O segundo trimestre do ano de 2021 demonstrou recuperação do emprego na economia criativa brasileira após um trimestre com queda em comparação com o final de 2020.[1] Em relação ao mesmo período do ano passado, a economia criativa teve criação de pouco mais de 590 mil postos de trabalho, uma taxa de aumento de 9%. Já em comparação com o trimestre anterior (o primeiro de 2021), a taxa de aumento observada foi de 4% (adição de 258 mil postos de trabalho).

DiagramaDescrição gerada automaticamente com confiança média

A taxa de recuperação do emprego na economia criativa seguiu a tendência do total do emprego na economia brasileira, tanto na comparação com o mesmo trimestre do ano passado quanto em relação ao trimestre anterior. Contudo, a recuperação do setor foi ligeiramente mais acentuada do que no total do emprego no Brasil: entre o segundo trimestre de 2020 e o segundo trimestre de 2021, a economia criativa apresentou 9% de aumento no emprego, enquanto o total da economia apresentou variação de 5%.

Uma possível explicação para essa retomada maior do setor criativo, para além da retomada da taxa de ocupação na economia como um todo, é o fato de a economia criativa, principalmente as atividades ligadas ao setor cultural, ser bastante dependente da interação com o público. Assim, o aumento do número de vacinados e a reabertura completa de espaços antes fechados ou parcialmente funcionando tendem a gerar um número maior de empregos.

GráficoDescrição gerada automaticamente

Entre os segmentos que compõem o emprego na economia criativa (trabalhadores criativos especializados – ou seja, trabalhadores criativos trabalhando nos setores criativos –; trabalhadores de apoio – trabalhadores não criativos trabalhando nos setores criativos –; e trabalhadores incorporados – trabalhadores criativos atuando nos demais setores da economia), o que mais apresentou variação positiva entre o primeiro e o segundo trimestres de 2021 foi o de trabalhadores especializados da cultura, ou seja, aqueles que atuam em setores criativos exercendo profissões nas áreas de atividades artesanais, artes cênicas e artes visuais, cinema, música, fotografia, rádio e TV e museus e patrimônio.

Esse segmento tem apresentado comportamento oscilante no emprego a cada trimestre observado desde o segundo período de 2020. As quedas são seguidas de recuperações compensatórias, o que gerou uma estabilidade no nível de emprego desse segmento na comparação entre o segundo trimestre de 2020 e o de 2021: em ambos os períodos, o nível de emprego desse grupo ficou em torno de 650,5 mil postos de trabalho. Já em relação ao trimestre anterior, o único segmento da economia criativa que não apresentou crescimento foi o de trabalhadores criativos incorporados, no qual o nível de emprego se manteve estável em comparação com os primeiros três meses de 2021.

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No conjunto dos trabalhadores criativos, as categorias ocupacionais que mais apresentaram crescimento entre o primeiro e o segundo trimestres de 2021 foram a gastronomia, o design e as artes cênicas e visuais. Especificamente no segmento de trabalhadores especializados (aqueles que trabalham nos setores criativos), o destaque se deu nas artes cênicas e nas artes visuais, nas quais houve a criação de 16 mil postos de trabalho, representando uma variação de 35%. No segmento de trabalhadores incorporados, o destaque ocorreu nas categorias de gastronomia, cinema, música, fotografia, rádio e TV e design. A abertura de espaços antes fechados ou funcionando parcialmente ajuda a explicar o aumento na contratação nessas categorias em específico, uma vez que os setores que contratam esses profissionais tendem a apresentar interação maior com o público.

*Amostra não significativa.

Quanto ao tipo de vínculo de trabalho, observa-se que os empregados da economia criativa informais (trabalhadores sem carteira assinada e profissionais empregadores ou conta própria sem cadastro formal de CNPJ) foram os que mais tiveram variação positiva em relação ao primeiro trimestre de 2021. No segmento formal (com carteira assinada, servidores públicos e profissionais empregadores ou conta própria com cadastro formal de CNPJ), o emprego se manteve praticamente estável, seguindo o padrão do total do emprego na economia brasileira. Destaca-se também o grande aumento da economia criativa informal em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior: entre o segundo trimestre de 2020 e o de 2021, a variação do emprego no segmento foi de 19%. De maneira geral, o aumento da informalidade tem sido uma tendência nos últimos anos, acentuada tanto pela reforma trabalhista quanto pela crise econômica na qual o Brasil se encontra. A pandemia de covid-19 só demarcou ainda mais essa dinâmica.

Tela de computador com texto preto sobre fundo brancoDescrição gerada automaticamente

Nos segmentos informais da economia criativa, todas as três categorias (trabalhadores especializados, incorporados e de apoio) tiveram variações similares entre o primeiro e o segundo trimestres de 2021, estando na faixa de 10%. Entre o segmento formal, o crescimento do emprego nos especializados e de apoio (os dois empregados nos setores criativos) foi contrabalançado pela queda no emprego formal dos trabalhadores criativos incorporados.

Tela de computador com texto preto sobre fundo brancoDescrição gerada automaticamente

Os impactos da pandemia na economia criativa não alteraram a composição do emprego segundo o gênero. Desde o segundo trimestre de 2020 até o mesmo período em 2021, o percentual de mulheres seguiu na faixa de 47% do total de trabalhadores.

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No período, a participação feminina no total do emprego da economia criativa segue sendo majoritária no segmento informal e minoritária no segmento formal, o que se reflete também nas diferenças de rendimento entre o público feminino e o masculino.

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Ambas as categorias tiveram aumento nominal e real nos seus rendimentos médios em relação ao segundo trimestre de 2020, sendo que a variação para o público feminino foi ligeiramente maior: 17% para as mulheres e 15% para os homens. Mesmo assim, o rendimento médio das trabalhadoras da economia criativa segue sendo equivalente a cerca de 60% do rendimento médio masculino.

