bambu circular. Do mesmo formato de uma cado de vassoura. Dentro o artista desenhou, uma serie de figura representando o que seria o mundo para ele.
imagem: [Vós habitantes do planeta terra, eu apresento as suas nações...] / coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea)

Experiências pioneiras de arte e cultura na história da psiquiatria

A história da loucura na sociedade ocidental é plena de contradições e profundamente reveladora de nossa relação com o desvario e o diferente. Em uma genealogia da história da loucura, a partir de Michel Foucault (FOUCAULT, 1978), é possível compreender como se deu a constituição histórica da noção de loucura como doença mental e seu lugar estratégico na sociedade moderna (AMARANTE et al., 1995 e 2021; AMARANTE; TORRE, 2018).

Apesar da hegemonia do paradigma psiquiátrico centrado na noção de doença mental, e com toda a opressão nos manicômios, a história da psiquiatria mostra diversas obras e personagens insólitos e revolucionários, especialmente no século XX, que desafiaram a visão dominante em seu tempo e se tornaram fundamentais para a constituição de um novo olhar para a loucura e as artes em nossa sociedade, o qual rompe com a visão manicomial. E, nesse encontro entre arte e loucura, uma nova possibilidade de compreensão guarda sementes para o futuro.

Entre as experiências pioneiras de arte e cultura na história da psiquiatria, um dos autores mais importantes no início do século XX foi o psiquiatra Hanz Prinzhorn, autor de Expressões da loucura (PRINZHORN, 1984), obra que reúne vasta coleção europeia de obras de arte de internos de instituições psiquiátricas. Do mesmo modo, a obra de Marcel Réja L’art chez les fous: le dessin, la prose, la poésie (RÉJA, 2013 [1907]) é considerada a primeira com abordagem exclusivamente estética de trabalhos de pacientes psiquiátricos. São autores que trazem uma nova reflexão e um questionamento da compreensão vigente na psiquiatria sobre os limites da arte e da loucura – questão que ronda o século XX, mesmo antes de Jean Dubuffet criar a noção de “arte bruta”[1], que transformou as concepções no campo das artes.

Na primeira metade do século XX, o surgimento dos movimentos internacionais de vanguarda, como o expressionismo, o cubismo, o dadaísmo e o surrealismo, produziu um enorme abalo nas concepções de arte, o que influenciou a possibilidade desse entrelaçamento entre a arte e a psiquiatria. Com base nessa nova visão na arte (que por sua vez também culminaria, no Brasil, no modernismo e no movimento antropofágico), surge um enfoque inovador de estudos sobre as produções artísticas dos pacientes psiquiátricos, que traçam paralelos entre a expressividade dos loucos, a arte primitiva[2] e a arte moderna. Os artistas modernos no início do século XX tinham um “fascínio pelo germe criador emergente, bruto, selvagem” (CARVALHO; REILY, 2010, p. 169). Daí o interesse de artistas como Paul Klee, Joan Miró e W. Kandinsky em colecionar desenhos de crianças; de Pablo Picasso e Henri Matisse em adquirir peças de arte africana; e de André Breton e Max Ernst em conhecer pinturas dos manicômios.

Podemos ainda mencionar diversos outros artistas e pensadores que tiveram influência no diálogo entre arte e loucura, como Van Gogh, Gustav Klimt, Salvador Dalí, Antonin Artaud e Roberto Sambonet, e, no Brasil, artistas e pensadores como Mário Pedrosa, Lasar Segall, Abraham Palatnik, Flávio de Carvalho, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Mário de Andrade. Em 1948, Dubuffet funda com Breton, em Paris, a Companhia de Arte Bruta e, em 1949, organiza com Michel Thévoz, na famosa Galerie Drouin, uma exposição com obras selecionadas de 60 artistas autodidatas, a qual se torna um marco histórico (DUBUFFET, 1949).

No Brasil, há diversas experiências históricas da arte na psiquiatria. Uma das mais conhecidas é a da criação da Escola Livre de Artes Plásticas do Juquery (Elap), pelo psiquiatra e crítico de arte Osório Cesar, que também organizou a primeira exposição de arte de pacientes psiquiátricos fora de um hospício no país e deixou um acervo no hospital do Juquery que deu origem ao Museu de Arte Osório Cesar (CESAR, 1929; ANDRIOLO, 2003; CARVALHO; REILY, 2010; TOMMASI, 2005). Também é fundamental mencionar a experiência da psiquiatra revolucionária Nise da Silveira e seu trabalho com os pacientes do Centro Psiquiátrico Pedro II, no bairro carioca Engenho de Dentro, que resultou na fundação do Museu de Imagens do Inconsciente, em 1952. Com a colaboração do crítico Mário Pedrosa e de outros artistas, os “Artistas do Engenho de Dentro”, como ficaram conhecidos Carlos Pertuis, Octávio Ignácio, Fernando Diniz, Adelina Gomes e Emygdio de Barros, entre outros, ganharam reconhecimento internacional (SILVEIRA, 1981 e 1986; MELO, 2005; DIONISIO, 2012; MELLO, 2015; PEDROSA, 1980).

