A força da raça negra
em busca de seus direitos

Como um bloco de Carnaval usou a cultura para reforçar ações afirmativas em favor
do povo negro e se tornou uma das entidades precursoras do movimento negro brasileiro.

Nos anos 1970, os blocos de mortalha se popularizavam no Carnaval de Salvador, exigindo dos candidatos a integrar o grupo que preenchessem uma ficha com endereço e foto. Moradores das periferias e negros eram recusados.

 

Até que, em 1º de novembro de 1974, foi fundado no bairro da Liberdade o Ilê Aiyê, composto exclusivamente de negros. Passaram três meses se preparando para o primeiro desfile, cujo tema era simples: responder à proibição velada de os negros desfilarem no circuito do Carnaval da cidade. Proibição não oficial, nunca escrita em decreto. É assim até hoje, a restrição não se estabelece em regras públicas, o preconceito age em silêncio.

 

Os dois amigos carnavalescos que já agitavam um grande grupo de pessoas em festas e viagens, Vovô (Antonio Carlos dos Santos) e Apolônio de Jesus, chamaram mais gente para o grupo e criaram um estatuto. Dete Lima pensou a primeira fantasia. Compraram tecidos no comércio da Liberdade, se vestiram de branco e se enfeitaram, usando esses panos em torsos, faixas e adereços. Trançaram os cabelos, invocaram as raízes, as Áfricas em memórias e referências.

 

À frente do grupo foi uma das maiores sacerdotisas da história das diásporas africanas, Mãe Hilda. Era tempo de repressão militar e ela decidiu ser abre-alas do bloco porque, se a polícia reprimisse o cortejo – atitude que era recorrente com a comunidade negra –, ela estaria ali para defender seus filhos e os filhos dos vizinhos e conhecidos que confiaram os filhos a seu filho Antonio Carlos dos Santos Vovô.  Havia uma música tema, “Que Bloco É Esse”, composição de Paulinho Camafeu hoje gravada e regravada por uma dezena de artistas, que vão de Gilberto Gil a O Rappa, e que muita gente sabe cantar de cor.

 

O desfile transcorreu sem incidentes. Quem viu sabe o que foi. Um grupo de negros fazendo política com cultura. Levavam cartazes que denunciavam o racismo – para quem não entendesse a evocação da canção. A reação da mídia de Salvador foi qualificar a problemática racial como importação de um costume dos EUA, pois no Brasil não havia racismo. O preconceito age em silêncio e não permite ser revelado.

 

A África em iorubá

Ilê Aiyê foi o nome escolhido por Mãe Hilda para o bloco que nasceu de seu terreiro, o Ilê Axé Jitolu. Vovô, inspirado nos movimentos afro-americanos, queria Poder Negro. Mas ficou a vontade da matriarca, ficou a África no nome em iorubá, idioma nigero-congolês usado nos ritos religiosos afro-brasileiros no qual ilê significa “casa” e aiyê “terra” – o mundo terreno, em contraposição a orum, onde vivem os orixás. Na tradução de Mãe Hilda, a casa de todos. Na história do bloco, dos versos da música do primeiro Carnaval, o mundo negro que o Curuzu veio mostrar.

 

Os anos seguintes são de crescimento do Ilê, de sua lenda. Em 1976, surge o primeiro tema relacionado à África, os guerreiros Watusi, e o primeiro tecido para fantasia é artesanalmente pintado. Dois anos depois, a primeira rainha, Mirinha, é eleita Deusa do Ébano; surge o símbolo do perfil azeviche, são definidas quatro cores para o bloco e é produzido o primeiro tecido sob medida.

A identidade visual é obra do artista visual Jota Cunha: uma máscara africana com quatro búzios abertos formando uma cruz na testa. O autor a chamou de perfil azeviche. As máscaras são objetos ritualísticos e de grande importância na cultura dos países africanos, talvez uma das mais conhecidas expressões visuais de seus povos, e têm por função ser uma representação da coletividade. Azeviche é um mineral negro associado ao barro preto das terras da Liberdade e à pele negra.

