Imortal e atemporal

A obra de um poeta como Cartola é livre. Sem se limitar a um período ou a um gênero, ela desconhece fronteiras.

Abaixo, diferentes artistas contemporâneos celebram o legado do mestre.

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"Disfarça e Chora", por Juçara Marçal

Letra de “Disfarça e Chora” (Cartola/Dalmo Castello) por Juçara Marçal

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"O Mundo É um Moinho", por Ellen Oléria

Letra de “O Mundo É um Moinho” (Cartola) por Ellen Oléria

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"Alvorada", por Rico Dalasam

Letra de “Alvorada” (Cartola/Carlos Cachaça/Hermínio Bello de Carvalho) por Rico Dalasam

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"Tempos Idos", por Raquel Virgínia

Letra de “Tempos Idos” (Cartola/Carlos Cachaça) por Raquel Virgínia

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"Preciso me Encontrar"

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"Preciso me Encontrar" por Julia Rodrigues

“As imagens foram feitas na capital paulista e retratam um personagem que vaga pela cidade em busca de si mesmo. Para ilustrar a ausência do ‘eu’, o corpo do personagem foi apagado na pós-produção.

Minha interpretação da música é de uma pessoa que anda pelo mundo para viver outras experiências, ver coisas novas e assim criar um novo eu, se encontrar. De alguma maneira, a pessoa se perdeu de si mesma em um momento da vida e esse corpo sem o ‘eu’ vaga pelo mundo, um invólucro vazio.

O ensaio é sobre nossa constante procura pela beleza, por experiências transformadoras, e sobre a necessidade dessas vivências para construir ou reconstruir nosso ego. Ao sair por aí a procurar, se por acaso dermos a sorte de nos achar, a vida dificilmente poderá voltar a ser a mesma.” (Julia Rodrigues)

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"Preciso me Encontrar" por Ilana Lichtenstein

“As imagens foram feitas em São Paulo (2008), em Praga (2009), na Palestina (2010), em Roma e em Bagnoregio (2016). Foram registradas de um trem ou da janela de um carro em movimento, e têm em comum a busca ou emergência da luz.” (Ilana Lichtenstein)

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"Preciso me Encontrar" por Cartiê Bressão

“Essa música sempre me transmitiu um momento de muita perturbação do eu lírico, que está no limite e precisa de seu espaço. Por isso o personagem na sequência de fotos segue impávido em direção ao mar, determinado como um suicida, até desaparecer nas ondas.” (Cartiê Bressão)

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"Autonomia"

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"Autonomia" por Henrique Rodrigues

Sorte na Vida (conto baseado na canção “Autonomia”, de Cartola)

E pobre só se fode.

É o que eu penso chegando ao aeroporto, perto de despachar as duas malas – uma emprestada. Quando o pessoal da empresa me mandou a passagem com a ida marcada para o dia 11 de setembro, já vi que tinha coisa errada.

Mas como recusar? Tive sorte na vida, não é o que todo mundo diz? Tia Zilma, gordona e amarga, há anos repete isso com o mesmo tom de deboche. E já vi como foi aumentando o tom cada vez que minha mãe chegava lá dizendo viu ele passou pra faculdade viu ele conseguiu emprego de carteira viu ele vai ser doutor viu ele vai pra Europa com tudo pago viu mana?

A tia Zilma sempre protegeu demais o Teco e o Binho. O Alberto levou um irônico teco na cabeça aos 21 porque se meteu com coisa errada de tráfico, e o Fábio, caçula, disse chorando pra minha mãe durante a visita ao presídio: não tive a sorte do Gui, tia.

Mas como, se na infância lá no morro eles eram tão safos e eu era o otário, educadinho demais, lerdo demais, viadinho demais? Nem soltar pipa eu sabia direito.

Daí que, troncho e de voz fina, com o tempo fui me especializando nas coisas que podiam ser feitas quando se está parado. Mergulhei em computadores, as coisas foram acontecendo e, agora, mesmo com uma ou outra “trolada” na empresa – Teco e Binho estão em todos os lugares me sacaneando nas sombras –, fiquei algemado ao resultado, ao desempenho, a essa bobajada corporativa toda.

Para me afastar do que a vida me reservava lá no morro, virei o chamado profissional top, mas aqui do alto me pergunto: cadê o cheiro da terra? Depois de tanto tempo a resposta veio só semana passada, quando você surgiu lá na sala, com esses braços longos, brancos, e óculos de armação preta, timidamente perguntando se eu era o “famoso” programador.

E daí um café e um jantar e toda a felicidade que eu sei que não vai esperar por mim durante esse ano fora. Nossa primavera, meu amor, ficou retida num gráfico qualquer da empresa.

Porque tive sorte na vida. E pobre só se fode.

Henrique Rodrigues é carioca da safra de 1975 e doutor em letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). É autor de 11 livros, entre os quais o romance O Próximo da Fila, inspirado no período em que foi atendente do McDonald’s.