Filha de Dona Zica, Dona Regina fala sobre o dia a dia e a obra de Cartola, seu grande ídolo e pai de criação.
Quando Cartola nasceu, em 1908, o Rio de Janeiro passava por profundas transformações. Implantado cinco anos antes – tendo como modelo a reforma urbana realizada em Paris, na França, entre 1853 e 1870 –, um projeto de modernização redesenhava e redefinia a então capital do Brasil. Enquanto praças e avenidas eram criadas e equipamentos culturais eram erguidos, uma “faxina social” resultou na demolição de vários cortiços, expulsando da região seus habitantes – negros, em sua maioria –, forçados a migrar para as bordas e os morros da cidade. E assim nasciam as favelas cariocas.
Antes de fazer história em uma delas – o Morro da Mangueira –, Cartola passou a infância no bairro do Catete e em Laranjeiras, numa vila de operários da Fábrica de Tecidos Aliança, onde seu pai trabalhava. Com a família, o poeta em formação participava dos cortejos carnavalescos do Rancho dos Arrepiados. Formada por outros funcionários da fábrica, a associação era representada pelas cores verde e rosa – as mesmas que, anos depois, comporiam a bandeira da escola de samba Estação Primeira de Mangueira, fundada por Cartola.
Filha de Dona Zica, Dona Regina fala sobre o dia a dia e a obra de Cartola, seu grande ídolo e pai de criação.
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Filha de Dona Zica, Dona Regina fala sobre o dia a dia e a obra de Cartola, seu grande ídolo e pai de criação.
Cartola e sua neta Nilcemar | foto: Acervo Museu do Samba. Rio de Janeiro, Brasil
Ainda muito jovem, Nilcemar passou a morar com os avós, Cartola e Dona Zica. Com o passar do tempo, começou a gravar as composições e datilografar os manuscritos do avô, tornando-se figura importante para a carreira de Cartola. Futuramente o empenho daria origem ao Centro Cultural Cartola, que se transformou no atual Museu do Samba, do qual Nilcemar é diretora-executiva.
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Neta de Cartola e Dona Zica e fundadora do Museu do Samba, no Rio de Janeiro (RJ), Nilcemar Nogueira recorda os anos em que conviveu com o avô e comenta os hábitos pessoais e o processo de criação do poeta da Mangueira.
Em agosto de 1940, o maestro e compositor Heitor Villa-Lobos convidou Cartola para se juntar a Carlos Cachaça, Donga, Pixinguinha e João da Baiana, entre outros bambas, numa roda de samba armada num local inusitado – um navio atracado no píer da Praça Mauá, no Rio de Janeiro.
A bordo do navio – o SS Uruguay – estava o maestro britânico Leopold Stokowski, ex-diretor da Orquestra Sinfônica da Filadélfia. Além de realizar dois concertos no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, ele tinha a missão de reunir músicos locais e registrar suas composições.
Fã de música brasileira, o britânico pediu ajuda a Villa-Lobos para concretizar o projeto de agrupar os principais representantes do samba para uma sessão de gravações que, posteriormente, dariam origem à coletânea Native Brazilian Music, lançada em 1942, nos Estados Unidos, pela Columbia Records. Uma das 40 canções gravadas foi “Quem Me Vê Sorrindo”, parceria de Cartola e Carlos Cachaça que contava com a participação das pastoras da Mangueira.
A edição aqui apresentada não é oficial e data de 1987. Com áudios extraídos da versão de 1942, ela foi lançada em razão do centenário de Villa-Lobos.
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