 

As cores do bloco são branco, preto, amarelo e vermelho e representam, respectivamente, a paz, a cor da pele, a riqueza cultural e a beleza, e o sangue derramado na luta pela libertação.

 

As sementes do projeto pedagógico do Ilê estavam lançadas, gerando pesquisas anuais sobre os temas para munir a equipe de produção do Carnaval – os compositores que vão concorrer com as músicas, o desenhista do tecido (que de 1980 a 2005 é Jota Cunha; daí em diante, Mundão), a diretora artística Dete Lima, as candidatas a rainha e quem mais fosse produzir para o bloco.

 

O projeto pedagógico

Em 1995, quando o Ilê completava 20 anos de ampla visibilidade à cultura negra por meio do Carnaval, a casa alargou seus braços para abrigar um projeto de formação, conhecimento, autoconhecimento e educação da cultura negra. Organizações de Resistência Negra foi o título que abriu a série Caderno de Educação, produzida pelo Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê. O conteúdo trata das mais importantes organizações negras brasileiras desde o século XVII até a fundação do Ilê, em 1974, costurando história, poesia, música, ilustração, dever de casa e um rico glossário.

 

O Caderno de Educação foi idealizado pelo poeta, professor e então diretor do bloco Jônatas Conceição (Salvador, 1952-2009), e pela pesquisadora, professora e diretora do bloco Maria de Lourdes Siqueira (Codó, 1937), a partir de outros cadernos que eram editados anualmente com os temas do Carnaval. A implantação marca uma nova era de produção intelectual e pedagógica no Curuzu e na Liberdade.

 

A cada ano, após a escolha do tema central da festa, passou a ser feito um extenso trabalho de pesquisa, envolvendo intelectuais, professores e educadores, para levantamento das informações. O resultado da pesquisa é compartilhado com os compositores, que transformam aquele caldo cultural e histórico em poesia, ritmo, música e axé.

 

Os Cadernos de Educação

Entre 1995 e 2018 foram produzidas 24 edições do Caderno de Educação. Em 2012, por exemplo, Negros do Sul – Lá Também Tem! foi o tema escolhido. O conteúdo abordou a presença negra no Sul do país, detalhando manifestações culturais, costumes e personalidades históricas, como João Cândido Felisberto, conhecido como Almirante Negro, cujo legado é a luta pela conquista de direitos iguais para a raça negra.

 

A mulher negra também tem grande destaque na produção e no conteúdo dos cadernos. Intitulado Candaces – as Rainhas do Império, o décimo sexto volume da série, editado em 2008, conta a história das mulheres de sangue real, corajosas, guerreiras que ocuparam posições proeminentes, status importantes, funções políticas, sociais e culturais, assumindo a totalidade do poder durante três gerações sucessivas no Reino Império de Cush e Méroe.

 

“Nosso propósito com este Caderno de Educação é mostrar a importância da mulher negra para a história da humanidade”, escreveu Antonio Carlos dos Santos Vovô no prefácio da edição. O documento é a interseção entre passado e presente, com narrativas das candaces brasileiras Dete Lima, Lélia Gonzalez, Ruth de Souza, Leci Brandão e do Grupo de Mulheres do Alto das Pombas, em Salvador. Os cadernos são instrumentos de poder.

 

Mãe Hilda: ação, inspiração e homenagem

Muito da inspiração para criar a série Caderno de Educação veio da vivência das crianças na Escola Mãe Hilda, desde a sua fundação, em 1988, ainda dentro do terreiro Ilê Axé Jitolu, onde os alunos conviviam com os ensinamentos de história, mas ao mesmo tempo aprendiam os ritos

sagrados do candomblé.

