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Poeta da madrugada criador
de versos com melodia interna

 

Alceu Valença também carrega a verve dos poetas. Em 2015, lançou, simultaneamente no Brasil e em Portugal, pela Chiado Editora, O poeta da madrugada, reunindo seus escritos entre os anos de 1960 a 2014. Abaixo alguns dos poemas, tanto do livro quanto menos conhecidos.

 

O Tempo

O tempo se dilata

Como um fio,

Cordão elástico caminho,

Estrada que nos transporta.

A gente segue o tempo e ninguém nota,

Seus caminhos suas rotas

Por onde o tempo seguiu.

Depois quer viver tudo que viu,

Vai bater na mesma porta,

De onde um dia saiu.

 

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Relação entre o Cristianismo e o Marxismo

(Em resposta a questão posta pela Associação Universitária Internacional
que lhe garantiu ser selecionado para estudar em Harvard, em 1968)

 

Quando a senhora de preto

Me enlaçar nos seus braços gélidos

E o meu corpo for se consumindo

Pelo chão que me foi dado,

Quero evaporar-me

E, docemente, subir aos céus.

 

Os parentes e amigos

Estarão à sala de espera.

Beijarei um a um,

Trocarei a camisa suada

E sairei para uma volta

Nos arredores.

 

Verei negro americano

De braço dado com donzela

De descendência nórdica.

Verei árabes e judeus

Discutindo, amigavelmente,

Sobre a bolsa do senhor.

 

E depois de percorrer

Todas as dependências do paraíso,

Chamarei o “chaveiro” em particular

E mui confidencialmente lhe perguntarei:

– Pedro me velho: aqui tem dedo de Marx?

 

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Senhora Estrada

Aonde é que tu vais, senhora estrada,

Companheira fiel do meu destino

E do tempo que corre em disparada

Sobre ti e teu solo agrestino?

 

Onde é que vamos fazer parada?

Pois o sol está quente quase a pino.

Vou deixar o meu tempo de menino

Qualquer dia retorno para casa.

Sob a lua, vamos nós na madrugada,

Sob um sol causticante e cristalino

 

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Olinda

Olinda,

Tens a paz dos mosteiros da Índia.

Tu és linda pra mim és ainda.

Minha mulher.

 

Calada,

O silêncio rompe a madrugada.

Já não somos aflitos, nem nada,

Minha mulher.

 

Tu voltas,

Entre frutas verão e tu voltas,

Abriremos janelas e portas,

Minha mulher.

 

Tempo São Bento

Amanhece,

O galo canto,

A cama range,

E o padeiro entrega o pão.

O sol acorda São Bento

De modo tão desatento

Sem o seu hálito quente

E seu olhar de tição

 

Uma mulher vai dar cria

Enquanto na sala vazia

Soa forte o carrilhão

De um velho relógio suíço

Herdado da geração

Dos parentes de Pesqueira,

De São Bento, Capoeiras

Ou da Una do Simão.

 

Berra o bode e o bezerro,

Astro Rei acorda o povo,

Canta o galo no terreiro,

Na rua late um cachorro.

 

De repente o tempo para…

Esparramado espreguiça.

Bisturi! Faca amolada!

– Nasci na hora da missa.

 

Ainda guardo no ouvido

O melancólico mugido do gado,

O piado das codornizes

E das rolinhas fogo-pagô.

 

Imburana! Rasga-beiço!

Mandacaru! Milharal!

E o Ator-Rei assoprando

Quentura descomunal!

 

O som que escuto do prado

Será tropel ou trovão???

– São sete cavalos alados

Vindo em minha direção

 

Lembro de aboios, toadas

Cantadas pelos vaqueiros

E das estórias narradas

Da saga dos cangaceiros

Que se escondiam nas serras,

Bem no alto dos lajedos.

 

Adeus, Riachão, saudade!

Já estamos de partida.

Aqui começo a viagem

Pelas estradas da vida.

 

 

 

 

 

 

Serviço

Itaú Cultural

Avenida Paulista, 149,
Estação Brigadeiro do Metrô

Fones: 11. 2168-1777

Acesso para pessoas com deficiência

Ar condicionado

 

Estacionamento:
Entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108

Se o visitante carimbar o tíquete na recepção do Itaú Cultural:

3 horas: R$ 7; 4 horas: R$ 9; 5 a 12 horas: R$ 10.

Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

 

www.itaucultural.org.br

 

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