Tais experiências pioneiras têm profunda relação com a desconstrução de dois dos maiores manicômios da América Latina: o Hospital Psiquiátrico de Juquery e o Hospício do Engenho de Dentro (antigo CPP2 – Centro Psiquiátrico Pedro II, hoje chamado Instituto Nise da Silveira). Elas são marcos históricos da introdução dos ateliês de arte no campo psiquiátrico no Brasil, deixando um legado de constituição de acervos museológicos de valor histórico inestimável e inspirando a criação de formas de cuidado e acolhimento da loucura através de múltiplas experimentações artísticas.

Ainda no Brasil, muitas obras literárias contam a história da psiquiatria sob outro prisma que não o da codificação psiquiátrica, como: O alienista, de Machado de Assis; Cemitério dos vivos e Diário do hospício, de Lima Barreto; e um dos mais contundentes relatos de uma internação psiquiátrica, chamado Hospício é Deus: diário I, da jornalista Maura Lopes Cançado (CANÇADO, 2015 [1965]). Além das obras singulares de Arthur Bispo do Rosário (DANTAS, 2009; HIDALGO, 1996; MORAIS, 2013), Qorpo-Santo (FRAGA, 1988) e Profeta Gentileza (GUELMAN, 2000). Também vale destacar o livro Canto dos malditos (CARRANO BUENO, 2000), de Austregésilo Carrano Bueno, que se tornou um ícone da luta antimanicomial e deu origem ao longa-metragem Bicho de sete cabeças (2001), entre muitas outras obras e experiências (CUNHA, 1986; LIMA, 2009; FERRAZ, 1998; THOMAZONI; FONSECA, 2011; FRAYZE-PEREIRA, 1995; CABAÑAS, 2018). Todas essas produções, essencialmente pioneiras na desestabilização do olhar social sobre a loucura, são exemplos do cruzamento do campo artístico e do campo psiquiátrico no Brasil no século XX.

Obra do artista Bispo do Rosário, chamada [Recordações]. A obra é feita em couro, em formato retangular, ela está pendurada em uma pedaço de madeira circular. Do mesmo formato de uma cado de vassoura.
imagem: [Recordações] / coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea)

Na Europa, com os processos de reforma psiquiátrica do pós-guerra, diversas experiências também promoveram o diálogo do campo da saúde mental e da psiquiatria com as artes, como o trabalho pioneiro do psiquiatra François Tosquelles no hospital de Saint Alban nos anos 1940 e a Clínica La Borde, fundada em 1953, na qual pacientes e médicos participavam ativamente da gestão (PASSOS, 2009; GUATTARI, 2012), ambos na França. Na Itália, destaca-se o trabalho do psiquiatra Franco Basaglia e de seus colaboradores (DIAS BARROS, 1994; GOULART, 2007; DELL’ACQUA, 2014; AMARANTE, 1996), apenas para citar alguns casos muito conhecidos.

O cenário atual tem inúmeras experiências e projetos, em todas as linguagens artísticas e nos mais diversos locais, culturas e contextos, criando uma frente de inovação de grande envergadura, que representa uma nova inflexão histórica, para além das “narrativas da loucura” na história da psiquiatria. Essas experiências artístico-culturais têm, em sua maioria, origem nas histórias e nos processos de reformas psiquiátricas mundo afora, mas não se restringem a isso: ressoam com novas possibilidades criativas e inventivas da arte contemporânea. Atualmente, em todos os continentes existem experiências importantes de arte e cultura em articulação com a saúde mental e os direitos humanos. Apresentaremos algumas delas a seguir.

Movimentos inter e transnacionais que consolidam o campo das artes e saúde mental no cenário contemporâneo

No campo internacional, o movimento realizado por organismos internacionais para a reunião de evidências e a promoção de novas frentes de pesquisa e financiamentos sobre artes e saúde mental indica a posição de destaque que o assunto passou a ocupar na agenda pública global. Em resposta aos efeitos da pandemia e a suas consequentes medidas restritivas, por um lado, e dando andamento a uma trajetória crescente de pesquisas e estímulos à área[3], por outro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recentemente estabeleceu importantes parcerias acadêmicas para aprofundar suas pesquisas no campo das artes e saúde. Mencionaremos duas delas. Junto com a NYU Steinhardt[4] e o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), a OMS lançou, em 2021, uma iniciativa visando reunir artistas, pesquisadores e formuladores de políticas públicas trabalhando nas fronteiras entre artes, saúde e cuidado.

