Notas de um repórter



Polybius – game desenvolvido pela CIA? (Foto: Wikipédia)

Ao fim de cada texto, vídeos confirmam as descrições do estudante, que pouco a pouco descobre as verdadeiras razões dos problemas percebidos na fita. Ela teria pertencido a um jovem que morrera afogado. Ao que tudo indica, ele quer se comunicar com Matt por meio do jogo. A assombração termina dominando o cotidiano do garoto, que fica isolado numa atmosfera de paranoia, até que finalmente ele consegue se libertar do fantasma virtual.

Acompanhada pelos leitores como um caso verídico e em tempo real, Majora's Mask é muito mais que uma simples história de terror. Poucas creepypastas representam tão bem a combinação entre mistério, cultura pop e realidade. O remix bem construído entre medo, games e vida real tem ares de epopeia contemporânea. Longa, assustadora e irresistível, a história mobiliza muita gente.

Francis da Silva Lopes tem uma camisa do System of a Down e ouve de Adele a Tulipa Ruiz. É ateia, anarquista e torcedora do Inter. Assistiu Juno, joga Angry Birds. Pássaros negros sobrevoam seu ombro direito e, no esquerdo, há uma gaiola aberta. Seus dentes da frente são ligeiramente separados. Morena e gaúcha. Faz curso técnico para ser tradutora e intérprete no Colégio 25 de Julho, em Porto Alegre. Aquele tipo de menina que ouve The Smiths enquanto estuda psicologia numa quarta-feira à noite. A música é I Started Something I Couldn't Finish e a página sobre Esquizofrenia no Wikipedia está aberta no Google Chrome. Ela fez parte de um grupo com cerca de 20 pessoas que se mantinha on-line em busca de dados sobre Majora's Mask.

Seu amigo Gabriel Azevedo dos Santos – que tem 18 anos, uma camisa de God of War II e é viciado em video game desde pequeno – demora semanas para ler a creepy. No fim, pergunta-se: Como ninguém ainda pensou em traduzir esta história fantástica? Decide arriscar-se a fazer sua primeira tradução. O estudante de produção multimídia da Universidade Metodista de São Paulo leva mais de dois meses para terminar a tarefa. Nesse período, sente vontade de fazer um blog e junta-se aos amigos Alexsandro e Kevin para criar o Creepypasta Brazil. Francis entra no time depois. Seu nick na net é Divina.


Tupinicreepia

No blog do quarteto há quem jure ter conversado com Ben, o espírito eletrônico que atormenta Matt – muito embora toda história já tenha sido desmentida por Alex Hall, seu criador. A página reúne outras creepys ligadas ao mundo dos games que surgiram no rastro de Majora's Mask – como, por exemplo, Polybius.

Conta-se que em 1981, fliperamas nos subúrbios de Portland, Oregon, tinham um visual gráfico revolucionário, muito colorido e de temática inovadora: em vez de o jogador ser uma nave que atirava em pedras, ele próprio devia atirar pedras nas naves. Entretanto, o sucesso durou pouco. Crianças sofriam convulsões ao jogar e donos de bares até hoje se lembram da visita de homens de preto que recolhiam dados das máquinas periodicamente. Diz-se que o jogo teria sido desenvolvido pela CIA com o objetivo de controlar mentes nos últimos dias da Guerra Fria.

Verdade ou não, o fato é que não faltam critérios de qualidade quando o assunto é creepypasta. Texto mal escrito ou repetitivo, o leitor reclama. “Tentamos reduzir ao máximo o número de clichês”, explica Gabriel, o tradutor. Drika, a dona do gato Dudu, acha que as melhores creepys são aquelas que dão dicas do que vai acontecer, mas têm um final surpreendente. Francis, a “Divina” vaticina: “O segredo da boa creepypasta é ser o mais original possível”. Ela fala com conhecimento de causa. No começo de 2012, escreve São Longuinho, São Longuinho..., conto que apela para o aspecto demoníaco por trás do santo das coisas perdidas.


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Imagem do topo: Divina Francis, vestida para assustar (Foto: Facebook/perfil pessoal)