Gestora

Aracy Amaral foi diretora de dois museus paulistas: a Pinacoteca do Estado de São Paulo, de 1976 a 1979, e o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), de 1982 a 1985. Nas duas instituições, preocupou-se com a catalogação e a conservação dos respectivos acervos, deu a eles maior visibilidade por meio de exposições e programas educativos, ao mesmo tempo que não mediu esforços para expandir e atualizar esses acervos, considerados a alma dos museus. Em ambas as instituições, implantou atividades educativas pioneiras, criou estratégias inovadoras para ampliar o público visitante e concentrou o programa de exposições em três grandes eixos: revisão do modernismo no Brasil, arte contemporânea e arte da América Latina, temas sempre presentes em suas investigações.

“Ela é uma grande líder. O líder é aquela pessoa que delega, mas ao mesmo tempo acompanha e ela sabia de tudo que acontecia no museu – desde a biblioteca, se tinha chegado um livro novo, à parte de produção e do acervo. Ela participava de tudo.”

Rejane Cintrão

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Seção de vídeo

GESTÃO CULTURAL

Ana Maria Belluzzo, professora e curadora, Rejane Cintrão, curadora e produtora, e Paulo Portella, artista visual e educador, falam sobre a experiência que tiveram em contato com Aracy como gestora.

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MAC 1986

Em 1986, Aracy Amaral deixou a direção do MAC/USP e recebeu como homenagem dos funcionários do museu um pequeno caderno que registrava com humor algumas cenas da rotina com a diretora.

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Público e Museu. Algumas interrogações que aguardam respostas

Aracy Amaral

Será que o público não acorre ao museu por falta de tradição cultural ou porque a programação dos museus de arte é maçante e não estimulante para o grande público? Será que um setor de visitas guiadas auxiliaria o público a encontrar maior atrativo num museu de arte? Será a ausência de iniciação o único fator que provoca o desinteresse pela criação plástica por parte de grande número de pessoas? Seria importante desde a escola maternal criar o hábito e despertar a possibilidade de “aprender a ver” algo nas peças de um museu de arte? Ou será que as obras geralmente expostas num museu de arte, contrariamente ao que se deseja, só interessam aos que fazem arte? Seria imprescindível que todos se iniciassem no fazer artístico por obrigatoriedade em todas as escolas, a fim de obter, também para sua fruição, um público regular? Como desenvolver a criatividade artística nas escolas fora de grandes centros urbanos, ou mesmo neles, tendo em vista uma população com dificuldades de alimentação e saúde? Por que mesmo a classe média e média alta no Brasil não se interessam por museus de arte nas grandes cidades de nosso país e quando viajam ao Exterior em esmagadora maioria visitam grandes museus? Será que somente se terá públicos grandes quando se estiver apto a organizar “exposições como espetáculos”, a exemplo daquelas dos Estados Unidos (como “Tutancâmon”, “Picasso”, etc.)? Por que os meios de comunicação de massa dedicam tão pouco espaço aos museus e a suas programações? Como interessar os chefes de redação, os jornalistas dos setores de arte na programação dos museus? Como esclarecê-los de que uma exposição aberta por um mês resulta em esforço de meses de preparo e mereceria difusão maior, tendo em vista o empenho cultural, que merece ser analisado e apreciado? Outro tipo de programação – menos artística e mais cultural – aumentaria o público dos museus? Será a entrada dos museus inibidora para grande parte do público? Por que os professores de escolas não levam seus alunos aos museus de arte, mesmo quando visitas guiadas são oferecidas? Como levar escolares aos museus de arte, se os próprios professores não, os freqüentam e não são motivados a neles se reciclarem culturalmente? Significaria esse problema que somente a longo termo, caso programação nesse sentido seja implantada, será possível um início da valorização, pelos docentes de 1º e 2º graus, da contribuição de um museu de arte? Como fazer com que a população sinta o museu de arte próximo de sua realidade? O museu de arte só consegue público mediante um projeto turístico implantado? Por que só há êxito de público quando os meios mais poderosos de comunicação assinalam sua programação como válida e atraente? Então, o museu depende forçosamente dos meios de comunicação de massa quando não é um cartão de visitas de turismo ou quando não se é artista? Por que não tornar mais eficaz nos meios de comunicação de massa a veiculação da programação museística? Como responsabilizar os museus da importância do cuidado com sua programação? Como fazer voltar um visitante ao museu? Por que a classe média brasileira após o período universitário se desinteressa em sua maioria pela cultura? Por que a crise do futebol, do público de cinema, ocorre agora somente, e os museus estão vazios na maior parte da América Latina? Como redinamizar os museus para retirá-los de seu limbo de depósitos de obras? Cursos, cinema e música sempre atuarão como intermediários entre o museu de arte e o público? Seria o modismo ou o esnobismo que, nos Estados Unidos ou no Japão, impele o público aos museus? Por que mesmo em Cuba, onde os museus são modelares, o público não é afluente como se esperava? É o museu elitista por natureza de sua matéria-prima – artes plásticas? Como solucionar a organização de seu espaço para que esse distanciamento do grande público se altere? Por que a legislação aduaneira não muda desde os anos 30 para que, finalmente, o Brasil possa apresentar com regularidade exposições do Exterior nos museus, atraindo um maior público? Por que as autoridades pouco se interessam pelos museus de arte, mesmo sabendo do valor das obras que abrigam? Por que os Correios não concedem isenção de taxas postais aos museus, para difusão de suas atividades? Por que, no Brasil, o museu de arte não tem público compatível com o investimento que essa entidade cultural demanda para sua integração viva com a comunidade?

Enquanto não der “retorno” à empresa privada, o que só ocorrerá quando sua frequência se desenvolver de fato, o museu de arte permanecerá “luxuoso” em suas necessidades.

Porque, segundo se pode perceber, há três móveis que levam um visitante a um museu de arte. A familiaridade com o fazer artístico. Ou seja, quando se faz arte como amador ou admira os diversos processos ou tendências da arte. A tradição cultural, que significa o visitante pertencer a um segmento culto ou “interessado” em artes da população, um intelectual ou ainda um curioso pelas obras que um museu contém. A divulgação. Para a grande maioria da população um museu de arte só existe quando o que nele se expõe é amplamente difundido pelos meios de comunicação de massa (imprensa escrita, rádio, televisão), impelindo-o, como leigo, a transpor suas portas, rompendo um bloqueio de inibição que, em geral, impede o acesso do grande público ao museu. Que é público, porque objetiva essa mesma grande maioria.

Assim, ou se é artista, ou se tem uma formação artística adequada, ou se é culto, ou cabe aos meios de comunicação de massa a veiculação da informação que atrairá o público aos museus.

E no dia em que o grande público afluir aos museus de arte, estas entidades terão resolvidos seus problemas de pessoal qualificado, espaço, verbas, aquisições, conservação e segurança.