Em outra frente, a OMS anunciou o primeiro WHO Collaborating Centre for Arts & Health, em colaboração com o Grupo de Psicobiologia do Departamento de Ciência e Saúde Comportamental da University College London. O centro terá como objetivo a realização de pesquisas internacionais sobre como as artes, a cultura e o patrimônio afetam a saúde mental e física e são capazes de construir comunidades mais fortes e de reduzir as desigualdades. Precedente dessas iniciativas foi o Fórum internacional “Arte, ponte para saúde e o desenvolvimento”, realizado em 2007 pela Organização Pan-Americana de Saúde (Paho, na sigla em inglês) junto com a Rede Latinoamericana de Artes para a Transformação Social e organizações comunitárias socioculturais.

Dentro do sistema da Organização das Nações Unidas (ONU), destaca-se a comunidade digital de jovens e para jovens organizada no âmbito da Unicef, chamada Vozes da Juventude (Voices of Youth, no original em inglês), que organizou, em 2020, o projeto digital chamado A arte da saúde mental, por meio do qual jovens do mundo todo expressaram suas tristezas e angústias decorrentes da pandemia em poemas, ilustrações e histórias. O resultado, disponível nesta página web, ecoa movimentos e estudos como o de Zarobe e Bungay (2017), que abordam os benefícios que o engajamento em artes traz principalmente para jovens e adolescentes.

Panorama internacional de experiências e projetos em artes e saúde mental

Atualmente é possível encontrar experiências inovadoras de arte e cultura em diálogo com o campo da saúde mental e com a loucura em todos os continentes. É interessante demarcar já de partida as diferenças entre as experiências do modelo ocidental, em larga medida relacionadas à luta e reformas antimanicomiais e a processos de desinstitucionalização[5], e o modelo predominante em países orientais e naqueles de renda mais baixa do Sul Global, cujos entendimentos acerca de loucura e saúde mental são bastante distintos e onde o processo de fechamento de instituições psiquiátricas ou está em gestação ou nem sequer existiu, por vezes consequência da própria escassez de atendimento psiquiátrico (FAKHOURY; PRIEBE, 2007). Da “prescrição social” no Reino Unido, passando por festivais na Europa e na África e chegando a grupos de Teatro do Oprimido na Índia e no Paquistão, o que apresentamos a seguir é um mapeamento exploratório de iniciativas no horizonte das artes e saúde mental[6].

África

Na atualidade, as produções no campo das artes e saúde mental no continente africano dividem-se sobretudo em experiências de arte-terapia, que tangenciam a temática deste artigo, e em uma perspectiva mais ampla de artes e saúde. Nas possibilidades de encontros entre saberes e expressões artísticas, o campo vem tomando forma na região, com um número crescente de artistas, movimentos e organizações que buscam, por meio da arte, expressar questionamentos e reflexões sobre loucura, trauma e sofrimento psíquico, e propor uma nova visão sobre saúde mental. Nesse sentido, em Ruanda destaca-se o Festival Hamwe, lançado em 2019 pela Universidade de Equidade em Saúde Global (Ughe, na sigla em inglês) e que busca reunir artistas de diferentes disciplinas, profissionais da saúde e pesquisadores para discutir o poder transformador da arte no bem-estar das pessoas. Nas artes visuais, a Organização Afyakili incentiva a autoexpressão por meio da arte para conscientização sobre saúde mental. A saúde mental também está presente no trabalho de  artistas como Kelechin Waneri, cujo trabalho perpassa pela interação subconsciente entre o homem e seu ambiente, e Teta Chel, que recentemente inaugurou a exposição Crônicas de uma sonhadora sem esperança, na qual aborda e transmite dores, emoções, solidão e outras reflexões. Por fim, cabe mencionar o trabalho de Kunle Adewale, que lidera a principal rede de artes em saúde no continente e é também o fundador da Tender Arts Nigeria, organização sem fins lucrativos que aplica arte-terapia e outras abordagens em artes e saúde mental.

América do Norte

Como resultado dos processos de reforma e fechamento das instituições psiquiátricas, os sistemas de saúde na região, assim como na Europa e na Austrália, adotaram uma abordagem comunitária dos cuidados com a saúde mental. Nos Estados Unidos, é significativa a presença do campo chamado artes em saúde ou artes em medicina[7], dedicado a transformar experiências clínicas e de cuidados de saúde em geral através das artes e da cultura. Em 2016, foi fundada a Organização Nacional para Artes em Saúde. Mais recentemente, esse campo deu origem à prática de creative placemaking (“criar lugares criativos”, em uma tradução literal), que pretende desenvolver comunidades sustentáveis, saudáveis e menos desiguais por meio de práticas artísticas e culturais.

