O 4º Trimestre do ano de 2021 demonstrou o seguimento da recuperação do emprego na economia criativa brasileira. Em relação ao mesmo trimestre do ano passado, a economia criativa teve uma criação de quase 856 mil postos de trabalho, uma taxa de aumento de 13%. Já em relação ao trimestre anterior (3º Trimestre de 2021), a taxa de aumento observada foi de 5% (adição de 354 mil postos de trabalho).

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

 A taxa de recuperação do emprego na economia criativa seguiu a tendência do total do emprego na economia brasileira, tanto na comparação em relação ao mesmo trimestre do ano passado, quanto na comparação em relação ao trimestre anterior. As taxas de variação ficaram bastante próximas – com a economia criativa em recuperação levemente mais acelerada - mostrando que o emprego na economia criativa está acompanhando a retomada da atividade econômica.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Dentre os segmentos que compõem o trabalhadores na economia criativa - definidos a partir das ocupações criativa[1] (trabalhadores especializados[2] – ou seja, trabalhadores criativos trabalhando nos setores criativos –; trabalhadores de apoio – trabalhadores não criativos trabalhando nos setores criativos –; e trabalhadores incorporados – trabalhadores criativos atuando em demais setores da economia), o segmento que mais apresentou variação positiva entre o 3º e o 4º Trimestres de 2021 foram os trabalhadores de apoio. Em relação a 2020.4, proporcionalmente, os trabalhadores de apoio representavam 32% do total de trabalhadores da economia criativa em 2020.4 e passaram a representar 36% em 2021.4. Essa categoria foi responsável pela geração de 584 mil empregos de um total de 855.511 na economia criativa entre 2020.4 e 2021.4, ou seja 68% do total de empregos gerados no período foram gerados dentro da categoria de trabalhadores de apoio. Essa recuperação expressiva dos trabalhadores de apoio demonstra um movimento natural da retomada das atividades dentro de uma categoria que apresentou grandes perdas com o início da pandemia – entre 2019.4 e 2020.2, a perda foi de aproximadamente 550 mil postos de trabalho – quanto uma recuperação não tão acentuada dos trabalhadores especializados, que só atingiram agora patamares similares a 2019.4 (cerca de 2,74 milhões de trabalhadores).

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

No conjunto dos trabalhadores criativos, dos 113.794 postos de trabalho criados entre 2021.3 e 2021.4, os trabalhadores especializados (criativos e culturais) totalizaram 63.706 (57%), enquanto os incorporados totalizaram 49.023 (43%). Essa tendência indica a importância dos trabalhadores criativos na economia como um todo, mas também demonstra a importância de outros setores econômicos na recuperação de empregos criativos. Especificamente, a categoria ocupacional que mais apresentou crescimento entre o 3º e o 4º Trimestres de 2021 foi a de Museus e Patrimônio (39%), após quedas consecutivas desde o 1º trimestre de 2021. A recuperação desse setor faz sentido dentro do contexto de arrefecimento da pandemia e reabertura de espaços anteriormente fechados total ou parcialmente. Observa-se, contudo, que o número total de trabalhadores de Museus e Patrimônio ainda não se encontra no patamar de 2020.4. Já na comparação com o 4º Trimestre de 2021, se destacam as recuperações do emprego em ocupações das Artes Cênicas e Visuais, de Cinema, Música, Fotografia, Rádio e TV e da Gastronomia, tanto em especializados, quanto em incorporados. Todos os setores que foram também mais duramente afetados pelas restrições impostas pela pandemia de Covid-19.

Em termos quantitativos mais gerais, chamamos atenção para três setores dentro do total de trabalhadores criativos: Moda; Cinema, Música, Fotografia, Rádio e TV; e Tecnologia da Informação. O setor de moda – que apesar da recuperação em 2021.4 em relação à 2021.3 (40.478) – é o que apresentou a maior queda (-104.767) de postos de trabalho entre 2020.4 e 2021.4.  Essa queda é bastante relacionada a uma crise geral do setor, que é bastante dependente de cadeias de produção externas que foram interrompidas pela pandemia de Covid-19. No movimento contrário, os setores Cinema Música Fotografia Radio e TV e Tecnologia da Informação que tiveram um aumento de 111.730 e 149.489 entre 2020.4 e 2021.4, respectivamente. Especificamente no setor de Tecnologia da Informação, é interessante notar um aumento expressivo dentro da categoria de especializados, cerca de 128.071 (85% da variação total da categoria). Essa tendência, para além de um fortalecimento das ocupações ligadas à tecnologia, pode estar relacionada tanto ao processo de adaptação em relação à dinâmica virtual da pandemia, quanto ao processo de digitalização do setor.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

