Panorama geral e setorial da economia criativa no Brasil
Entre o 3º trimestre de 2023 e o 3º trimestre de 2024, o emprego na economia criativa apresentou um crescimento de 3%, com a criação de mais de 228 mil novos postos de trabalho. Alcançando o número total de 7.793.534 trabalhadores, a Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (Ecic) atinge seu maior patamar desde o início da série histórica disponível. Ainda que tenha registrado uma redução de 73 mil postos de trabalho (-1%) entre o 4º trimestre de 2023 e o 1º trimestre de 2024, o setor retomou o crescimento nos trimestres seguintes, registrando aumentos consecutivos de 1% (respectivamente, 68 mil e 51 mil novos postos de trabalho).
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
No mesmo período, entre o 3º trimestre de 2023 e o 3º trimestre de 2024, o mercado de trabalho para o agregado da economia brasileira também registrou uma taxa de variação de 3%, com a criação de aproximadamente 3,2 milhões de novos postos de trabalho. Esse crescimento reflete uma tendência positiva, apesar de uma leve queda de 1% (781 mil postos de trabalho) observada entre o 4º trimestre de 2023 e o 1º trimestre de 2024. Após essa redução, o setor retomou o crescimento, registrando aumentos de 2% (+1,6 milhão) no 2º trimestre de 2024 e 1% (+1,2 milhão) no 3º trimestre de 2024, sinalizando uma recuperação estável ao longo do período.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
Entre os terceiros trimestres de 2023 e 2024, todos os segmentos[1] da economia criativa apresentaram aumento no nível de emprego, com destaque para os trabalhadores incorporados, que tiveram um crescimento de 15%, ou cerca de 285 mil novos postos de trabalho. No entanto, ao compararmos o período entre o último trimestre de 2023 e o primeiro de 2024, observamos uma queda em dois segmentos: trabalhadores de apoio (-1,6%) e trabalhadores especializados no agrupamento de tecnologia (-10%). É importante ressaltar que essa é a primeira queda significativa no nível de emprego do segmento de trabalhadores especializados em tecnologia dentro da série histórica da Ecic.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
No conjunto dos trabalhadores criativos, que abrange tanto os especializados quanto os incorporados, observou-se um aumento geral no número de empregos entre os terceiros trimestres de 2023 e 2024. Entre os trabalhadores especializados, as categorias de maior destaque foram Editorial (20%), Design (18%) e Publicidade (+11%), refletindo um aquecimento em áreas específicas da economia criativa. Destaque pontual merece o setor de Artes Cênicas, que registrou um crescimento de 92% no número de trabalhadores no período em apreço[2], o que a análise da série histórica mais ampliada indica ser apenas uma recomposição dos postos de trabalho para o setor. Por outro lado, algumas categorias enfrentaram declínios expressivos, como Cinema, Rádio e TV (-12%), Demais Serviços de TI (-9%) e Atividades Artesanais (-7%), sugerindo possíveis desafios nesses setores. Entre os trabalhadores incorporados, os maiores crescimentos foram observados nas categorias de Moda (+65%), Música (22%) e Editorial (13%), enquanto áreas como Arquitetura (-18%), Artes Visuais (-11%) e Cinema, Rádio e TV (-2%) apresentaram quedas mais significativas. Para o conjunto dos trabalhadores criativos (especializados e incorporados), cinco categorias registraram quedas mais expressivas, no intervalo entre o quarto trimestre de 2023 e o primeiro trimestre de 2024: Gastronomia (-13%), Arquitetura, Museus e Patrimônio, Cinema, Rádio e TV (-9%) e Artesanato e Artes Visuais (-2%). Ao se observar as tendências gerais para os trabalhadores criativos entre os terceiros trimestres de 2023 e 2024, os setores de Editorial (+17%), Design (+15%) e Publicidade (+10%) continuam a se destacar com crescimentos notáveis, sugerindo recuperação e expansão após períodos de oscilações negativas. Cabe destacar que, este movimento segue a mesma tendência registrada para o segmento de trabalhadores especializados.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025). Nota: * - Amostra não significativa.