Realizado entre 2010 e 2020 por meio de uma colaboração entre agências do governo dos Estados Unidos, fundações e financiadores privados, o Artplace America desenvolveu diversos projetos ao redor dos Estados Unidos que abordavam questões de saúde mental como estigma e trauma (HAND; GOLDEN, 2018). Alguns exemplos são o coral Urban Voices[8], que trabalha com indivíduos em sofrimento psíquico e/ou em situação de rua em Los Angeles; o projeto A Poem at a Time, que substituiu outdoors comerciais por cartazes com poemas de uma linha no bairro afro-americano mais antigo de Louisville; e o 100 Stone Project, no Alasca, que instalou esculturas desenvolvidas em conjunto com comunidades do estado, especialmente pelas mãos daqueles em sofrimento psíquico/emocional, com foco em conscientização e prevenção de suicídios. Há um pequeno documentário sobre esse último, disponível aqui. Nesse mesmo sentido, vale mencionar um projeto realizado pelo Centro de Artes em Medicina da Universidade da Flórida chamado WE-Making, que investigou como práticas artísticas e culturais comunitárias geram coesão social e, consequentemente, bem-estar para essas comunidades. Além de um relatório, a iniciativa gerou um repositório virtual com artistas, projetos e organizações atuando nesse marco que reúne bem-estar, comunidade e as artes.  

Obra do artista Bispo do Rosário, chamada Miss Afeganistão. A obra é feita em couro, em formato retangular, com uma alça em couro, e nesta alça está amarrado um cajado com um tecido enrolado. No couro, está escrito com costura algumas regiões do Afeganistão.
imagem: Miss Afeganistão / coleção Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea

América Latina e Caribe

Enraizados na luta antimanicomial, surgiram diversas experiências e movimentos críticos em diferentes países da América Latina. No Brasil, o projeto pioneiro Loucos pela Diversidade (AMARANTE; LIMA, 2008) criou iniciativas para estimular a produção artístico-cultural de pessoas em sofrimento psíquico. O projeto Memória da Reforma Psiquiátrica no Brasil criou um acervo de documentação com informações sobre os grupos e projetos de arte e cultura no campo da saúde mental. Entre as inúmeras experiências registradas, elencamos algumas: o Projeto TAM TAM, em Santos (SP); o Coral Cênico Cidadãos Cantantes, em São Paulo (SP); o Museu da Loucura, em Barbacena (MG); o Bloco Doido É Tu, em Fortaleza (CE); o Espaço Aberto ao Tempo (EAT) (WANDERLEY, 2002 e 2021); a banda Harmonia Enlouquece; e o Bloco Carnavalesco e Ponto de Cultura Loucura Suburbana, no Rio de Janeiro. Esse verdadeiro movimento cultural antimanicomial, que dialoga com a sociedade e com as artes em diversos âmbitos, promovendo ampla participação social e protagonismo dos atores sociais do movimento, conta ainda com expressões em filmes, exposições de arte, grupos culturais, teatrais e musicais, pinturas, esculturas etc. (AMARANTE; TORRE, 2017; TORRE, 2018; AMARANTE et al., 2021).

Uma discussão importante que cerca esse campo tem a ver com a importância de que essas práticas em artes e saúde, de modo geral, não se reduzam a uma opção elitista, disponível para aqueles que já têm abundantes recursos financeiros e acesso a outras formas de tratamento (CLIFT; CAMIC; DAYKIN, 2010). No Brasil, para além do formato acessível e gratuito de muitas das iniciativas mencionadas acima, destaca-se também a expansão dessas discussões e práticas para as periferias das cidades, como é o caso da ONG Redes da Maré[9]. Em 2018, a ONG inaugurou o Espaço Normal, “primeiro espaço de referência sobre drogas e saúde mental em um território de favela” (REDES DA MARÉ, 2022), que busca apoiar pessoas que usam crack, álcool e outras drogas com práticas de redução de danos e criação de uma rede de cuidado. O espaço oferece diversas atividades para os acolhidos, entre elas a participação em oficinas de cerâmica. A 1a semana de saúde mental na Maré[10] foi realizada em 2021, em parceria com o centro de estudos People’s Palace Projects, vinculado à Queen Mary University of London. No galpão que em breve será a nova sede do Espaço Normal, foi apresentada a performance Becos, abordando temas que afetam a saúde mental dos moradores da Maré, como racismo, violência policial e ansiedade. Ações informativas, como distribuição de cartilhas e sessões do Cineminha no Beco, também fizeram parte das atividades do evento.

Encontramos também em outros países latino-americanos processos inovadores. Em Cuba, por exemplo, um dos mais importantes líderes da psiquiatria cubana, Raúl Gil Sanchez, fundou o Centro Comunitario de Salud Mental de Regla e a Bienal de artes y salud mental, em Havana (OLIVEIRA, 2011). Para Gil Sanchez, “el arte, además de cumplir una función estética, tiene una relación directa con la forma de expresión de las personas[11]. Já em Medellín, na Colômbia, destacamos o Centro Psique – Arte e Psicologia, projeto que entrelaça arte e saúde mental e desenvolve laboratórios de experimentação criativa, cursos e publicações. Atualmente, o centro disponibiliza oficinas de escrita terapêutica, em que a prática criativa é usada como um canal de autoconhecimento e construção artística.

