Em abril, o Itaú Cultural divulgou uma estimativa do PIB Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (Ecic)[1]. O PIB da Ecic alcançou a participação de 3,11% no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para o ano de 2020 e, na média, entre os anos de 2012 e 2020 atingiu uma participação de cerca de 2,63%[2]. Desta forma, entende-se que os setores cultural e criativo desempenham um papel importante na atividade econômica e social do Brasil. Entre os principais componentes do indicador, se destacam a massa de salários dos trabalhadores do setor e a massa de lucros, sendo que esta última possui a maior participação no PIB da Ecic.
Este boletim, por outro lado, foca na necessidade de conhecer não somente a contribuição do setor ao PIB nacional, mas também sua contribuição ao PIB das unidades federativas. O PIB nacional, por se tratar de um agregado econômico, não fornece informações detalhadas sobre como o setor está se desenvolvendo em diferentes regiões e estados do país ou quais seriam os drivers de crescimento da sua contribuição, assim como não gera uma perspectiva de oportunidades e desafios. Entende-se por oportunidades o uso do setor como uma ferramenta para a promoção da atividade econômica; por outro ângulo, ainda entendendo o setor como uma ferramenta para o fomento da atividade econômica, os desafios estão nas unidades federativas que contam com baixa participação do setor em seus respectivos produtos. Desta forma, a contribuição da Ecic a nível de regiões ou unidades federativas pode representar mais do que os 3,11% encontrados em relação ao PIB nacional, podendo, desta forma, demonstrar um papel ainda mais representativo para os estados ou regiões que para o cenário nacional.
Participação da Ecic no PIB regional (2012-2020)
Analisando a participação da Ecic no PIB de cada região para o período 2012-2020, constata-se que a Região Sudeste tem a maior contribuição da economia criativa ao PIB, variando de 1,80% a 3,14% durante o período analisado. A Região Sul também tem uma contribuição significativa, variando de 2,12% a 3,11%. Já as regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte têm contribuições menores, variando de 0,43% a 1,90%, sendo a Região Norte a que apresenta a menor contribuição. Em geral, as regiões Centro-Oeste, Nordeste, Norte e Sul, apresentaram taxas de crescimento menores do que as regiões mencionadas anteriormente. Em 2020, todas as regiões, com exceção do Sudeste, tiveram uma redução significativa na participação da Ecic nos seus respectivos PIBs. Ao comparar as tendências de crescimento entre as variáveis "Regiões (- Sudeste)" e "Sudeste 2", sendo a primeira o conjunto das regiões do Brasil menos a Região Sudeste e a segunda uma replica da Região Sudeste, podemos observar que ambas seguiram uma tendência similar. No entanto, ao observar o final da série, nota-se que, para o conjunto de regiões, a Ecic perdeu relevância em comparação ao desempenho dessa mesma indústria na Região Sudeste.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
A taxa acumulada de crescimento para cada região ratifica o que foi observado no gráfico acima: as regiões Nordeste, Norte, Centro-Oeste e Sul apresentaram, por ordem de grandeza, menor crescimento que a Região Sudeste, gerando maior concentração da atividade cultural e criativa no sudeste do país. Em termos reais, que considera os efeitos da inflação, observa-se que o desempenho da Região Sudeste é ainda mais acentuado: teve um crescimento acumulado real de 131,10% entre 2012-2020. Este fato estilizado pode estar relacionado a uma maior centralização das rendas e atividade econômica nesta mesma região. Entre todas as regiões, a Nordeste foi a única a experienciar crescimento acumulado próximo a zero para o período.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
De acordo com o mapa a seguir, dentro das regiões, São Paulo (61%), Rio Grande do Sul (46%), Bahía (29%), Pará (44%) e Distrito Federal (36%) foram os representantes que, na média, tiveram maior participação no PIB em valor absoluto da Ecic nas regiões Sudeste, Sul, Nordeste, Norte e Centro-Oeste, respectivamente.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Participação da Ecic no PIB dos estados da Região Sudeste (2012-2020)
A tabela a seguir apresenta a contribuição da Ecic para o PIB dos estados da Região Sudeste. Considerando o ano de 2020, o período mais recente, o estado de São Paulo (3,7%) é aquele onde a Ecic desempenha um papel mais predominante, seguido por Minas Gerais (2,2%), Rio de Janeiro (1,8%) e Espírito Santo (1,2%). No entanto, em um primeiro momento, período 2012-2013, o estado de Minas Gerais (2,87%) era aquele com maior participação da Ecic em seu PIB. Em comparação a 2012, Espírito Santo e Rio de Janeiro, chegaram a 2016 com uma leva alta na participação da Ecic em seu PIB, por outro lado, São Paulo e Minas Gerais experimentaram uma queda.