 

Em homenagem aos 30 anos do Ilê Aiyê e aos dez anos de produção do caderno, a matriarca do Curuzu, guardiã da fé e da tradição africana, Mãe Hilda Jitolu, ilustrou a capa e o miolo do décimo segundo volume da série, em 2004.

 

“Mãe Hilda é filha dos grandes reinos, de todas as confluências, de todos os povos que vêm do Egito, do Sudão, da Etiópia, da Abissínia, da Eritréia, do Golfo do Benim, do Congo, de Angola, de Moçambique, Zimbabwe, Ghana e Mali” diz o caderno.

 

“Estrela guia / dona da sabedoria / da tradição / da religiosidade / solidifica, multiplica / dando origem à ancestralidade / és guardiã da beleza negra”, dizem os versos da composição “Guardiã da Beleza Negra”, de Jucka Maneiro, Roberto Cruz e Sandoval.

 

Meus filhos cresceram vendo que eu tenho fé e pratico a tradição do candomblé, declarou Mãe Hilda ao caderno feito em sua homenagem.

 

Para além do Curuzu

Os resultados foram os melhores. Os índices de aprovação escolar estavam acima dos 80% com a introdução de metodologias e materiais que dialogavam com as histórias e os corpos negros.

A publicação da série de cadernos do Ilê antecedeu em quase 20 anos a aprovação da Lei Federal nº 10.639/2003, que incluiu a obrigatoriedade dos estudos de história e cultura afro-brasileira no currículo oficial da rede pública de ensino. A lei já existia na Bahia desde 1987.

 

Coube ao próprio Ilê não só criar os cadernos, mas insistir pela inclusão do conteúdo nas escolas e capacitar os professores da Liberdade e dos bairros vizinhos. O objetivo era garantir a permanência da temática africana nos currículos das escolas públicas da região. Mais de 3 mil alunos foram capacitados, além de 60 professores de seis escolas – Colégio Duque de Caxias, Pirajá da Silva, Abrigo dos Filhos do Povo, Tereza Conceição Menezes, Classe IV e Carneiro Ribeiro, mais a Escola Mãe Hilda.

 

Em 1987, uma comissão formada pelo secretário de Educação, Edvaldo Boaventura, técnicos e professores implantou o primeiro curso de especialização em história da África, para professores da rede pública e membros de organizações e movimentos negros de Salvador.

 

Com a mudança do governo estadual em 1991, a disciplina foi tirada do currículo das escolas e o projeto perdeu apoios importantes, o que impossibilitou a impressão das últimas cinco edições do Caderno de Educação. Para 2019, o material já está quase pronto e festeja os 45 anos

do Ilê Aiyê. Axé!

 

 

[Este texto foi produzido pelo Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural, exclusivamente para a publicação realizada pelo instituto para acompanhar a Ocupação Ilê Ayê]

 

 

 

 

< Home

Serviço

Ocupação Ilê Ayê

Abertura: 3 de outubro (quarta-feira), às 20h

Encerramento: 6 de janeiro de 2019

Terças-feiras a sextas-feiras, das 9h às 20h
(permanência até as 20h30)

Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h

Piso térreo

Classificação indicativa: Livre

 

 

Itaú Cultural

Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô

Fones: 11. 2168-1777

Acesso para pessoas com deficiência

Ar condicionado

Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

     

Assessoria de Imprensa: Conteúdo Comunicação

Fone:  +55 11 5056-9800

 

No Itaú Cultural:

Fone: 11.2168-1950

Carina Bordalo (programa Rumos)

Fone: 11.2168-1906

Serviço

 

Ocupação Ilê Ayê

Abertura: 3 de outubro (quarta-feira), às 20h

Encerramento: 6 de janeiro de 2019

Terças-feiras a sextas-feiras, das 9h às 20h
(permanência até as 20h30)

Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h

Piso térreo | Classificação indicativa: Livre

 

Itaú Cultural

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Fones: 11. 2168-1777

Acesso para pessoas com deficiência | Ar condicionado

Estacionamento: Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

     

 

Assessoria de Imprensa: Conteúdo Comunicação

 

No Itaú Cultural:

Fone: 11.2168-1906

 

 

2018 - DESENVOLVIDO PELA CONTEÚDO COMUNICAÇÃO

 

A força da raça negra
em busca de seus direitos

Como um bloco de Carnaval usou
a cultura para reforçar ações afirmativas em favor  do povo negro e se tornou uma das entidades precursoras do movimento negro brasileiro.