A Argentina, por sua vez, apresenta um campo consolidado e profícuo nas artes e saúde mental. Lá, a Red Argentina de Arte y Salud Mental tem forte incidência em políticas públicas e participou da elaboração de um documento que deve orientar o desenvolvimento de dispositivos de arte na rede comunitária de saúde mental (DIRECCIÓN NACIONAL DE SALUD MENTAL Y ADICCIONES/ARGENTINA, 2018). Em 2021, da trajetória dessa rede se originou a Red Latinoamericana de Arte y Salud Mental, cujo objetivo consiste em democratizar, socializar e construir projetos em conjunto. Vale mencionar, ainda, alguns dos grupos culturais ligados à reforma psiquiátrica no país. É o caso da Frente Artistas del Borda, fundada pelo psicólogo social e artista Alberto Sava (que é também presidente honorário da Red Argentina de Arte y Salud Mental) e que trabalha com circo, criação de murais, oficina de mímica, oficina de teatro participativo e oficina de desmanicomialização, com quase quatro décadas de “arte, lucha y resistencia” (SAVA, 2008 e 2020).

Ásia

Experiências em arte e saúde mental são em certa medida incipientes na Ásia, mas não menos potentes. Configuram importantes espaços de combate ao forte estigma associado à loucura e ao sofrimento psíquico ainda presente na sociedade asiática. A tendência ao preconceito e à discriminação na região se materializa principalmente sob rótulos de perigo e agressividade que levam à exclusão social desses indivíduos (LAUBER; ROSSLER, 2007). A escassez de recursos financeiros e pessoais para o atendimento em saúde mental contribui para o agravamento do problema. Nesse cenário, experiências artísticas são uma alternativa para o apoio a indivíduos em sofrimento psíquico e seus familiares, na luta contra o preconceito sistemático e pela conscientização da população sobre saúde mental.

A escassez de recursos financeiros e pessoais para o atendimento em saúde mental contribui para o agravamento do problema. Nesse cenário, experiências artísticas são uma alternativa para o apoio a indivíduos em sofrimento psíquico e seus familiares, na luta contra o preconceito sistemático e pela conscientização da população sobre saúde mental.           

Um importante exemplo são os grupos de Teatro do Oprimido (TO), metodologia teatral desenvolvida pelo brasileiro Augusto Boal que convida ao pensamento crítico e à transformação social por meio do teatro[12]. O Centro Jana Sanskriti, localizado na região da Bengala Ocidental, na Índia, e fundado por Sanjoy Ganguly em 1985, é hoje referência internacional na prática de TO. O centro realiza trabalhos em diferentes problemáticas da vida comunitária, como violência contra a mulher, e recentemente vem ampliando sua atuação direta em saúde mental, em parceria com outros grupos teatrais e com centros de pesquisa locais, como a Fundação para Pesquisa sobre Esquizofrenia (Scarf, na sigla em inglês). Já o Centro para Diálogo e Mudança Comunitária (CCDC, na sigla em inglês), em Bangalore, na Índia, vem realizando jogos, oficinas e teatros-fórum (uma das técnicas de TO) sobre temas de saúde mental desde 2011. Finalmente, vale citar o Centro de Recursos Interativos (IRC, na sigla em inglês), localizado em Lahore, no Paquistão, que busca promover empoderamento e desenvolvimento social em camadas marginalizadas da população por meio de TO. Em 2008, o IRC lançou o Vasakh international documentary film festival e, em 2011, a Maati TV, iniciativas audiovisuais focadas em direitos humanos, democracia e cultura, que abordam questões como conscientização em saúde mental e ansiedade por meio de vídeos e podcasts.

As experiências na região não se limitam, contudo, ao teatro. Há iniciativas por parte de artistas multidisciplinares como Val Resh, que aborda em sua arte sua própria relação com questões de saúde mental e seu diagnóstico clínico. A artista e ativista é também fundadora da organização The Red Door, cuja proposta é tornar o discurso sobre saúde mental e bem-estar mais inclusivo, utilizando as artes como caminho. Um trabalho importante de ser mencionado é o da organização não governamental Kolkota Sanved, pioneira no campo da Dança Movimento Terapia junto com populações marginalizadas, principalmente com mulheres que sobreviveram ao tráfico sexual e a outras formas de violência de gênero. Por fim, vale destacar a plataforma on-line Mental Health Talks India, um espaço que convida para a troca de histórias relacionadas à saúde mental, com uma seção especialmente dedicada à arte e à poesia.

Europa

Na Europa, temos experiências importantes em diversos países, englobando desde movimentos diretamente relacionados à desconstrução manicomial e à arte realizada por antigos pacientes internados até iniciativas de artistas que buscam abordar experiências traumáticas por meio da arte. A seguir, apresentamos apenas algumas das experiências no continente, uma breve fotografia de um campo já bastante avançado.