Observa-se grande volatilidade na participação da Ecic no PIB dos estados do sudeste. Dita volatilidade pode ser, em parte, explicada pelos grandes eventos ocorridos na região (2014 e 2016) e o período e crises econômicas em nível nacional (2014-2015). Também é possível observar que a participação da Ecic no PIB do estado de São Paulo se mostrou mais resiliente às crises, comparativamente aos demais estados da região. Nesse estado se destacaram principalmente as indústrias de TI e desenvolvimento de software, as quais respondem, respectivamente, por 51% e 54% dos lucros dessas categorias no nível da Ecic nacional. Desta forma, testemunha-se uma concentração da atividade cultural e criativa, pelo menos em termos de produto, na Região Sudeste, sendo o estado de São Paulo o principal propulsionador dessa concentração. Apesar disso, a Ecic continua representando para os estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais um quantitativo importante, 1,8% e 2,25% respectivamente para o ano de 2020. E em termos de contribuição para a massa de lucros, o principal driver do PIB da Ecic, se destacaram os setores Desenvolvimento de Software e Jogos Digitais, Publicidade e Serviços Empresariais, Cinema, Rádio e TV, e Demais Serviços de Tecnologia da Informação.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Participação da Ecic no PIB dos estados da Região Sul (2012-2020)
Na Região Sul, a participação da Ecic no PIB dos estados seguiu uma tendência de queda ao observar-se o seu desempenho frente ao PIB nacional. O estado do Rio Grande do Sul demonstrou uma tendência de queda estável, saindo de 4,1% em 2012 para 1,74% em 2016 e 1,77% em 2020. O Paraná, por outro lado, apresentou uma tendência de alta estável, porém não muito acentuada – em 2012, a Ecic representava 1,65% do PIB do estado, em 2016 1,26% e em 2020 passou a representar 1,77%.
A contribuição da Ecic ao PIB de Santa Catarina passou por grande volatilidade, mas terminou a série histórica ganhando participação, saindo de 1,83% em 2012, passando por 1,74% em 2016 e alcançando mais que o dobro do valor inicial em 2020, 4,03%. Três setores sustentaram o progresso da Ecic em Santa Catarina: Moda e Atividades Artesanais representaram 32,9% e 20,2% do total de lucros, respectivamente; e, o setor de Desenvolvimento de Software e Jogos Digitais representou 29,1% do total de lucros da Ecic no estado. Comparado com os valores de 2012, Santa Catarina ganhou relevância na região em relação ao Rio Grande do Sul e Paraná, tendo o último sofrido a maior queda em termos de participação. Apesar de queda na participação, o estado do Rio Grande do Sul ainda é um dos que a Ecic apresenta maior desempenho no PIB do estado, superando a marca dos 3% do PIB. Dita participação é fortemente impulsionada pelos setores de Tecnologia da Informação, que lidera a composição dos lucros com um percentual de 60,2%, Moda 6,7% e Atividades Artesanais 11%.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Participação da Ecic no PIB dos estados da Região Norte (2012-2020)
Como mencionado, a Região Norte do Brasil representa no agregado a menor contribuição ao PIB da Ecic durante o período 2012-2020. No entanto, nota-se que no início da série histórica, todos os estados da região, com exceção de Tocantins, experimentaram crescimento no período 2012-2015. Após 2015, testemunha-se uma tendência universal de queda na região. Como agravante, diferentemente de outras regiões, a Região Norte, assim como a centro-oeste, foram as únicas que não apresentaram estados revertendo a tendência de queda pós-recessão econômica.
Os estados com perda mais acentuada foram Acre, Roraima e Tocantins, que perderam mais de 50% da sua participação inicial. Como mencionado anteriormente, o movimento de centralização das atividades cultural e criativa na Região Sudeste parece ter impactado principalmente a Região Norte. A tabela a seguir mostra que as taxas de crescimento nominal e real da participação da Ecic no PIB dos estados nordestinos foram predominantemente negativas durante o período analisado. Isso indica que, mesmo quando houve aumento nominal na participação de alguns estados, esses aumentos foram superados pela inflação, resultando em uma queda real na participação desses estados na contribuição da Ecic ao PIB brasileiro. No geral, os estados da região apresentam pouca participação da Ecic em seus PIBs.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Participação da Ecic no PIB dos estados da Região Nordeste (2012-2020)
A tabela para a Região Nordeste mostra a contribuição da Ecic ao PIB dos estados do nordeste. Em geral, observa-se que houve flutuações significativas na participação dos estados do nordeste ao longo desses anos, com algumas mudanças na liderança dos estados com maior participação. Além disso, as taxas de crescimento real dessas participações variaram bastante ao longo do período analisado. Pernambuco e Bahia têm as maiores participações em 2012, com 1,26% e 1,48%, respectivamente; enquanto o Maranhão tem a menor participação, com 0,46%. No entanto, em 2014, a Bahia ultrapassa Pernambuco e se torna o estado com a maior participação, com 1,55%, enquanto o Maranhão ainda tem a menor participação, com 0,74%. Quando consideramos as taxas de crescimento real, vemos que todos os estados tiveram um crescimento positivo em 2013 e 2014. Em 2015, no entanto, com exceção de Alagoas e Rio Grande do Norte, todos os estados tiveram um crescimento real negativo, consequência da recessão econômica enfrentada pelo Brasil.