 

Nos anos 1970, os blocos de mortalha se popularizavam no Carnaval de Salvador, exigindo dos candidatos a integrar o grupo que preenchessem uma ficha com endereço e foto. Moradores das periferias e negros eram recusados.

 

Até que, em 1º de novembro de 1974, foi fundado no bairro da Liberdade o Ilê Aiyê, composto exclusivamente de negros. Passaram três meses se preparando para o primeiro desfile, cujo tema era simples: responder à proibição velada de os negros desfilarem no circuito do Carnaval da cidade. Proibição não oficial, nunca escrita em decreto. É assim até hoje, a restrição não se estabelece em regras públicas, o preconceito age em silêncio.

 

Os dois amigos carnavalescos que já agitavam um grande grupo de pessoas em festas e viagens, Vovô (Antonio Carlos dos Santos) e Apolônio de Jesus, chamaram mais gente para o grupo e criaram um estatuto. Dete Lima pensou a primeira fantasia. Compraram tecidos no comércio da Liberdade, se vestiram de branco e se enfeitaram, usando esses panos em torsos, faixas e adereços. Trançaram os cabelos, invocaram as raízes, as Áfricas em memórias e referências.

 

À frente do grupo foi uma das maiores sacerdotisas da história das diásporas africanas, Mãe Hilda. Era tempo de repressão militar e ela decidiu ser abre-alas do bloco porque, se a polícia reprimisse o cortejo – atitude que era recorrente com a comunidade negra –, ela estaria ali para defender seus filhos e os filhos dos vizinhos e conhecidos que confiaram os filhos a seu filho Antonio Carlos dos Santos Vovô.  Havia uma música tema, “Que Bloco É Esse”, composição de Paulinho Camafeu hoje gravada e regravada por uma dezena de artistas, que vão de Gilberto Gil a O Rappa, e que muita gente sabe cantar de cor.

 

O desfile transcorreu sem incidentes. Quem viu sabe o que foi. Um grupo de negros fazendo política com cultura. Levavam cartazes que denunciavam o racismo – para quem não entendesse a evocação da canção. A reação da mídia de Salvador foi qualificar a problemática racial como importação de um costume dos EUA, pois no Brasil não havia racismo. O preconceito age em silêncio e não permite ser revelado.

 

A África em iorubá

Ilê Aiyê foi o nome escolhido por Mãe Hilda para o bloco que nasceu de seu terreiro, o Ilê Axé Jitolu. Vovô, inspirado nos movimentos afro-americanos, queria Poder Negro. Mas ficou a vontade da matriarca, ficou a África no nome em iorubá, idioma nigero-congolês usado nos ritos religiosos afro-brasileiros no qual ilê significa “casa” e aiyê “terra” – o mundo terreno, em contraposição a orum, onde vivem os orixás. Na tradução de Mãe Hilda, a casa de todos. Na história do bloco, dos versos da música do primeiro Carnaval, o mundo negro que o Curuzu veio mostrar.

 

Os anos seguintes são de crescimento do Ilê, de sua lenda. Em 1976, surge o primeiro tema relacionado à África, os guerreiros Watusi, e o primeiro tecido para fantasia é artesanalmente pintado. Dois anos depois, a primeira rainha, Mirinha, é eleita Deusa do Ébano; surge o símbolo do perfil azeviche, são definidas quatro cores para o bloco e é produzido o primeiro tecido sob medida.