Na Itália, cabe destaque ao movimento de psiquiatria democrática liderado por Franco Basaglia na década de 1970, que se tornou mundialmente conhecido não apenas pela desconstrução manicomial, mas também pelas múltiplas estratégias e possibilidades de vida criadas nesse processo, especialmente na experiência na cidade de Trieste, e ainda em outras cidades. Uma reconversão total dos antigos hospitais psiquiátricos provinciais, que se tornaram parques abertos à cidade, e a criação de cooperativas sociais são importantes legados pós-Basaglia (DE LEONARDIS, MAURI; ROTELLI, 1994; BASAGLIA; TRANCHINA, 1979; GALLIO; GIANNICHEDDA; DE LEONARDIS; MAURI, 1983; VENTURINI, 2016).

Em Trieste, o antigo manicômio deu lugar ao Parque de San Giovanni (Parco di San Giovanni) e a diversas cooperativas sociais[13], além da Rádio Fragola, do restaurante Il Posto delle Fragole, do Festival lunatico, da companhia teatral Accademia della Follia e diversas outras iniciativas. Em Milão, destaca-se a Cooperativa Olinda (no antigo hospital psiquiátrico Paolo Pini), que integra laboratório teatral (Teatro La Cucina) e galeria de arte, junto com outras iniciativas e eventos comunitários. Em Roma, há a cooperativa Il Grande Carro e, em Nápoles, a cooperativa Je So Pazzo. Vale mencionar, ainda, festivais como o Impazzire si Puó e o Festival dei Matti.

Na Espanha, foi criada a Pinacoteca Psiquiátrica, com exposições de arte de pessoas em situações de sofrimento mental (DESVIAT, 2016). Em Portugal, chamamos a atenção para o Festival internacional de cinema e saúde mental (Ficsam), desde 2014, com mostra competitiva de filmes de diferentes tipos, incluindo ficção/drama, documentário, animação e experimental, além de conferências e workshops. Há também o Teatro Umano, criado em 1998, projeto que trabalha com teatro, teatro social e teatro comunitário, incluindo performances em espaços públicos com metodologia inovadora, em diferentes contextos e públicos. Busca atuar seguindo a máxima “Quem não exprime, oprime ou deprime”.

No Reino Unido, o campo de artes e saúde mental é bastante disseminado. Em 2017, o grupo parlamentar sobre artes, saúde e bem-estar lançou um relatório reunindo evidências de todo o país, com destaque para a chamada prescrição social, prática de indicar a pacientes a participação em atividades sociais não clínicas, de forma complementar a tratamentos medicalizados mais tradicionais (CULTURE, HEALTH & WELLBEING ALLIANCE, 2021). As origens do modelo remetem aos anos 1980 e ao movimento de desinstitucionalização (fechamento de hospitais psiquiátricos no país), que foi oficialmente adotado pelo sistema nacional de saúde britânico (NHS, na sigla em inglês) por volta dos anos 1990, expandindo-se desde então. Nesse modelo, o cuidado se desloca para a comunidade – por isso, a prática também é conhecida como community referral. Organizações do terceiro setor ganham espaço na provisão de cuidados primários em uma prática que aborda questões mentais, psicossociais e socioeconômicas e age sobre “bem-estar comunitário e inclusão social” (CHATERJEE et al., 2018). O processo de prescrição passa pelo NHS, em que um profissional da saúde vincula o indivíduo atendido a uma organização de referência. Pode buscar essa forma de apoio uma ampla gama de pacientes, desde aqueles que enfrentam problemas de sofrimento mental, como depressão moderada, até indivíduos considerados vulneráveis ou sob risco (CHATERJEE et al., 2018).

Uma das formas de prescrição social é justamente a que direciona indivíduos a práticas de atividades artísticas e culturais. Diferentemente da arte-terapia, as atividades de “artes sob prescrição” são facilitadas por artistas e engajam um grupo de pessoas da comunidade, atuando em dois níveis: primeiro, diretamente na melhoria da saúde e do bem-estar dos participantes, e, então, promovendo engajamento da comunidade e inclusão social (BUNGAY; CLIFT, 2010). A prática de prescrição social de artes é bastante difundida e consolidada no Reino Unido e conta com diferentes organizações, redes e entidades, como a Academia Nacional para a Prescrição Social, a Aliança de Cultura, Saúde e Bem-Estar e a própria prefeitura de Londres. Um exemplo de organização artística que atua nesse esquema é a Artlink Central, em Stirling, na Escócia, que oferece programas aplicando artes visuais, músicas e atividades criativas interativas para pessoas com problemas de saúde mental, dificuldades de aprendizagem e demência. Em Gloucestershire, no sudeste inglês, foi realizado um grande estudo sobre essa prática, o qual demonstrou que o programa de artes sob prescrição na região resultou numa queda de 37% em consultas e em um retorno de investimento entre 4 e 11 libras esterlinas para cada libra investida (SLAY; ELLIS-PETERSEN, 2016). A Artlift, organização que atua na região, oferece atividades que reúnem até 12 pessoas com um artista treinado, bem como cursos voltados para artistas que desejam se aprofundar nessa área.