No período entre 2016 e 2020, é possível observar uma oscilação significativa entre os estados, acompanhada por uma tendência de crescimento real na maioria dos anos. Pernambuco e Bahia foram os estados da Região Nordeste onde a Ecic apresentou maior participação. Por outro lado, os estados do Maranhão e Piauí apresentaram os valores mais baixos de representação. Apesar dos estados do nordeste terem experimentado taxas reais de crescimento no período mencionado, o ano de 2020 apresentou crescimento negativo para todos os estados; exceto Rio Grande do Norte, revertendo, em várias ocasiões, os ganhos dos últimos anos. Os estados do Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia foram os que contaram com maior participação da Ecic em seus PIBs. No caso do Rio Grande do Norte, estado com maior PIB da Ecic na região em 2020, 41,9% dos lucros criativos se concentraram em Moda. Demais Serviços de Tecnologia da Informação (16,5%), Cinema, Rádio e TV (11,8%) e Publicidade (11,6%) são os outros mais representativos no estado. Em Pernambuco, 56,2% dos lucros criativos se concentraram nas categorias de Tecnologia de Informação, Publicidade (12,5%) e Moda (12,2%). No caso da Bahia, Demais Serviços de Tecnologia da Informação (25,5%), Desenvolvimento de Software e Jogos Digitais (16,7%) e Publicidade (21,1%) foram os destacados em termos de representatividade no lucro criativo.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Participação da Ecic no PIB dos estados da Região Centro-Oeste (2012-2020)
A tabela para a Região Centro-Oeste mostra a participação da Ecic no PIB dos estados da Região Centro-Oeste entre 2012 e 2020. O Distrito Federal teve a maior participação em todo o período, com destaque para o ano de 2012, quando atingiu uma contribuição significativa de 2,43%. Em contraste, Mato Grosso do Sul tem a menor participação durante o período inicial 2012-2016, com destaque para 2015, quando atingiu apenas 1,08%. As taxas reais de crescimento da participação no PIB brasileiro, que levam em conta a inflação, apresentam uma tendência mais clara de queda em todo o período – com exceção de Goiás em 2014, que teve um aumento real significativo em sua participação no PIB brasileiro. A maioria dos estados da região experimentou uma diminuição significativa em sua participação real no PIB brasileiro em 2015 e 2016. No entanto, nota-se que isso não é uma exclusividade desses anos, já que a tendência geral é de queda na taxa de crescimento real da participação.
Para o período 2016-2020, os dados mostram que Goiás liderou a Região Centro-Oeste, com uma participação da Ecic de 1,51% em seu PIB. No entanto, todos os estados apresentaram uma queda na participação nominal em relação ao ano anterior, com destaque para o Distrito Federal, que teve uma queda de 71,19%. A tendência acentuada de queda experimentada pelos estados da Região Centro-Oeste pode ser explicada pelas ainda duradouras consequências da recessão econômica e das políticas de austeridade observadas durante o período. Como pode ser observado durante o período completo, em todos os estados da Região Centro-Oeste a Ecic perdeu desempenho no PIB dos estados. Assim como se observou no Sudeste e Sul, embora neste último em menor grau, os setores de TI e Desenvolvimento de Software e Jogos Digitais foram alguns dos grandes impulsores dos lucros. Nesta região, em todos os estados, esses foram os setores mais expressivos, em termos de maior representatividade na massa de lucros; com exceção de Goiás, que teve a Moda como setor com maior lucro.
Fonte: Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural (2023).
Considerações finais: panôrama da Ecic nas regiões brasileiras
Em suma, à nível nacional, a participação da Ecic no PIB dos estados seguiu uma tendência de queda no período, com exceção do Sudeste. É possível notar que a participação da Ecic no PIB do estado de São Paulo mostrou-se mais resiliente do que nos outros estados da região. Essa maior resiliência pode estar relacionada a fatores como a diversidade da economia paulista, maior renda, atividades econômicas e o maior número de empresas atuantes no setor cultural e criativo.
[1] Acesse aqui o Boletim sobre o PIB Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (Ecic) do Observatório Itaú Cultural, lançado em Abril/2023.
[2] Para o período, o indicador se manteve na marca de 2,5% a 2,8%, à exceção de 2015 e 2020, registrando os valores de 3,04% e 3,11%.