Notas de um repórter
































A resposta não importa. A graça está em curtir o medo, vivenciar o clima de terror “baseado em fatos reais”. Quem quiser ver o vídeo e conhecer a história pode acessá-los no Medo B, site especializado em brinquedos medonhos, pratos macabros e criptzoologia (estudo de espécies lendárias), entre outros temas esquisitos. A página é comandada por João Marcos Pomo, ex-livreiro flamenguista quase trintão que gosta de hockey e tatuou o nome do blog no braço esquerdo. Fã de Candle Cove, seu site é referência do gênero no Brasil. “Sem ele, provavelmente creepypasta ainda seria algo discutido em fóruns no Orkut”, reconhece Drika.

A pepsicólatra também tem um blog. Criado em agosto de 2011, The Creepypasta tem uma página que reúne 145 fãs no Facebook. Não é a única. Ao todo, são mais de 300 comunidades em, pelo menos, cinco idiomas – português, espanhol, italiano, inglês e polonês. No Youtube, 25 mil vídeos estão ligados ao tema. No Google, encontra-se aproximadamente 1,4 milhão de ocorrências relacionadas. Produto exclusivo da internet, que mistura terror e cultura pop em contos de final chocante, creepypasta é a narrativa típica do século XXI.  Hoje, cerca de 300 mil pessoas vivem num admirável mundo creepy.


Admirável Mundo Creepy

“Legal”, diz MagnificB. “No começo você acha que vai ser algo fraco, mas ao chegar até o final você tem uma sensação muito estranha e tudo o que você leu começa a passar novamente na sua cabeça”.

PandoraNightray é taxativa: “trauma na certa”.

HiiMissAlice até acha legal, mas morre de medo. Xherux tem medo também e, por isso, não acha legal.

Para Kariuygh, “uma bosta completa”.

Há quem ache “desinteressante”, “um tédio”, “pseudoterror”. Perdida, Chiasaru resume: “?”

As opiniões são do Formspring, um site no qual usuários trocam perguntas e respostas sobre diversos temas. Há creepypasta em todos os cantos da rede e até nos lugares mais insuspeitos. F para Welles, conto de Antonio Xerxenesky publicado na revista Granta, narra a história da jovem que assassina o famoso cineasta – morto por um ataque cardíaco em 1985. Em Fortaleza, integrantes do coletivo Monstra incluem numa mostra obras que homenageiam Giovani Bragolin – pintor italiano morto em 1981, conhecido por levar tristeza e melancolia aos lares que abrigavam seus quadros pintados com crianças chorando. Meu colega, Antonio Laudenir, está fazendo uma reportagem sobre isso – faz tempo que não tenho notícias dele, aliás. Da última vez, soube que ele seguia – ou era seguido, não entendi – uma SUV preta.

Tudo isso cheira a creepypasta, assunto que está até nas páginas dos jornais. Em 14 de novembro de 2010, a descolada editoria de Fashion & Style do New York Times recomenda o hobby como a melhor distração para as horas chatas do trabalho. No Orkut, 2 mil fãs cultivam esse hábito bizarro em oito comunidades diferentes. I Love Creepypasta, criada em 2009, é a mais antiga delas.

Em outubro de 2010, os membros do grupo organizaram uma enquete para saber quais os contos favoritos. Suicide Mouse – história de uma animação macabra estrelada por um Mickey funesto – fica em terceiro lugar. Squidward's Suicide conquista o vice, reunindo medonhas confissões de um ex-estagiário da Nickelodeon sobre um aterrador episódio perdido de Bob Esponja. Entretanto, o primeiro lugar não fica com nenhum suicida. Majora's Mask vence com 43% dos votos.

Essa história se inicia em setembro daquele ano, quando Matt, um secundarista norte-americano recém-instalado no dormitório de seu colégio começa a relatar os estranhos defeitos apresentados por sua versão de The Legend of Zelda: Majora's Mask para Nintendo 64 num fórum do 4Chan – aquele, do Moot, o nerdzinho poderoso da Time.


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Imagem do topo: Princesa Creepy (Tumblr)