Uma das formas de prescrição social é justamente a que direciona indivíduos a práticas de atividades artísticas e culturais. Diferentemente da arte-terapia, as atividades de “artes sob prescrição” são facilitadas por artistas e engajam um grupo de pessoas da comunidade, atuando em dois níveis: primeiro, diretamente na melhoria da saúde e do bem-estar dos participantes, e, então, promovendo engajamento da comunidade e inclusão social

Embora a maior parte dessas iniciativas ainda se concentre no Reino Unido, em 2021 foi instituída a Aliança Global para a Prescrição Social, com o apoio da OMS e de outras fundações internacionais. O objetivo da aliança é promover melhores práticas em prescrição social ao redor do globo, em um contexto de apoio aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos pela ONU.

Ainda no Reino Unido, cabe destacar iniciativas que se afastam da prescrição social e promovem novas formas de pensar e fazer artístico nas fronteiras com a saúde mental e o bem-estar. É o caso do festival Mad hearts, realizado por professores da Queen Mary University of London junto com artistas que questionam loucura, normalidade e bem-estar em suas obras, e do Festival artístico escocês de saúde mental (SMHAF, na sigla em inglês), fundado em 2007 com o objetivo de explorar como as artes podem prevenir o sofrimento psíquico e combater estigmas, reunindo em um mesmo evento excelência artística, justiça social e uma programação diversa com foco na comunidade. Há também experiências importantes de grupos e organizações teatrais como Fevered Sleep, Ridiculusmus e Contact Theatre, teatro de Manchester liderado por jovens que, em parceria com a Fundação Wellcome, instituiu um espaço de pesquisa em artes e saúde dentro de suas instalações para o desenvolvimento de peças e performances teatrais que abordem os desafios para a saúde mental e física de adolescentes e jovens.

Oceania

Na Austrália, o campo é também amplamente baseado em experiências comunitárias, como nos demais países anglófonos, e passa atualmente por franca expansão com a consolidação de esforços de pesquisa e de atenção do setor público. O Marco Nacional para Artes e Saúde foi divulgado em 2014, com o objetivo de promover a integração de práticas artísticas e de saúde de forma ampla. Mais recentemente, o foco vem se redirecionando para o campo de artes e saúde mental ou, em uma concepção mais ampla, artes e bem-estar, impulsionado pelo papel das artes diante dos desafios impostos pela pandemia de covid-19. É exemplo desse movimento o Fórum de artes e bem-estar, organizado pelo Conselho da Austrália para as Artes em novembro de 2021, para discutir como as artes e a criatividade geram efeitos positivos na saúde mental e no bem-estar das pessoas. No evento, foram abordadas algumas experiências já existentes nessa área no país, como Artes para Recuperação, Resiliência, Trabalho em Equipe e Habilidades da Força de Defesa da Austrália (ADF ARRTS, na sigla em inglês) e a Experiência de Dança para Artistas Maduros (Made, na sigla em inglês).

Nas universidades, há um esforço para avançar e consolidar esse campo com a gestação de uma rede de pesquisadores e a expansão de pesquisas multidisciplinares na área, como as lideradas pela Universidade de Melbourne (Criatividade e bem-estar), pela Universidade de Sydney (Create) e pelo Instituto Black Dog, que vem atuando para a difusão da prática de prescrição de artes no país (DAVIDSON, 2021). O instituto, em conjunto com a Universidade de South Wales, fundou em 2016 o festival The big anxiety [A grande ansiedade], que reúne artistas, cientistas, profissionais da saúde e a comunidade em geral para discutir a atenção à saúde mental no século XXI. Outro exemplo interessante é o The Dax Centre, que trabalha com artistas com problemas de saúde mental, garantindo um espaço seguro para que possam criar e exibir sua arte, e oferece oficinas artísticas para pessoas neurodiversas e com traumas ou questões psicológicas em geral.

Conclusão: arte, cultura e saúde mental: inovação, criatividade e transformação social

Assim como o questionamento do paradigma psiquiátrico manicomial foi fundamental para o nascimento dos movimentos de reforma psiquiátrica, também o questionamento dos cânones e formalismos escolásticos nas artes no século XX, com o modernismo e as vanguardas artísticas, foi fundamental para o surgimento da arte contemporânea. Mas há algo além: é que tal influência mútua entre o campo psiquiátrico e o campo artístico produziu profundos abalos de mentalidade e, em sua zona de contato, os dois campos alteraram-se mutuamente, mudando a compreensão estética no campo das artes e a compreensão da loucura como doença mental no campo psiquiátrico.

