A Exposição
O percurso da Ocupação Antonio Nóbrega propõe ao visitante, a partir de peças e ADEREÇOS, criar livremente sua própria representação, podendo assim inventar MÚLTIPLAS NARRATIVAS inspiradas no circo, no carnaval e no cordel. Somente no fim do túnel, por meio de documentários dos espetáculos de Nóbrega, o público conhecerá qual é a construção simbólica do próprio artista.
“É como se você caminhasse por esse universo e fosse DESCOBRINDO a figura de Antonio Nóbrega, até que no final do percurso você chega a uma praça onde poderá assistir aos vídeos dos espetáculos Lunário Perpétuo, Nove de Frevereiro e Naturalmente”, conta Walter Carvalho, curador da mostra e diretor dos filmes.
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Walter Carvalho nasceu em João Pessoa (PB) em 1947 e mora no Rio de Janeiro. É fotógrafo e cineasta. Curador da Ocupação Antonio Nóbrega, é responsável pela direção de Brincante, longa-metragem sobre a trajetória de Nóbrega, que será lançado ainda neste ano.
No final de sua visita, o público chega a uma praça, em que poderá encontrar o próprio Antonio Nóbrega, seja em pessoa em conversas descontraídas e rodas de dança; seja em vídeos de seus espetáculos. Além disso, também ali está a carroça do Tonheta, personagem criado pelo artista. “É como se nessa praça você pudesse tomar aquela carroça e sair andando por aí afora encontrando a arte ou mostrando sua arte”, revela Walter Carvalho.
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Trecho do Espetáculo “Brincante” (1995)
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O fotógrafo e cineasta Walter Carvalho fala sobre os seus primeiros contatos, na infância, com a cultura popular e o início de sua relação com Antonio Nóbrega
por WALTER CARVALHO
Quando era pequeno, minha mãe me levava para ver os folguedos populares tão comuns na minha época. Assisti à Nau Catarineta e ao Bum- ba Meu Boi, entre tantos outros.
Um dia, ainda criança, andando nos canaviais, eu me deparei com o maracatu; com os caboclos de lança; com o esplendor de cores e vestimentas brilhosas por todo corpo; com o som ao vento dos chocalhos de ferro nas costas e nas mãos; com as lanças enfeitadas com fitas coloridas. O céu estava bem azulzinho e a luz reverberava em meus óculos. Tive a sensação de viver um delírio visual.
Anos depois, já morando no Rio de Janeiro, vi pela primeira vez Antonio Nóbrega representar. Foi um alumbramento. Nóbrega, da mesma origem que a minha, trazia para o espaço sagrado do palco tudo aquilo que fervilhava numa das gavetas da minha memória. Só que Nóbrega transcendia em tudo o que estava na minha imaginação de menino em um espetáculo universal.
Fiquei a imaginar como ele podia recriar todo aquele universo popular do Nordeste e de outras regiões do Brasil sem perder as características, elevando ainda o espetáculo para a dimensão da arte contemporânea.
Pensei cá comigo: “Um dia vou trabalhar com Antonio Nóbrega”. E o sonho se realizou. Hoje, depois de tan- tos projetos juntos, aprendi um pouco mais de mim, o que me faz lembrar dos versos de Murilo Mendes:
“[…] ainda não estamos habituados com o mundo, nascer é muito comprido”.
Antonio ajudou-me a olhar para mim mesmo, na tentativa de compreender a vida.
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Walter Carvalho conta um pouco sobre como foi o processo de filmagem dos espetáculos “Lunário Perpétuo”, “Nove de Frevereiro” e “Naturalmente”, de Antonio Nóbrega.