Curatorial

Refinado convite para mergulhar na beleza e na potência de uma artista imensa

Alessandra Leão é cantora, compositora, percussionista e produtora de música popular brasileira. Michelle de Assumpção é produtora de conteúdos digitais na Secretaria de Cultura de Pernambuco e biógrafa de Lia de Itamaracá. Ambas são pernambucanas e assinam a curadoria desta Ocupação com a equipe do Itaú Cultural. São delas, esses textos sobre a mostra
Para adentrar na ilha, é preciso atravessar as águas.
É preciso ouvir o vento, reverenciar o tempo.
Para conhecer Lia, é preciso ouvir o que o mar nos diz.
É preciso ouvir o que ela nos canta de lá.

Convidamos você a ocupar cada poro de seu corpo com a beleza e a potência dessa mulher e artista imensa que é Lia de Itamaracá. Desejamos que cada imagem, som, texto e ideia chegue a você como um sopro, como uma brisa que vem do mar. E que esse vento possa também assanhar seus cabelos e pensamentos. Esperamos que o balanço da ciranda lhe traga muitas perguntas e algumas respostas sobre a mulher, a música, a artista e a ilha que ela traz no nome.  

Mergulhar nas águas de Lia é conhecer um pouco mais sobre uma parte fundamental da história do Brasil. Lia é única e muitas. É um batalhão de inúmeras vozes e sons. Farol. Tradição viva e pulsante. Uma reinvenção constante.  

Lia é o tempo, é a natureza em movimento. Como quem navega, desejamos bons ventos e um mar abundante. Pedimos licença e saudamos as forças de Lia de Itamaracá.

Ilha de Itamaracá, Pernambuco, Brasil. Em tupi-guarani, Itamaracá é “pedra que canta”. Em Itamaracá, Lia é o canto. É o sal, o som e o sol da ilha. É terra firme em mar aberto. Quando Lia canta a ilha, círculos se formam e se expandem, mãos se unem e o movimento acontece. O mundo todo entende sua linguagem. A voz de Lia carrega um oceano inteiro. Uma travessia simbólica da África, que reverbera em nós, evocando memórias ancestrais de celebrações e um lamento quase silencioso.  

A trajetória de Lia emula as ondas do mar e os passos da ciranda. É sempre um vai e vem, um eterno retorno para a ilha onde nasceu. Está lá seu alimento. Assim ensinou a mãe, que retirava do mar os frutos para o sustento da prole de sete filhos, criados sem pai. A primeira ciranda que Lia ouviu chegou a Itamaracá pelas ondas do rádio. Ela, que se alimentou também do sonho de ser uma grande artista, nunca mais sossegou seus ouvidos, sua voz e todo o seu corpo. Doou-se por inteiro ao ofício, transformando dor em canto, marasmo em dança e ausência em belezas.  

Estava na beira da praia  
Ouvindo as pancadas das ondas do mar
essa ciranda quem me deu foi Lia
que mora na ilha de Itamaracá

Os primeiros sons de Lia são os da ilha que habita: das ondas que quebram na areia às palhas do coqueiro ao vento. Há ainda as memórias sonoras das festas de rua de sua infância, com pastoris, fandangos, forrós e boleros. A ciranda surge depois da cisma em cantar, embalada pelo sonho de ser famosa. Mergulha, então, nas águas dos primeiros mestres, como Baracho e Dona Duda.  

Quem primeiro colocou a ciranda “no mercado” foi o Mestre Baracho. Quem leva a ciranda para o mundo é Lia. Lia processa os saberes antigos e eleva a ciranda à categoria de espetáculo. Não existia tradição de ciranda em Itamaracá antes de Lia, assim como não haveria ciranda em tantas partes do planeta não fosse pela voz e pelo corpo da artista. Sua arte se faz de palco, luzes e trajes majestosos. Rompe os limites que encerram as manifestações da cultura popular no lugar da tradição – ainda que permaneça, essencialmente, uma cirandeira. Comanda lançamentos midiáticos e circula por teatros do Brasil e mundo afora. Seu som não é mais apenas sua voz que canta. É seu corpo negro e altivo inteiro, apropriado de sua história, que repassa como uma espécie de griô que vem se tornando.  

Minha ciranda não é minha só  
ela é de todos nós  
ela é de todos nós  
a melodia principal quem tira  
é a primeira voz  

No centro da roda, canta quem mestra. Em cima do palco, também canta quem mestra. Lia é a mestra. Lia é mulher banhada de sol. É sob o sol, que desde sempre bronzeou sua pele preta, que se põe colorida para o deleite de lentes magnetizadas por seu canto e sua cor. Como uma sereia, atrai todos à beira do mar. Seja para uma ciranda, seja para mais uma sessão de fotos ou para a gravação de um filme. Lia tornou-se sua própria bandeira e ilumina tudo por onde passa. Ao redor de si, cria uma órbita em que trafegam outros corpos cantantes e dançantes, novas vozes potentes, etnias militantes, mulheres da terra, plateias encantadas, palcos iluminados, estradas a percorrer, deusas do céu e do mar, amigos e amores.  