Por sua vez, é no cenário contemporâneo que uma multiplicidade de experiências e estratégias artístico-culturais se torna profundamente inovadora na reinvenção das artes e do cuidado com o sofrimento psíquico. Experiências que promoveram a ressignificação do cuidado com o sofrimento psíquico, como ocorreu no Brasil e na Itália; novos espaços de encontro entre as artes e a saúde mental, como a consolidação da prescrição social no Reino Unido; e as referências de arte e saúde nos Estados Unidos e em países da África demonstraram que as experiências artístico-culturais são fundamentais. Além de seu potencial para produzir lugares de pertencimento e modos de participação social para os sujeitos, elas atuam contribuindo para uma desmedicalização e uma despatologização dos modos de cuidado e intervenção sobre o sofrimento psíquico e a vulnerabilidade psicossocial.

Nesse sentido, diversas rupturas e deslocamentos vêm sendo possíveis, tais como: ruptura com o discurso técnico-científico e médico-psiquiátrico como detentor da verdade sobre a loucura e crítica ao conceito de doença; ruptura com a noção de arte como restrita à terapêutica, o que permite questionar a sobredeterminação da arte pela clínica; e ruptura com a concepção de cultura como restrita à arte institucionalizada ou a formalismos escolásticos. E, nesse processo, vivemos uma reinvenção das artes e da relação da sociedade com a diferença e a diversidade, por meio da construção de relações solidárias, inclusivas e criativas, na luta por produção de vida e transformação social.

 

Como citar este artigo

STEFEFN, Mariana; TORRES, Eduardo. Arte, cultura e saúde mental: experiências internacionais e projetos inovadores na construção de um novo lugar social para a loucura e a diferença. Revista Observatório Itaú Cultural, São Paulo, n. 31, 2022. Disponível em: [url]. Acesso em: [data_atual]. 

Eduardo Torre é psicólogo, doutor em saúde pública [Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)], professor e pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial, da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Laps/Ensp), da Fiocruz.

Mariana Steffen é mestre em políticas públicas (Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS), pesquisadora da People’s Palace Projects (Queen Mary University of London).

 

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[1] Para mais informações sobre arte bruta, consultar: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3776/art-brut. Acesso em: 28 jan. 2022.

[2] Sobre o termo “arte primitiva”, consultar: https://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3183/arte-primitiva. Acesso em: 7 fev. 2022.

 

[3] Por exemplo, o relatório que traz evidências da literatura sobre os impactos da arte no bem-estar (WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO, 2019). Disponível em: https://www.euro.who.int/en/publications/abstracts/what-is-the-evidence-on-the-role-of-the-arts-in-improving-health-and-well-being-a-scoping-review-2019. Acesso em: 28 jan. 2022.

[4] A NYU já lidera outra relevante iniciativa junto com a OMS, a International Research Alliance, que reúne pesquisadores de sete universidades para analisar o impacto das artes e de arte-terapias em uma escala global (University of Melbourne, Drexel University, Edge Hill University, Lesley University, University of Heidelberg e University of Haifa).

[5] Para mais informações e uma análise crítica dos avanços e retrocessos do processo no Reino Unido, ver Fakhoury e Priebe (2007).

[6] As escolhas dos casos refletem as experiências e curiosidades dos autores, não pretendendo esgotar a miríade de iniciativas nesse campo mundo afora.

[7] O site da Universidade da Flórida faz uma interessante discussão sobre as diferentes abordagens para o tema: https://arts.ufl.edu/academics/center-for-arts-in-medicine/about/what-is-arts-in-health/.

[8] Recomendamos este vídeo com a apresentação do coral em um evento do TEDx: https://www.youtube.com/watch?v=hbL_MsXrVsg.

[9] A ONG Redes da Maré desenvolve ações buscando a garantia de direitos básicos para os habitantes do Complexo da Maré, no Rio de Janeiro.

[10] A 1a semana de saúde mental na Maré foi um desdobramento da pesquisa Construindo pontes. Mais informações sobre essa pesquisa estão disponíveis em: https://peoplespalaceprojects.org.uk/en/projects/building-the-barricades/. Acesso em: 16 fev. 2022.

[11] Em tradução livre, “a arte, além de cumprir uma função estética, tem uma relação direta com a forma de expressão das pessoas”. Trecho de entrevista disponível em: https://www.radiorebelde.cu/noticia/comienza-bienal-arte-salud-mental-2011-20110308/. Acesso em: 16 fev. 2022.

[12] Para mais detalhes sobre Teatro do Oprimido, ver Boal (2005). Sobre a experiência de TO e saúde mental no Brasil, ver Santos, Joca e Souza (2016).

[13] São exemplos a cooperativa La Collina, a cooperativa agrícola San Pantaleone, a histórica cooperativa Lavoratori Uniti e muitas outras. Para mais informações, ver Thomas (2004).

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