Notas de um repórter



Christopher “Moot” Pole, criador do berço da creepypasta. (foto: wikimedia)




















Tudo começa em 29 de setembro de 2003. Naquela segunda-feira, Mervyn Rothstein assina o obituário do cineasta Elia Kazan no New York Times e David Bowie, abraçado a uma guitarra branca, é capa da New Yorker. Na cidade-musa de Woody Allen e Guy Talese, o estudante nova-iorquino de 15 anos com cara de Mick Jagger chamado Christopher “Moot” Poole cria o 4Chan, um fórum virtual para troca de imagens. Nove anos e 951.625.954 postagens depois, o site de compartilhamento do nerd adolescente reúne um acervo de quase 70 GB dividido em 55 categorias visitado por 10 milhões de pessoas ao mês. Graças a sua criação, Moot lidera a lista das cem pessoas mais influentes do mundo da Time publicada em 27 de abril de 2009, com nada menos que 16.794.368 votos.

Na selva eletrônica repleta de mangá e pornografia em que se transforma o 4Chan, pessoas começam a trocar pequenas histórias de terror – ainda por volta de 2007. Aglutinando palavras do inglês creepyao italiano pasta, nasce a franksteiniana alcunha do fenômeno. Traduzindo ao pé da letra, Creepypasta significa algo como “macarrão assustador”. Diz outra lenda que a terminação “pasta” vem do termo copy and paste (copia e cola). Vai saber...

Fato é que a febre vem se espalhando por sites em todos os cantos do planeta. Como numa montanha-russa ou num thriller, o objetivo de uma boa creepypasta é sentir prazer em ter medo. Na era dos reality shows, o terror abandona o mundo da fantasia e descobre a vida real. Episódios históricos, séries de TV, jogos de video game: tudo pode ser ingrediente para boas horas de insônia. Para escrever, junte alguns quilos de realismo e muitas gotas de mistério na medida certa. Misture bem e acrescente uns vídeos horripilantes. Sem caldeirão de bruxa nem asa de morcego, está pronta mais uma história de terror! Famintos, os fãs se mostram loucos por devorar a novidade diariamente...

"Creepypastas não são contadas ao redor da fogueira, mas transmitidas pela internet, onde tem mais chances de atingir maior público", explica Drika Rili. Ela é vegetariana, tem um gato chamado Dudu e uma diferença fundamental em relação à maioria dos seres humanos: seu refrigerante preferido é Pepsi. Futura publicitária, vive em Taguatinga (DF), tem 19 anos e atende off-line pelo nome de Adriane Ribeiro Lima. Leitora voraz do aterrorizante gênero virtual, ela prefere as creepys mais antiguinhas, de quando a novidade ainda não era febre e tudo a impressionava muito mais – como, por exemplo, Candle Cove.

O texto conta a história de um programa de TV infantil transmitido em Ironton, Ohio, em 1971. Num fórum on-line, alguém lembra da atração e vários usuários passam a trocar recordações. Tudo vai bem até Shyshale033 contar os pesadelos que tinha com os personagens do show. É quando o usuário descobre que o sonho mau não era exclusividade sua, fazendo parte da memória de outros telespectadores. Surge então um vídeo no qual as imagens do seriado se sucedem ao som de gritos – como no pesadelo narrado (que seria, na verdade, um dos episódios da série). E a pergunta que fica é: teria Candle Cove realmente existido?


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Imagem do topo: Procura-se: retrato falado de Saulo Pereira Guimarães, por Emílio Damiani.