A identidade visual é obra do artista visual Jota Cunha: uma máscara africana com quatro búzios abertos formando uma cruz na testa. O autor a chamou de perfil azeviche. As máscaras são objetos ritualísticos e de grande importância na cultura dos países africanos, talvez uma das mais conhecidas expressões visuais de seus povos, e têm por função ser uma representação da coletividade. Azeviche é um mineral negro associado ao barro preto das terras da Liberdade e à pele negra.

 

As cores do bloco são branco, preto, amarelo e vermelho e representam, respectivamente, a paz, a cor da pele, a riqueza cultural e a beleza, e o sangue derramado na luta pela libertação.

 

As sementes do projeto pedagógico do Ilê estavam lançadas, gerando pesquisas anuais sobre os temas para munir a equipe de produção do Carnaval – os compositores que vão concorrer com as músicas, o desenhista do tecido (que de 1980 a 2005 é Jota Cunha; daí em diante, Mundão), a diretora artística Dete Lima, as candidatas a rainha e quem mais fosse produzir para o bloco.

 

O projeto pedagógico

Em 1995, quando o Ilê completava 20 anos de ampla visibilidade à cultura negra por meio do Carnaval, a casa alargou seus braços para abrigar um projeto de formação, conhecimento, autoconhecimento e educação da cultura negra. Organizações de Resistência Negra foi o título que abriu a série Caderno de Educação, produzida pelo Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê. O conteúdo trata das mais importantes organizações negras brasileiras desde o século XVII até a fundação do Ilê, em 1974, costurando história, poesia, música, ilustração, dever de casa e um rico glossário.

 

O Caderno de Educação foi idealizado pelo poeta, professor e então diretor do bloco Jônatas Conceição (Salvador, 1952-2009), e pela pesquisadora, professora e diretora do bloco Maria de Lourdes Siqueira (Codó, 1937), a partir de outros cadernos que eram editados anualmente com os temas do Carnaval. A implantação marca uma nova era de produção intelectual e pedagógica no Curuzu e na Liberdade.

 

A cada ano, após a escolha do tema central da festa, passou a ser feito um extenso trabalho de pesquisa, envolvendo intelectuais, professores e educadores, para levantamento das informações. O resultado da pesquisa é compartilhado com os compositores, que transformam aquele caldo cultural e histórico em poesia, ritmo, música e axé.

 

Os Cadernos de Educação

Entre 1995 e 2018 foram produzidas 24 edições do Caderno de Educação. Em 2012, por exemplo, Negros do Sul – Lá Também Tem! foi o tema escolhido. O conteúdo abordou a presença negra no Sul do país, detalhando manifestações culturais, costumes e personalidades históricas, como João Cândido Felisberto, conhecido como Almirante Negro, cujo legado é a luta pela conquista de direitos iguais para a raça negra.

 

A mulher negra também tem grande destaque na produção e no conteúdo dos cadernos. Intitulado Candaces – as Rainhas do Império, o décimo sexto volume da série, editado em 2008, conta a história das mulheres de sangue real, corajosas, guerreiras que ocuparam posições proeminentes, status importantes, funções políticas, sociais e culturais, assumindo a totalidade do poder durante três gerações sucessivas no Reino Império de Cush e Méroe.

 

“Nosso propósito com este Caderno de Educação é mostrar a importância da mulher negra para a história da humanidade”, escreveu Antonio Carlos dos Santos Vovô no prefácio da edição. O documento é a interseção entre passado e presente, com narrativas das candaces brasileiras Dete Lima, Lélia Gonzalez, Ruth de Souza, Leci Brandão e do Grupo de Mulheres do Alto das Pombas, em Salvador. Os cadernos são instrumentos de poder.

 

Mãe Hilda: ação,

inspiração e homenagem

Muito da inspiração para criar a série Caderno de Educação veio da vivência das crianças na Escola Mãe Hilda, desde a sua fundação, em 1988, ainda dentro do terreiro Ilê Axé Jitolu, onde os alunos conviviam com os ensinamentos de história, mas ao mesmo tempo aprendiam os ritos

sagrados do candomblé.