O cetro de Lia é pesado. Carrega o abandono das mulheres negras; a coragem de se firmar num universo dominado pelos mestres homens; e a força de encontrar a própria voz, a capacidade de se reinventar na vida e na música. Aos 78 anos de idade, a filha do sol segue soberana, guardiã e ao mesmo tempo desbravadora de uma tradição que nela sempre se renova.  

Eu sou Lia da beira do mar  
morena queimada do sal e do sol  
da Ilha de Itamaracá  
Quem conhece a Ilha de Itamaracá  
Nas noites de Lua, prateando o mar?  
Eu me chamo Lia e vivo por lá  
Cirandando a vida na beira do mar

Michelle de Assumpção: jornalista especializada em Gestão Cultural. Durante 15 anos trabalhou no Jornal do Comércio e Diário de Pernambuco, como jornalista especializada em música e na elaboração de conteúdo a partir da produção artística pernambucana e brasileira. Fez produção de eventos e projetos nesta área de expressão. Desde 2011 atua na gestão pública de Cultura, dentro da Secretaria de Cultura de Pernambuco e Fundarpe. Nessas instituições, foi gestora de Comunicação e contribuiu para planejar, organizar e executar planos de Comunicação para projetos como Festival de Inverno de Garanhuns, Carnaval de Pernambuco, São João de Pernambuco, além de editais como os de Funcultura, Patrimônio Vivo, entre diversos outros. Atualmente, é coordenadora de Jornalismo do Núcleo Digital da Secult-PE. É autora de Lia de Itamaracá: nas rodas da cultura popular, biografia da cantora lançada pela Cepe Editora em 2020.

Alessandra Leão: começou na música como integrante/fundadora da banda Comadre Fulorzinha, no final da década de 1990, durante a efervescência do movimento Mangue Beat. Ao lado de musicistas como Karina Buhr e Isaar, parceiras de banda, contribuiu para abrir trilhas para gerações de mulheres, sobretudo na percussão e em papéis de liderança artística. Em 2006, iniciou sua carreira solo com CD Brinquedo de Tambor. Tem oito discos lançados e indicações para o Grammy Latino, o Prêmio da Música Brasileira e o WME. Recebeu o Prêmio Grão de Música, pelo conjunto da sua obra. Em 25 anos de carreira, atuou e compôs com parceiros como Chico César, Kiko Dinucci, Juçara Marçal, Juliano Holanda, Caçapa, Lívia Mattos, Siba, Arthur de Faria e Dani Nega. Já se apresentou no Brasil e em países da Europa, América Latina e América do Norte. Ministra aulas de voz e de ilu (tambor usado nos terreiros de Xangô e Jurema em Pernambuco) e é curimbeira da Casa de Umbanda Pai João da Ronda - Terreiro Recanto Quiguiriçá.

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De 20 de abril a 11 de julho de 2022
Terças-feiras a sábado das 11h às 20h
Domingos e feriados das 11h às 19h


Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – Piso térreo
Próximo à estação de metrô Brigadeiro.

Ingressos: gratuitos

Informações pelo telefone:
(11) 2168-1777. Atualmente, esse número funciona de segunda-feira a domingo, das 10h às 18h.

E-mail: atendimento@itaucultural.org.br

Espetáculos

Com apresentação do MC Roger de Renor

Ciranda de Ritmos
De 21 a 24 de abril (sexta-feira e sábado às 20h; quinta-feira e domingo às 19h).

Na sexta-feira, dia 22, a apresentação será transmitida simultaneamente na página do Itaú Cultural no YouTube.

Reservas dos ingressos pela plataforma INTI, a partir de 14 de abril – acesso pelo site do Itaú Cultural.

Ciranda Sem Fim
De 28 de abril a 1 de maio (quinta-feira a sábado às 20h; domingo às 19h).

Na sexta-feira, dia 29, a apresentação será transmitida simultaneamente na página do Itaú Cultural no YouTube.

Reservas dos ingressos pela plataforma INTI, a partir de 21 de abril – acesso pelo site do Itaú Cultural.

Sala Itaú Cultural
Piso: Térreo
Classificação indicativa: livre
Duração: 60 minutos
Capacidade: 224 lugares
Entrada: gratuita

Cancelamentos

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Protocolos

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