Davi Kopenawa

O líder yanomami conta como conheceu a amiga que chama de Napëyoma

Amar a terra-floresta: eu conheci a alma dela atrás do sorriso [da série Mensagem para os povos da cidade], é resultado de um diálogo de Kopenawa com a pesquisadora Isabella Guimarães Rezende (*) para contar a história dessa amizade iniciada nos anos de 1970 e sólida até hoje. O depoimento, transcrito por ela nas mesmas palavras dele, será publicado no catálogo da mostra. Leia o trecho inicial dessa bonita história.

Napëyoma

Eu vou mandar uma mensagem sobre Napëyoma.1Napëyoma é mulher não indígena. Muitas pessoas conhecem a história dela. E muitas pessoas são contra ela. Uma mulher que quer fazer um bom pensamento, pensamento bom que a natureza colocou na cabeça dela. Como vocês falam, “fiel” – xaari totihi.

Napëyoma é uma pessoa corajosa. Ela ama. Ama a vida dela, ama por ela mesma, ama uma casa, ama o trabalho e nos ama. Ela entende que nós somos seres humanos, nós somos um sangue só, nós somos um coração só. Napëyoma nasceu para vir salvar a nossa t/Terra. Em primeiro lugar é a t/Terra. A t/Terra é fundamental para o meu povo Ianomâmi viver, continuar vivendo permanente. Ela é uma mulher que veio nos salvar aqui, na metade de Roraima e na metade de Amazonas.

Claudia Andujar, Napëyoma, para mim e para o meu povo Ianomâmi e Iecuana é como nossa mãe. Ela fala um pouquinho a nossa língua, mas ela não é verdadeira Ianomâmi. O corpo dela, os olhos dela não são ianomâmi. Ela está considerada, eu considerei dar apelido para ela: Napëyoma.

Ela veio de longe para chegar até aqui porque lá onde ela nasceu ficou ruim, teve briga entre eles. Ela fugiu de lá porque na t/Terra dela aconteceu muito feio para ela, morreu o povo dela de guerra, morreu o pai por causa da guerra. A mãe e Napëyoma nova, moça, conseguiram pensar e fugir para um lugar longe. Ela foi para outro lugar onde não mora Ianomâmi. Ela escolheu, ficou pensando em escolher: “Aonde eu vou chegar?”. Ela pensou em dois caminhos: ela vai para os Estados Unidos para ficar um pouco lá, aprender um pouquinho de inglês. De lá, ela pensou de novo para continuar andando até chegar no Brasil.

Chegou no Brasil, ela escutou o povo indígena, outros falaram para ela. Ela pensou com o povo xinguano. Muita gente, muitos não indígenas iam encontrá-los para tirar foto. Muitos brancos só queriam tirar foto, não queriam cuidar: tirar foto para acabar com a gente, para acabar com o nosso pensamento, para acabar com o nosso costume, para mudar a nossa língua materna própria. E Claudia foi lá também para olhar como funciona: “O que o branco, com a Funai,2 com o estrangeiro, o que estão fazendo lá? Será que é importante? Será que ele foi para olhar?”. Ela também não gostou: “Aqui tem muita gente... Eu vou trabalhar aqui, mas eu vou trabalhar onde não tem movimento. Aqui está tudo movimentado, muita gente de carro, de câmera na mão”. Os parentes do Xingu pintados, dançando.

É assim que ela foi lá para visitar, mas depois ela pensou outro pensamento. Escutou também a Diocese de Roraima, a igreja, os padres. Penso que foi em Brasília que ela escutou que tem Ianomâmi. Ela encontrou a igreja, a Diocese de Roraima. Ela encontrou Hokosi.3 Ele morava lá, ele é fundador da Missão Catrimani. Foi ele quem fundou o que se chama hoje Missão Catrimani. Hokosi a conheceu e foi contando histórias sobre nós. Ela se interessou em nos conhecer, chegar em Boa Vista, e lá ela ficou animada.

“Carlo, você me leva para os Ianomâmi!” Carlo a levou para a Missão Catrimani. Lá é missão da Diocese de Roraima. A Diocese de Roraima não ensinou a cultura da igreja, eles respeitaram. Lá que estão. Ela gostou, encontrou o nosso parente e parente Wakatha u thëri4 interessou. Ela pensou: “Eu vou trabalhar aqui. Eu vou conversar com as lideranças tradicionais que não falam português. Eu vou contar sobre o acontecimento dos invasores, qualquer lugar que os invasores chegam”. Ela ficou lá trabalhando junto com Hokosi, viajou junto com ele para outras aldeias onde outros meus parentes moravam.

Eu não vi quando ela chegou. Eu só a encontrei na missão. A missão é dos padres, mas na nossa própria língua ianomâmi se chama Wakatha u. Lá, com os Wakatha u thëri, ela se acostumou em fazer amizade e ela ficou como família. Ela ficou como família pensando: “Eu vou ensinar os Ianomâmi para não acontecer como aconteceu muito feio na minha t/Terra, onde meu pai morreu”.

[(*) Isabella Guimarães Rezende realizou a sua pesquisa de mestrado de Ciências Sociais pela PUC-SP, cujo tema tratava Davi Kopenawa Yanomami e a experiência de uma linguagem.]
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3 de abril a 30 de junho de 2024
Pisos: -1 e -2
Curadoria: Eder Chiodetto
Concepção e realização: Itaú Cultural

Itaú Cultural
Avenida Paulista, 149 – próximo à estação de metrô Brigadeiro
Visitação: terça-feira a sábado, das 11h às 20h; domingos e feriados, das 11h às 19h.
Entrada: gratuita

Mais informações:
Telefone: (11) 2168-1777
Whatsapp: (11) 963831663
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Estacionamento: entrada pela Rua Leôncio de Carvalho, 108.
Com manobrista e seguro, gratuito para bicicletas.

TEATRO
Trilha para as estrelas
Grupo Barracão de Teatro
Estreia em 7 de abril (domingo),às 16h
Sala Vermelha – Itaú Cultural (59 lugares)
Segue em cartaz todos os domingos até julho
Duração: 55 minutos
Capacidade: 59 lugares
Classificação Indicativa: livre, segundo autodefinição
Entrada gratuita
Ingressos: https://itaucultural.byinti.com/#/ticket/

IC PLAY
Gyuri
A partir de 3 de maio
Documentário
Direção: Mariana Lacerda
Duração: 1h 28min
Roteiro: Mariana Lacerda e Paula Mercedes
Acesso gratuito em www.itauculturalplay.com.br e dispositivos móveis Android e IOS.

Encontros IC Play
Exibição de Gyuri
Seguida de conversa com a diretora Mariana Lacerda e o filósofo húngaro Peter Pál Pelbart
Previsto para o dia 30 de abril, às 19h
Sala Vermelha – Itaú Cultural (59 lugares)

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