 

Em homenagem aos 30 anos do Ilê Aiyê e aos dez anos de produção do caderno, a matriarca do Curuzu, guardiã da fé e da tradição africana, Mãe Hilda Jitolu, ilustrou a capa e o miolo do décimo segundo volume da série, em 2004.

 

“Mãe Hilda é filha dos grandes reinos, de todas as confluências, de todos os povos que vêm do Egito, do Sudão, da Etiópia, da Abissínia, da Eritréia, do Golfo do Benim, do Congo, de Angola, de Moçambique, Zimbabwe, Ghana e Mali” diz o caderno.

 

“Estrela guia / dona da sabedoria / da tradição / da religiosidade / solidifica, multiplica / dando origem à ancestralidade / és guardiã da beleza negra”, dizem os versos da composição “Guardiã da Beleza Negra”, de Jucka Maneiro, Roberto Cruz e Sandoval.

 

Meus filhos cresceram vendo que eu tenho fé e pratico a tradição do candomblé, declarou Mãe Hilda ao caderno feito em sua homenagem.

 

Para além do Curuzu

Os resultados foram os melhores. Os índices de aprovação escolar estavam acima dos 80% com a introdução de metodologias e materiais que dialogavam com as histórias e os corpos negros.

A publicação da série de cadernos do Ilê antecedeu em quase 20 anos a aprovação da Lei Federal nº 10.639/2003, que incluiu a obrigatoriedade dos estudos de história e cultura afro-brasileira no currículo oficial da rede pública de ensino. A lei já existia na Bahia desde 1987.

 

Coube ao próprio Ilê não só criar os cadernos, mas insistir pela inclusão do conteúdo nas escolas e capacitar os professores da Liberdade e dos bairros vizinhos. O objetivo era garantir a permanência da temática africana nos currículos das escolas públicas da região. Mais de 3 mil alunos foram capacitados, além de 60 professores de seis escolas – Colégio Duque de Caxias, Pirajá da Silva, Abrigo dos Filhos do Povo, Tereza Conceição Menezes, Classe IV e Carneiro Ribeiro, mais a Escola Mãe Hilda.

 

Em 1987, uma comissão formada pelo secretário de Educação, Edvaldo Boaventura, técnicos e professores implantou o primeiro curso de especialização em história da África, para professores da rede pública e membros de organizações e movimentos negros de Salvador.

 

Com a mudança do governo estadual em 1991, a disciplina foi tirada do currículo das escolas e o projeto perdeu apoios importantes, o que impossibilitou a impressão das últimas cinco edições do Caderno de Educação. Para 2019, o material já está quase pronto e festeja os 45 anos

do Ilê Aiyê. Axé!

 

 

[Este texto foi produzido pelo Núcleo de Comunicação do Itaú Cultural, exclusivamente para a publicação realizada pelo instituto para acompanhar a Ocupação Ilê Ayê]

 

 

 

 

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Serviço

 

Ocupação Ilê Ayê

Abertura: 3 de outubro (quarta-feira), às 20h

Encerramento: 6 de janeiro de 2019

Terças-feiras a sextas-feiras, das 9h às 20h
(permanência até as 20h30)

Sábados, domingos e feriados, das 11h às 20h

Piso térreo | Classificação indicativa: Livre

 

Itaú Cultural

Avenida Paulista, 149, Estação Brigadeiro do Metrô

Fones: 11. 2168-1777

Acesso para pessoas com deficiência | Ar condicionado

Estacionamento: Entrada pela
Rua Leôncio de Carvalho, 108

Se o visitante carimbar o tíquete
 na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

     

 

Assessoria de Imprensa:
Conteúdo Comunicação

 

No Itaú Cultural:

Fone: 11.2168-1906

 

 

2018 - DESENVOLVIDO PELA CONTEÚDO COMUNICAÇÃO