Formação

Primeiros passos, primeiros traços

Em 1976, aos 19 anos, Glauco deixou sua Jandaia do Sul natal, no Paraná, e se mudou com a família para Ribeirão Preto, em São Paulo. A ideia era prestar o vestibular para o curso de engenharia, mas não foi bem isso o que aconteceu: à época diretor do hoje extinto Diário da Manhã, o jornalista José Hamilton Ribeiro topou com alguns dos desenhos que o rapaz vinha fazendo e decidiu contratá-lo para assinar tiras diárias para o jornal. Se isso já foi o bastante para que Glauco desencanasse da engenharia, os prêmios que ganhou – em dois anos consecutivos, 1977 e 1978 – no Salão Internacional de Humor de Piracicaba fez com que ele mergulhasse de vez no universo do cartum.

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Maria Aparecida Vilas Boas, a dona Cidu, entre os filhos (em sentido horário, partindo do canto inferior esquerdo) Odilon, Neto, Orlando, César (Pelicano) e Glauco
Acervo de família

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Seção de vídeo

Humor de berço

O também cartunista Pelicano fala sobre os primeiros passos de seu irmão caçula, Glauco, nos universos do desenho e do humor

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Depoimento de José Hamilton Ribeiro, jornalista que ofereceu a Glauco seu primeiro emprego como cartunista – no Diário da Manhã, de Ribeirão Preto:

“Diante de mim estava um jovem inquieto, de aparência rebelde – pelas roupas, pelo cabelo, pela barba… –, armado com uma pasta repleta de quadrinhos e desenhos. Eu já o vira por ali, circulando com uma tribo ligada em música e outras formas de afirmação artística e pessoal. Nós só havíamos trocado olhares e palavras até então, mas agora era diferente. – Eu queria fazer uma tira com história em quadrinhos, com isso me sinto à vontade. Fazer charge política, num desenho só, acho que não… Acho que não!

Tiras de quadrinhos, o jornal já tinha boas e baratas. Por um mecanismo de cobrança de direitos, uma tirinha já publicada em jornais do mundo inteiro sai baratinho. E a qualidade é provada.

– Quem faz o mais faz o menos, Glauco! É só você comprimir o conteúdo de três quadrinhos num só, e aí está a charge do dia. Talvez seja só uma questão de treino, de exercício.

Ele disse que eu o estava desafiando, e que de desafios ele gostava.

– Está bom, vou fazer a charge para a página de política. Começo quando?

– Você pode começar hoje. Nós temos todo o noticiário político nacional, você dá uma olhada.

– Mas começar hoje?

– Sim, agora. Você tem até as 22h para entregar o desenho, é bom ir pegando o ritmo de jornal.

– Tem alguma censura? Preciso da aprovação de alguém?

– Eu vejo o desenho antes, não quero ter surpresa no jornal de amanhã. Censura não tem, só um pouco de autocensura.

– Autocensura? Quanto de autocensura? Não gosto disso, acho que não vai dar…

– Autocensura básica, não podemos abusar, perder o equilíbrio. Coisa básica, essa autocensura que o leva, por exemplo, a vir à redação vestido.

– É, é… Não sei. Estou em dúvida… Sabe de uma coisa? Eu topo!

No dia seguinte, o Diário da Manhã de Ribeirão Preto publicava, na página nobre, o primeiro desenho profissional de Glauco a aparecer na imprensa: um traço rude, meio tosco, mas cheio de força dramática e artística – que o Brasil todo logo conheceria.”

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Uma das tiras publicadas por Glauco no Diário da Manhã, de Ribeirão Preto

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Trabalho de Glauco premiado na edição de 1977 do Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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Trabalho de Glauco premiado na edição de 1978 do Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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O salto

O cartunista Pelicano relembra a participação de Glauco, seu irmão, nas edições de 1977 e 1978 do Salão Internacional de Humor de Piracicaba

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Matéria publicada no Diário da Manhã, de Ribeirão Preto