Notas de um repórter



Danilo – funcionário padrão durante o dia, mas à noite... (Foto: Facebook/perfil pessoal)


Campanhas como US Creepypasta, do blog Estranho Universo, apoiam a produção nacional de obras do gênero. “Se a iniciativa for para frente, vai sair muito conteúdo de alto nível”, aposta Danilo Lemos, supervisor na empresa Herbalife desde junho de 2009, que vive em Ferraz de Vasconcelos (SP). Fã do general chinês Sun Tzu, do filósofo neoplatônico Plotino e do apresentador de TV Silvio Santos, ele define creepypasta como “uma maneira alternativa de perceber a realidade ao nosso redor” e visita sites estrangeiros como o Creepypasta Wiki em busca de conteúdo para alimentar sua página, Wiki Creepypasta Brazil. “Se você leu e foi difícil de pegar no sono, era uma ótima creepypasta”, resume.

Danilo enxerga os admiradores do gênero como pessoas que apreciam suspense, terror e uma pitada de “distorção de realidade”, que segundo sua explicação “é quando você, através de uma determinada creepypasta, vê algo, alguém ou algum lugar de um ponto de vista – geralmente não muito agradável – completamente diferente de tudo o que você conhece sobre aquilo”.

É interessante pensar nas inusitadas reflexões sobre o real que existem por trás das histórias assustadoras – como, por exemplo, Götterdämmerung.

Era 30 de abril de 1945 – 2.068º dia de conflito, 120º do ano, 9º de ataque soviético à Berlim e o pior de tudo: segunda-feira. Sim, a guerra estava no fim. Infantaria, divisões armadas e aéreas do Exército Vermelho lideradas pelo marechal Georgi Zhukov bombardearam a cidade por noites a fio, transformando casas, prédios e estradas num grande queijo suíço. Na véspera, o tenente-general Karl Weidling informara ao comando alemão que havia munição suficiente para apenas mais um dia de resistência – nada mais – e Adolf Hitler se casara com Eva Braun, sua amante há 16 anos, numa cerimônia breve e soturna.

Reza a lenda que naquele dia, no escuro subterrâneo do bunker, o Führer chorou. Não pela viuvez prematura em função do cianureto, mas pela morte da Alemanha. Trêmulo a ponto de deixar cair a pistola com a qual também se mataria, o chanceler avistou um vulto num canto. Terno preto, cabeça virada para o lado, rosto sem expressão. Seu nome, Der Großmann. Uma entidade maligna que teria orientado e acompanhado a ascensão e a queda do ditador. Era chegado o dia do acerto de contas. A eletrizante história tem todos os elementos para ser real. Entretanto, Götterdämmerung nada mais é do que uma creepypasta.

 “Já recebi vários e-mails de gente que adora meu blog, mas que não voltaria nele à noite”, revela Drika. “Apesar de adorar creepypastas, eu não acredito que elas possam ser reais”, acrescenta. Provocador, Gabriel deixa a pergunta no ar: “E quem garante que não seja real, né?” Danilo entende que cabe a cada um saber diferenciar e escolher no que vai acreditar ou não.


"Estou muito empolgado com os resultados da apuração! Até amanhã, mando o lide. “O recado acompanhou o material enviado pelo repórter aos editores. Em função de seu desaparecimento, o trabalho não foi publicado imediatamente. Existia o temor de que o texto contivesse mensagens subliminares e/ou dicas sobre seu paradeiro. Depois de prolongadas análises, nenhuma informação do tipo foi localizada. Inédita, a reportagem é aqui disponibilizada integralmente em homenagem ao jornalista desaparecido.



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Imagem do topo: All is vanity, do pintor americano Charles Allan Gilbert (Wikipedia)