Análise sobre a formalização do mercado de trabalho criativo
Quanto ao tipo de vínculo de trabalho, entre os terceiros trimestres de 2023 e 2024, houve um crescimento mais intenso dos postos de trabalho informais na economia criativa, com um aumento de +7%, enquanto o agregado da economia brasileira registrou aumento de +2%. No mesmo período, o número de trabalhadores formais na economia criativa apresentou estabilidade, com um crescimento de apenas +1%, em contraste ao aumento de +4% para o total da economia brasileira. Esses dados indicam que, embora o nível de informalidade tenha crescido tanto na economia criativa quanto no conjunto da economia, o aumento foi mais expressivo nos setores culturais e criativos, reforçando a tendência de maior precarização nas condições de trabalho da Ecic.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
Entre os terceiros trimestres de 2023 e 2024, ao se analisar o tipo de vínculo de trabalho para os agrupamentos de trabalhadores incorporados, especializados e de apoio na economia criativa, verifica-se um aumento da formalização apenas para os segmentos de incorporados (+3%) e especializados (+2%). Para os trabalhadores incorporados, ainda que tenha registrado maior expansão relativa da formalização, verifica-se um expressivo aumento (+20%) nos postos informais. Este crescimento significativo no segmento dos trabalhadores incorporados informais foi responsável por uma contribuição relevante na expansão total do emprego na economia criativa. No caso dos trabalhadores de apoio, houve um aumento de +11% nos postos informais, contrastando com uma redução de -2% nos postos formais, reforçando a tendência de maior informalização neste agrupamento. Já entre os trabalhadores especializados, registou-se um aumento de apenas +1% na informalidade, indicando maior estabilidade neste segmento. Esses dados indicam que, embora o crescimento geral dos postos de trabalho na Ecic tenha sido positivo, a informalização foi mais acentuada no setor, especialmente no grupo de trabalhadores incorporados.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
Geografia da economia criativa no Brasil
Ao analisar a variação de emprego entre os estados brasileiros, destacam-se alguns aumentos e quedas mais significativas. Entre os terceiros trimestres de 2023 e 2024, os maiores crescimentos foram registrados em: Roraima (+37%), Sergipe (21%) e Mato Grosso, Pernambuco e Minas Gerais (+18%). Ainda assim, no mesmo período, alguns estados apresentaram quedas expressivas, como: Piauí (-35%), Pará, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul (-10%). Entre o 2º e 3º trimestres de 2024, Amazonas (+34%), Bahia (+13%), Amapá e Piauí (+11%) se destacaram com os aumentos mais expressivos nos postos de trabalho da Ecic, enquanto Mato Grosso (-24%), Tocantins (-21%) e Pará (-18%) registraram as maiores quedas.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
Dimensões de gênero e raça/cor
Quanto ao gênero, observa-se que o perfil dos trabalhadores da economia criativa apresentou maior estabilidade durante o período entre os terceiros trimestres de 2023 e 2024. Na economia criativa, a participação feminina apresentou uma ligeira redução, passando de 46% no 3º trimestre de 2023 para 44% no 3º trimestre de 2024, enquanto a participação masculina cresceu de 54% para 56% no mesmo período. Em contraste, na economia brasileira como um todo, a configuração permaneceu estável no período em análise, com as mulheres representando 43% da força de trabalho e os homens, 57%. Apesar das diferenças, a economia criativa continua apresentando uma maior participação feminina em comparação com a média nacional, embora ainda exista uma predominância masculina em ambos os contextos.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
No 3º trimestre de 2024, a distribuição étnico-racial dos trabalhadores na economia criativa continua a exibir uma predominância significativa de indivíduos autodeclarados brancos, totalizando 56%, em contraste com a representatividade relativamente menor de negros, 42% (9% pretos e 33% pardos). Demais grupos étnico-raciais, como amarelos e indígenas, permanecem com uma participação de apenas 2% do total de trabalhadores da Ecic[3]. Essa configuração para o perfil étnico-racial da Ecic manteve-se notavelmente estável desde o 3º trimestre de 2023, indicando relativa estabilidade na composição demográfica do setor.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
A representatividade dos negros (agregado de pretos e pardos) na economia criativa é comparativamente menor do que para o agregado dos postos de trabalho da economia brasileira. Entre os terceiros trimestres de 2023 e 2024, a proporção de trabalhadores negros em relação ao total de ocupados na economia criativa foi, em média, de 42% (33% pardos e 9% pretos), em contraste com os 55% observados para o agregado do mercado de trabalho da economia brasileira no mesmo período. Em linha com a economia brasileira, a participação de trabalhadores amarelos e indígenas manteve-se estável na Ecic, em média 2% para o período, indicando pouca variação na composição étnico-racial ao longo do período.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