* - Amostra não significativa

Quanto ao tipo de vínculo de trabalho, observa-se que os empregados da Economia Criativa informais (trabalhadores sem carteira assinada e profissionais empregadores ou conta-própria sem cadastro formal de CNPJ) foram os que mais tiveram variação positiva em relação ao 3º Trimestre de 2021, aumentando em 8%. No segmento formal (com carteira assinada, servidores públicos e profissionais empregadores ou conta-própria com cadastro formal de CNPJ), o emprego teve variação de apenas 3%. Ao observar a variação desde o 4º Trimestre de 2020, observa-se que ambos os segmentos têm tido comportamento de recuperação próximos aos observados pelos mesmos segmentos no total da economia brasileira.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Segmentando os trabalhadores incorporados, especializados e de apoio entre as faixas formal e informal, observa-se que todos os segmentos obtiveram crescimento entre o 3º e o 4º Trimestres de 2021, sendo que o destaque se deu no grupo de trabalhadores de apoio informais, com uma taxa de crescimento de 21%. Mais uma vez, trazemos o fato de que esse grupo de trabalhadores foi o que apresentou a maior taxa de variação positiva no período analisado. Esse crescimento de 21% de informalidade na categoria pode indicar, assim, uma maior informalização e precarização, derivada ainda das condições de retomada, mas também da flexibilização da legislação trabalhista brasileira e da crise econômica corrente.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Os impactos da pandemia na economia criativa não alteraram a composição do emprego segundo gênero. Desde o 4º Trimestre de 2020 até o 4º Trimestre de 2021, o percentual de mulheres seguiu na faixa de 47% do total de trabalhadores.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

 Nesse período, a participação feminina no total do emprego da economia criativa segue sendo majoritária no segmento informal e minoritária no segmento formal, o que se reflete também nas diferenças de rendimento entre o público feminino e masculino.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

O rendimento médio das trabalhadoras da economia criativa segue sendo equivalente a cerca de 60% do rendimento médio masculino. Embora com crescimentos nominais positivos similares no público feminino e masculino, os rendimentos médios reais nos dois grupos estão diminuindo por conta dos impactos da alta inflacionária, refletindo em uma perda do poder de compra desta força de trabalho.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Quanto à regionalidade, observa-se que, entre o 4º Trimestre de 2020 e o 4º Trimestre de 2021, o Mato Grosso do Sul, o Distrito Federal, a Bahia e Rondônia foram as unidades federativas com maiores taxas de crescimento no emprego na economia criativa. Também se observam poucos casos de quedas significativas no total do emprego na economia criativa nas demais UFs, com exceção de Tocantins e Roraima, com quedas de 27% e 17%, respectivamente.

Fonte: Painel de Dados Observatório Itaú Cultural.

Análise dos Microempreendedores individuais da Economia Criativa[3]

            No início de abril de 2022, os microempreendedores individuais vinculados a setores e ocupações da economia criativa somavam cerca de 1.545.929 de cadastrados em todo o Brasil, cerca de 11% de um total de 13.758.112. Os principais setores representativos são a Publicidade (557.905) e a Moda (384.793), que juntos representam 61% do total dos MEIs vinculados à economia criativa. O setor de Cinema, Música, Fotografia, Rádio e TV representa 10% (158.747); o Tecnologia de Informação, 9% (145.537); o Editorial, 9% (134.227); Artes Cênicas e Artes Visuais, 6% (89.830); e o de Atividades Artesanais, 5% (74.874).

Em relação à regionalidade dos MEIs, observa-se que as principais unidades federativas em quantidade de cadastros são as mesmas que se destacam no total de trabalhadores da economia criativa, seguindo o padrão de concentração na região Sudeste e Sul do País. Na região sudeste estão localizadas 53,7% (830.736) do total de MEIs criativas:  São Paulo com 29% (446.621); Rio de Janeiro, 11,5% (177.208); Minas Gerais,  10,8% (167.512) e Espírito Santo (2,5%). A região sul, por sua vez, apresenta um total de 285.502 (18,5% do total) de MEIs criativa: Paraná com 105.409 (6,8%); Santa Catarina com 90.595 (5,9%) e Rio Grande do Sul com 89.498 (5,8%).


[1] Saiba mais em https://www.itaucultural.org.br/observatorio/paineldedados/pesquisa/trabalhadores-da-economia-criativa

[2]  Os Trabalhadores Especializados são divididos em duas subcategorias: Trabalhadores Especializados-Cultura, que englobam as Atividades Artesanais, Artes Cênicas e Artes Visuais, Cinema, Música, Fotografia, Rádio e TV e Museus e Patrimônio; e os Trabalhadores Especializados-Criativos, englobando os setores de Publicidade, Arquitetura, Moda, Design, Tecnologia da Informação e Editorial.

[3] Os microempreendedores individuais estão englobados dentro da categoria de trabalhadores formais analisados acima. Porém, como não há cruzamento entre as bases de dados utilizadas, não é possível separá-los dos demais. Assim, há uma sobreposição, mesmo que não completa, entre o total de trabalhadores e o total de microempreendedores.