Interface gráfica do usuárioDescrição gerada automaticamente

Quanto à regionalidade, observa-se que, entre o primeiro e o segundo trimestres de 2021, dos cinco estados com maiores níveis de emprego na economia criativa, o Paraná foi o único que apresentou queda na quantidade de postos de trabalho. No mesmo período em 2021, a queda foi de 12%. Nesse grupo, Rio de Janeiro e Santa Catarina se destacam com as melhores variações positivas. Fora dos cinco estados principais, que representam 65% do total de empregados da economia criativa brasileira, os maiores crescimentos foram observados no Amapá, no Rio Grande do Norte e em Rondônia.

Comparação 2019.2, 2020.2 e 2021.2

Quando analisamos a evolução dos ocupados na economia criativa nos segundos trimestres desde 2019, percebemos que, apesar da recuperação recente, ao compararmos o segundo trimestre de 2020 para o segundo de 2021 - apresentando um aumento absoluto de 591.122, cerca de 9%, passando de 6.266.560, em 2020.2, para 6.857.682, em 2021.2 – o total de trabalhadores da economia criativa ainda não está no patamar de 2019.2, 6.958.484. Mais especificamente, a queda de 2019.2 para 2020.2 foi de -10%, enquanto de 2019.2 para 2021.2, a queda acumulada foi de -1%.

Ao analisarmos os segmentos que compõem o emprego na economia criativa[2], percebemos quedas em todos os segmentos do 2º trimestre de 2019 para o 2º de 2020. Nesse contexto, em termos percentuais, os mais afetados foram os trabalhadores incorporados e os especializados da cultura[3], que apresentaram ambos variação negativa 15%. Em termos absolutos, as maiores variações foram dos trabalhadores de apoio e dos incorporados, com quedas 241.196 e 286.188. O que notamos do 2º trimestre de 2020 para o 2º trimestre de 2021 é uma recuperação relativa dos segmentos dos trabalhadores de apoio e dos incorporados – que não compensou a queda de 2019.2 para 2020.2. Os especializados criativos conseguiram compensar a queda de 2019.2 para 2020.2 apresentando uma variação positiva de cerca de 24%, ou um aumento 436.857 de postos de trabalho de 2020.2 para 2021.2 - o que não só compensou a queda de inicial como também proporcionou um crescimento de 21% nos postos de trabalho de 2019.2 para 2021.2, aumento de 387.582, ou variação positiva de 21%. Os especializados da cultura, por sua vez, apresentaram uma nova queda de 45.098 postos de trabalho, ou variação negativa de 7%, do 2º trimestre de 2020 para o 2º de 2021. Esse segmento sofreu uma queda de 21%, ou perda 160.352 postos de trabalho, desde 2019.2

Gráfico, Gráfico de mapa de árvoreDescrição gerada automaticamente

Ao analisarmos as variações dentro das categorias ocupacionais considerando, primeiramente, o segmento dos trabalhadores especializados (aqueles trabalhadores criativos que trabalham dentro dos setores criativo), temos variações positivas consistentes nas categorias de Tecnologia da Informação, Editorial, Publicidade e Arquitetura, enquanto as categorias de Cinema, Música, fotografia, rádio e TV e Atividades artesanais apresentaram variações negativas consistentes na comparação entre os períodos. Em relação aos trabalhadores incorporados, destacamos também as categorias de Tecnologia da Informação, Editorial, Publicidade e Arquitetura, mas em especial o setor de Gastronomia, que apresentou recuperação do 2º trimestre de 2020 para o 2º trimestre 2021 (45%) e crescimento de 7% nos postos de trabalho ao comparamos o patamar de 2021.2 ao de 2019.2.

* - Amostra não significativa

Quanto ao tipo de vínculo de trabalho, observa-se que os empregados da Economia Criativa informais (trabalhadores sem carteira assinada e profissionais empregadores ou conta-própria sem cadastro formal de CNPJ) foram os que mais tiveram variação negativa do 2º trimestre de 2019 para o 2º trimestre de 2020. Importante destacar aqui que essa variação no trabalho informal não foi compensada por aumento dos formais. No segmento formal (com carteira assinada, servidores públicos e profissionais empregadores ou conta-própria com cadastro formal de CNPJ), o emprego se manteve praticamente estável, seguindo o padrão do total do emprego na economia brasileira, com um pequeno aumento de 2020.2 para 2021.2. Destaca-se também o grande aumento da economia criativa informal na comparação entre o 2º Trimestre de 2020 e o 2º Trimestre de 2021, a variação do emprego nesse segmento foi de 19%.

 


[1] No caso deste boletim, estamos considerando emprego e ocupação como intercambiáveis. Contudo, o nível de desocupados no setor não reflete um nível de desemprego, uma vez que a troca de ocupação pode se dar pela migração entre setores. Desemprego, como aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), “se refere às pessoas com idade para trabalhar (acima de 14 anos) que não estão trabalhando, mas estão disponíveis e tentam encontrar trabalho. Assim, para alguém ser considerado desempregado, não basta não possuir um emprego”. Ver mais em: https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php.

[2] Trabalhadores criativos especializados – ou seja, trabalhadores criativos trabalhando nos setores criativos –; trabalhadores de apoio – trabalhadores não criativos trabalhando nos setores criativos –; e trabalhadores incorporados – trabalhadores criativos atuando em demais setores da economia.

[3] Aqueles que atuam em setores criativos e exercem profissões nas áreas de Atividades Artesanais, Artes Cênicas e Artes Visuais, Cinema, Música, Fotografia, Rádio e TV e Museus e Patrimônio