Para o conjunto dos trabalhadores criativos, tanto especializados quanto incorporados, o período analisado revela uma tendência persistente de concentração de trabalhadores negros no agrupamento de Cultura, correspondendo à cerca de 50%, em média, ao longo dos terceiros trimestres de 2023 e 2024 (39% pardos e 13% pretos, no 3º trimestre de 2024). Este agrupamento inclui ocupações como Atividades Artesanais, Artes Cênicas, Artes Visuais, Cinema, Rádio e TV, Música e Museus e Patrimônio. Em contraste, a participação de negros nas ocupações de Consumo e Tecnologia é relativamente menor. Nas ocupações de Consumo, os negros (pretos e pardos) representaram, em média, 38% (30% pardos e 8% pretos, no 3º trimestre de 2024). Enquanto nas ocupações de Tecnologia, a proporção é ainda menor, com média de 36% (30% pardos e 8% pretos, no 3º trimestre de 2024). Notavelmente, as ocupações criativas de Tecnologia apresentam a menor proporção de negros entre os três agrupamentos de trabalhadores criativos, reforçando a concentração de trabalhadores brancos, que representaram 62%, em média, desse agrupamento no período em apreço. Essas diferenças ilustram como a composição étnico-racial varia significativamente entre os diferentes setores da economia criativa.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
No que diz respeito ao segmento dos empregados nos setores criativos, que abrange trabalhadores especializados e de apoio, observa-se que determinados setores tradicionalmente apresentam uma maior representação de trabalhadores pretos e pardos no total dos postos de trabalho. Considerando o 3º trimestre de 2024, estes incluem Atividades Artesanais, com 55% (47% pardos e 8% pretos), seguido por Moda, com 54% (43% pardos e 10% pretos) e Artes Cênicas e Visuais, com 50% (35% pardos e 15% pretos). Por outro lado, setores como Tecnologia da Informação e Desenvolvimento de Softwares e Jogos Digitais, Arquitetura, Publicidade e Design registram uma alta concentração de trabalhadores brancos, com proporções de 64%, 64%, 60%, e 60%, respectivamente. Essa distribuição reflete diferenças significativas na composição étnico-racial entre os diversos setores criativos, com setores mais voltados para tecnologia e negócios apresentando menor diversidade.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
Em relação à remuneração, no 3º trimestre de 2024, o salário médio na economia criativa foi de R$4,8 mil, continuando a superar em cerca de 50% o salário médio da economia brasileira, que foi de R$3,2 mil no mesmo período. Contudo, as desigualdades de gênero e raça/cor presentes na economia brasileira também se refletem na economia criativa, impactando as médias salariais. Trabalhadores autodeclarados brancos tiveram os maiores salários médios, atingindo R$5,8 mil, enquanto os trabalhadores pretos e pardos registraram médias significativamente menores, de R$3,2 mil e R$3,6 mil, respectivamente. Essas disparidades evidenciam a desigualdade estrutural também presente no mercado de trabalho criativo, onde trabalhadores brancos continuam a auferir salários superiores em relação aos trabalhadores negros.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
Ao analisarmos os dados de salário médio por gênero e raça/cor, as disparidades salariais também se mantêm evidentes ao longo do período. Entre os homens, os trabalhadores brancos continuam a receber os maiores salários médios, atingindo R$7,1 mil no 3º trimestre de 2024, enquanto os homens pretos e pardos registraram salários médios de R$4,1 mil e R$4,5 mil, respectivamente. Para as mulheres, essa desigualdade também é observada, com as mulheres brancas alcançando um salário médio de R$4,1 mil no mesmo período, em contraste com os salários médios de R$2,2 mil para mulheres pretas e R$2,5 mil para mulheres pardas. Destaca-se, ademais, que as mulheres pretas (R$2,2 mil) continuam enfrentando uma disparidade significativa, com uma média de rendimento mensal quase 69% inferior à registrada entre os homens brancos (R$7,1 mil). Embora tenha havido um aumento gradual nos salários de trabalhadores pretos e pardos ao longo do período analisado, os dados mostram que a diferença salarial em relação aos trabalhadores brancos permanece substancial, refletindo desafios estruturais na busca por equidade salarial na economia criativa.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Fundação Itaú (2025).
[1] Os trabalhadores da economia criativa correspondem ao somatório de três conjuntos de trabalhadores: os especializados, ou seja, trabalhadores criativos que são empregados nos setores criativos (por exemplo, um músico atuando no setor de Música); os de apoio, trabalhadores que atuam nos setores criativos, mas têm ocupações que não são consideradas criativas (por exemplo, um advogado atuando no setor de Audiovisual); e os incorporados, trabalhadores que são criativos, mas que atuam em outros setores da economia (por exemplo, um designer atuando no setor Automobilístico).
[2] Esta variação registrada para o setor de Artes Cênicas deve ser avaliada com cautela. Uma vez que, a análise da série histórica mais ampliada indica ser apenas uma recomposição dos postos de trabalho para o setor, em função de uma redução pontual (-28%, com a perda de 10.970 postos de trabalho) registrada entre o 2º e 3º trimestres de 2023. Sendo que, já no 4º trimestre de 2023, o setor apresenta vertiginosa recuperação dos postos de trabalho, registrando o patamar de 46.510 trabalhadores, um aumento de 62% em relação ao 3º trimestre do mesmo ano.
[3] Reforçando que há uma baixa representatividade desses dois últimos grupos na população brasileira como um todo, o que também é expresso nas demais pesquisas censitárias oficiais.