O Cavaleiro

imagem: Juraci Dórea

Compartilhe

Meu Retrato

Eu já vim pronto, um poeta puro
Que me desculpem aqueles que não o são
Ás vezes anjo mais pra pecador
Fera indomada estando com a razão
Mais dado ao riso bem pouco ao furor

Não sou de pegar a coisa que cai
Chutando-a a um canto alguém depois que o faça
Confesso mĩa ogeriza asco horror
Aos poderosos ao homem violento
Ao mentiroso e à estupidez da massa

Conhecedor de Física e Matemáticas
Esculhambo com prazer toda a ciência

Que mente e trapaceia em toda existência
E a serviço dos maus põe suas práticas

Pra terminar esta triste figura
Com uãs pinceladas mais em branco e preto
Sem coloridos e em tosca moldura
Aqui deixo esboçado meu retrato.

Poema do livro Lira dos Dezessete e Outras Quadras: Caderno de Poema.

Compartilhe

O Violeiro

imagem: "O Violeiro", Juraci Dórea, grache, 2015

Compartilhe

Seção de vídeo

Amizades e Cantorias

Xangai é cantor, compositor e violeiro. Lançou seu primeiro álbum Acontecivento em 1976. Em 1980, em conjunto com Elomar e Arthur Moreira Lima, apresenta o disco Parcelada Malunga, pelo selo Marcus Pereira. Seu terceiro disco solo Mutirão da Vida (1984) teve a direção de Jacques Morelenbaum e acompanhamento do grupo Cumeno cum Cuentro.

Compartilhe

Elomar Figueira Mello

Filho de tradicional família de fazendeiros da zona da mata baiana, nasceu na casa da fazenda Boa Vista, em 21 de dezembro de 1937, em Vitória da Conquista (BA). Primeiro filho de Ernesto Santos Mello, tangedor de gado, e Eurides Gusmão Figueira Mello, costureira. De formação protestante, ainda criança, se sente atraído pela musicalidade do seu entorno enquanto vai empreendendo sua formação autodidata: da música de origem sacra à música profana de cantadores, repentistas e violeiros.

Aos 16 anos, ruma para Salvador a fim de completar os estudos e ingressa na faculdade de arquitetura, na Universidade Federal da Bahia, em 1959. Na mesma universidade frequenta, por cerca de três meses, os Seminários Livres de Música comandados pelos regentes e professores Ernst Widmer e H. J. Koellreutter. Enquanto o Brasil desafina os ouvidos com a bossa nova, Elomar começa a estruturar seu cancioneiro. Ao terminar os estudos, retorna para o interior e, em 1966, casa-se com Aldamária de Carvalho Mello, com quem tem três filhos: Rosa Duprado, João Ernesto e João Omar.

Em 1968, lança seu primeiro compacto simples com as composições O Violeiro e Canção da Catingueira. Em 1972 é publicado seu primeiro LP, Das Barrancas do Rio Gavião, em que agrega elementos e influências do romanceiro medieval ibérico e do cancioneiro popular nordestino, conforme destaca a apresentação do disco feita por Vinicius de Moraes. A partir dos anos 1980, em detrimento da arquitetura, prioriza a música e a carreira musical. São desse período os trabalhos Parcelada Malunga e Fantasia Leiga para um Rio Seco, entre outros. Em 1981, estreia em São Paulo o prestigiado espetáculo ConSertão, com participação de Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Heraldo do Monte.

Em 1984, ano do show Cantoria, com Geraldo Azevedo, Vital Farias e Xangai, passa a trabalhar na sua obra erudita e adentra no universo das óperas, dos concertos, das antífonas e da escrita orquestral. Junto do seu filho e parceiro João Omar, transita com desenvoltura nos espaços da tradução cultural desses elementos de origem europeia. O disco Árias Sertânicas, de 1992, registra os fragmentos de seu trabalho operístico. Com LPs lançados pelos emblemáticos selos Kuarup e Marcus Pereira, Elomar criou também sua própria gravadora, a Rio do Gavião, responsável por quatro dos seus dezesseis discos.

Elomar, que vive na fazenda Casa dos Carneiros, trabalha proficuamente tanto na criação de bodes e na rotina da vida rural quanto em sua obra musical culta e literária, que se desdobra em uma série de composições, de formatos diversos – como óperas, sinfonias, concertos e peças para violão solo, ou ensaios, poemas, peças de teatro, roteiros de cinema e romances.

Compartilhe

Elomar na Fazenda Casa dos Carneiros, Vitória da Conquista (BA) | imagem: acervo da Fundação Casa dos Carneiros

Compartilhe

Compartilhe

Compartilhe

Sem Coloridos e em Tosca Moldura

Esse mote guia Elomar no combate sem trégua ao uso de fotografias suas no que lhe diz respeito. “Eu nunca vi a cara de Sócrates”, provoca, aludindo ao filósofo da Antiguidade grega. Dessa forma, em seus discos prefere usar pinturas, desenhos e outros recursos. Evita ser fotografado ou filmado, ter a voz gravada sem justa razão.

Quando questionado sobre a possibilidade de um ensaio fotográfico para a Ocupação, mesmo que não fosse registrada sua face, Elomar apresentou como solução a poesia de sua autoria “Meu Retrato”.

À guisa de fotografias de Elomar, o artista Juraci Dórea foi convidado para criar uma série de imagens que registrassem o cantor e o sertão profundo.

Juraci, natural de Feira de Santana (BA), é amigo do cantor e para ele produziu as imagens dos discos Fantasia Leiga para um Rio Seco (1980), Auto da Catingueira (1983) e Dos Confins do Sertão (1987). Trabalha com poesia, pintura, escultura, desenho e fotografia e tem como principal referência a cultura sertaneja.

É seu o Projeto Terra, que levou para sete municípios do sertão baiano, entre 1982 e 2014, esculturas e pinturas. As esculturas somam 50 e são de madeira e couro, efêmeras. O projeto participou de exposições em São Paulo, Veneza, Cuba e Salvador (2014).

Elomar, Juraci, o poeta Antonio Brasileiro, o maestro João Omar e a pesquisadora Jerusa Pires Ferreira criaram a IV Real Academia, uma agremiação cheia de mistérios e que preserva a cultura desse mundo sertanejo.

Compartilhe

Juraci Dórea – Sobre Elomar e sua imagem

Compartilhe

imagem: Juraci Dórea

Compartilhe

Juraci Dórea – Sobre a IV Real Academia