Luís

Luís e Dona Lina

Luís, em 1978, com a mãe, Dona Lina

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Luís nasceu no trópico das cabras, no Hemisfério Sul

Luís nasceu no trópico das cabras, no Hemisfério Sul. No dia do ano-novo, do Natal, abaixo do Equador, ele e João − meu outro irmão, poeta da arquitetura − nasceram no mesmo dia 24, quando o Sol começava a distanciar-se de nós, corpos do sul do globo. Quando Luís nasceu, em 1950, fazia frio. Era Natal de São João quando foi morto, no dia 23 de dezembro, às 14h30, e fazia muito calor. O corpo foi descoberto por um policial que arrombou a porta do apartamento, quando era Natal do império do Hemisfério Norte e, como sempre, aqui no sul também. Luís bateu nos nossos dois Natais com a vida e com a morte. E a Ethernidade do corpo de sua poesia incorporada em nossos corpos de bodes-trágicos-cantores que vai cantá-lo eternamente. À maneira de Nara Leão, a cantora que mais Luís amava. No tom da música predileta dele, Speak Low. A Luiz − como dizem os cariocas seu nome − retorna agora forte, na cena trágica do Natal de 1987, ilumina o inferno. Eu, minha mãe, meus irmãos, minhas irmãs, sobrinho(a)s, amigos, primos, muitíssimas pessoas que adoravam Luís, perguntavam: “Por quê? E por que mais de 100 facadas?”.

Zé Celso

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Destino

O destino não deu tempo para que Luís dirigisse Fernandinha Torres cantando o Bode Lulu no teatro.

Talvez, se a peça chegasse a ser montada a tempo, não acontecesse o sacrifício desse grande bode-artista-cantor. Mas os assassinos conseguiram matar também pela falta de confiança que a maioria dos artistas tem no poder do teatro. A montagem de Lulu valeria pela paz mais do que

100 passeatas de branco com velas brancas.

Zé Celso

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Luís Antônio Martinez Corrêa

Luís Antônio Martinez Corrêa [Araraquara SP 1950 − Rio de Janeiro RJ 1987], diretor e encenador, aliava a perspectiva épica ao teatro de variedades, em que a música é um dos instrumentos fundamentais da linguagem cênica. Ao morrer assassinado em dezembro de 1987, encontrava-se em plena ascensão como diretor de teatro musicado, que o tornava um diretor com uma marca registrada muito própria

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Sétimo dia

Eu queria desistir de fazer teatro, tão magoado fiquei. Mas aí houve uma cerimônia ecumênica no Oficina, veio gente de todas as religiões: budista, padre, movimento negro, tudo. Vi que meu amor por ele também era velar por sua memória, pela grandeza dele como artista

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Ethernidade de Luís

Durante 19 anos, todos os dias 23 de dezembro, às 14h30, cultivamos na agricultura teatral este corpo. Chamamos dia da Ethernidade de Luís. Nós, da Associação Cambiante Teatro Oficina Uzyna Uzona, tiramos férias depois desse dia. Esses ritos inspiraram sempre nossos anos sequentes. As emanações imortalizadas desse corpo vêm trazendo a dificílima, mas poderosíssima, revolução cultural brazyleira antropofágica, vivida em nossos corpos. Os vestígios de Luís, “essa bichona assassinada” , como na rádio gritava o Afanásio, em seu armário boçal, vêm nos inspirando em todos os fins-começos de ano.
[2007]

Zé Celso